De que adianta tanta informação se as pessoas não sabem como buscar?

Nunca tivemos tantas informações, tanto conhecimento à disposição. A internet dá voz a todos e armazena estudos, pesquisas, notícias, ideias e criações em abundância, ao alcance de um clique. Todo esse potencial, porém, pode estar sendo desperdiçado ou, no mínimo mal aproveitado porque as pessoas não sabem os atalhos para encontrar o que precisam. De […]

Nunca tivemos tantas informações, tanto conhecimento à disposição. A internet dá voz a todos e armazena estudos, pesquisas, notícias, ideias e criações em abundância, ao alcance de um clique. Todo esse potencial, porém, pode estar sendo desperdiçado ou, no mínimo mal aproveitado porque as pessoas não sabem os atalhos para encontrar o que precisam. De estudantes que não sabem usar o Google ao desconhecimento do milagroso Ctrl+F, aparentemente não sabemos navegar no mar de informações, como informam estudos recentes.

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Dan Russell, antropólogo do Google, disse ao The Atlantic que, baseado em pesquisas que faz com usuários comuns, 90% dos americanos não sabe da existência da busca interna em páginas web e documentos, nosso bom e velho amigo Ctrl + F. Em pesquisas de campo, ele comentou ter cansado de ver pessoas lendo vastos documentos em busca de informações específicas e, depois de ensinadas o truque mágico, ficaram boquiabertas com o tempo que desperdiçavam fazendo tudo do jeito “manual”.

Outra pesquisa, essa realizada pelo ERIAL (Ethnographic Research in Illinois Academic Libraries), foi mais fundo na questão. Nela, os pesquisadores, liderados por Steve Kolowich, constataram que o desempenho dos estudantes dos EUA na utilização de mecanismos de pesquisa é ainda pior do que se imaginava.

E os dados são preocupantes mesmo. Apenas 10% dos estudantes se deram ao trabalho de formular consultas com palavras-chave adicionais a fim de afunilar os resultados. Eles se mostraram muito dependentes do Google mesmo quando o assunto a ser pesquisado era de âmbito acadêmico e, ainda assim, a maioria não compreende a lógica do buscador, nem foi apta a realizar pesquisas que gerassem bons resultados. As buscas ou traziam poucas páginas, ou o oposto, muitas para analisar, e, em vez de outras abordagens, os estudantes simplesmente deixavam o assunto em questão de lado e partiam para outro mais fácil.

A pesquisa sugere que o problema é mais amplo, e pode indicar que a geração-Google tem um problema em buscas como um todo. Se é difícil caçar coisas na internet, imagine essa galera sem computador, tendo que ir à biblioteca para pesquisar em livros, enciclopédias, periódicos e outros materiais de papel. Ou buscar em um relatório a informação essencial para o chefe, ou passar o olho em um processo para identificar inconsistências.

Parece loucura hoje, mas o Google não é tão velho assim. Boa parte da minha vida escolar foi sem o auxílio da Internet — e, hey, eu também não sou tão idoso assim!Todo o meu esforço offline em buscas ajuda na hora de formular consultas hoje, a usar abordagens diferentes, parâmetros e todos os recursos que os buscadores oferecem.

No livro Mantenha seu cérebro vivo, Lawrence C. Katz gasta 142 páginas para dizer, em resumo, que nosso cérebro é igual aos músculos do resto do corpo: se não for exercitado, definha. O livro traz diversos exercícios, alguns inusitados, que estimulam a mente a agir de modo diverso ao que estamos acostumados. O mesmo poderia ser aplicado na educação dos jovens para uso do computador, da Internet. É “pensando fora da caixa” que se consegue bons resultados no Google. Na vida, para ser mais exato.

Se você se identificou com a galera sem intimidade com o Google, a gente ajuda. Confira uma listinha de operadores e truques que facilitam a descoberta de resultados relevantes e que funcionam na maioria dos buscadores:

 

site:gizmodo.com.br
Restringe os resultados da busca ao domínio em questão. Os algoritmos dos buscadores mais populares dão uma surra em, basicamente, a maioria dos sistemas internos/próprios, pois eles consideram diversos fatores circunstanciais (no Google, mais de 200) na hora de hierarquizar as páginas.

OR ou AND
Esses são conectivos lógicos que fazem exatamente o que dizem (em inglês, no caso): OR busca por dois ou mais termos na mesma consulta, e AND restringe os resultados àqueles que apresentam obrigatoriamente ambos os termos relacionados.

* (asterisco) e “” (aspas)
O asterisco é um “charada”: numa busca, ele significa “qualquer coisa”. Claro que você não irá usá-lo sozinho, mas junto a outros termos tem o poder de trazer à tona resultados bastante refinados. Já as aspas devem ser usadas com duas ou mais palavras e servem para obrigar o buscador a retorná-las na exata ordem em que foram dispostas. Eles, na realidade praticamente todos os operadores, podem ser combinados para buscas ainda mais eficientes. Experimente “quem matou *?” e veja como isso é legal.

filetype:pdf
O operador filetype é muito poderoso: ele permite filtrar resultados para um formato específico de arquivos. Google, Bing e Yahoo! indexam muito mais do que páginas web; eles têm documentos, imagens e até músicas (!). É muito útil para encontrar manuais de equipamentos, por exemplo; basta fazer uma pesquisa pela marca e modelo e, junto, colocar o operador filetype:pdf.

Os buscadores mais populares ainda funcionam como calculadora, conversor de medidas e moedas, dão previsão do tempo, horários do cinema e possuem uma série de recursos para trabalhar com meta informações dos resutlados — título da página, link, páginas relacionadas etc. E tem mais coisa, acredite.

Tudo isso suscita uma importante questão: o que nossos estudantes estão fazendo nos laboratórios de informática, cada vez mais fáceis de serem encontrados nas escolas brasileiras? Esse tipo de educação não deveria ser incluída na matriz curricular? Existe uma tentativa de vigilância e repressão constante (e totalmente válida, diga-se) ao plágio, à cópia integral na entrega de trabalhos. Mas não seria melhor para todos se, em vez de simplesmente reprimirem esse comportamento, nossos estudantes fossem instruídos sobre a forma certa de fazer? Se o conhecimento é tão abundante e a decoreba cada vez mais irrelevante, não estaria na hora de dar mais ênfase a isso nas escolas?

[foto: privatenobby/Flickr]

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