Demissões em tech chegam a 200 mil em 5 meses e já superam 2022

O número é maior que o registrado em todo o ano de 2022, que terminou com 164.709 desligamentos. Confira a reportagem completa do Giz Brasil
Demissões em tech chegam a 200 mil em 5 meses e já superam 2022
Imagem: Alpha Photo/Flickr/Reprodução

De janeiro a maio de 2023, o setor de tecnologia já registrou 199.759 layoffs, termo usado para definir as demissões em tech em todo o mundo. O número nestes cinco meses é muito maior que o registrado em todo o ano de 2022, que terminou com 164.709 desligamentos. Mais demissões em massa que 2020 e 2021 juntos. 

Os dados estão na central de levantamento Layoffs.fyi, atualizado diariamente desde a pandemia. Uma contagem individual do site TechCrunch mostra que o mês de janeiro ainda é o recordista em cortes: foram mais de 84,7 mil demissões. 

Essa tendência no mercado de tecnologia começou durante a pandemia, quando startups demitiram seus funcionários nos primeiros meses da instabilidade caótica que tomou conta do planeta. 

Até o final de 2022 e início de 2023, gigantes tech, como Meta, Twitter, Microsoft e Google, também entraram na onda de demissões. A última da vez foi a Meta, que na última semana fez a terceira demissão em massa em um ano

Nos comunicados oficiais, a justificativa das empresas é a mesma: citam o ambiente econômico e a necessidade de aumentar a eficiência e a lucratividade. Se isso é garantia, ou não, certamente os cortes massivos não são novidade no mercado de trabalho. 

“Esse movimento já existe há bastante tempo, e ocorre com mais intensidade em momentos adversos e de crise”, explicou Diego Costa Mendes, professor do Departamento de Administração e Contabilidade da UFV (Universidade Federal de Viçosa), ao Giz Brasil

O que rolou? 

Na pandemia, as empresas de tecnologia viveram um grande boom econômico. Grandes companhias, como Google e Microsoft, quase dobraram de valor na Nasdaq depois que o Fed, o Banco Central dos EUA, fixou os juros em 0%. 

Ao mesmo tempo, a rápida transformação forçada pelos lockdowns aumentou  substancialmente o consumo de eletrônicos. Esse crescimento favoreceu o setor de tecnologia, que fez mais contratações que o esperado. 

Mas o clima começou a mudar a partir de 2022, quando a vacina permitiu que as pessoas voltassem às ruas. Enquanto isso, os conflitos na Ucrânia reacenderam preocupações sobre o abastecimento de energia na Europa, a inflação aumentou em todo o mundo e os países se viram endividados pós-Covid. 

Nada disso ajudou e o setor tech se transformou em empresas com variações drásticas em seus valores de mercado. Apesar das grandes reservas das big techs, a receita foi menor, o que virou motivo imediato para reduzir a massa salarial. 

Prejuízo a longo prazo

Um artigo publicado por pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em fevereiro, aponta que estratégias focadas em demissões raramente funcionam a médio e longo prazo. 

Há evidências científicas de que layoffs tornam-se disfuncionais porque afetam o desempenho das organizações. Primeiro pelos custos, diretos e indiretos, associados às saídas. Depois, porque leva à perda de capital humano: ou seja, saem funcionários que se desenvolveram, têm experiência e treinamento, o que ocasiona uma perda de memória organizacional. 

Além disso, quem fica não permanece por muito tempo. Um relatório da empresa de análise canadense Visier, do começo do ano, mostra que a demissão de apenas 1% da força de trabalho precede, em média, um aumento de 31% na rotatividade da companhia. Ou seja, a escassez inesperada de pessoal prejudica a eficiência da rotina de trabalho. 

Um exemplo recente é a Microsoft. Mensagens vazadas na terça-feira (23) mostram funcionários relatando que o local virou “um péssimo lugar para trabalhar” e expressando seu descontentamento abertamente depois dos layoffs. 

“Sempre que uma organização liga com demissões em massa, é preciso olhar para quem fica e minimizar os danos. Sabemos que a pandemia fez com que algumas reduções fossem inevitáveis, mas deslegitimar boas práticas demissionais traz um prejuízo gigante para a organização”, pontuou Mendes. 

Por esse ponto de vista, as demissões devem transformar – de alguma forma – o mercado global de tecnologia – seja nas corporações ou nas startups. “O layoff é uma decisão”, diz o artigo da FGV. “Geralmente com um viés de curto prazo que afeta a vida das pessoas e o futuro da organização”. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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