Smartphones estariam deixando jovens mais deprimidos, sugere estudo

Cientistas descobriram que adolescentes e jovens adultos são únicos grupos etários com aumento significativo em depressão em relação à década passada
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Adolescentes e jovens adultos estão no meio de uma crise de saúde mental única, sugere nesta quinta-feira (14) um estudo, que descobriu que as taxas de episódios depressivos e aflição psicológica severa aumentaram drasticamente entre esses grupos nos últimos anos, enquanto a movimentação, seja positiva ou negativa, mal aconteceu para faixas etárias mais avançadas.

A autora principal do estudo, Jean Twenge, professora de psicologia de 47 anos da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, passou grande parte de sua carreira estudando as atitudes e crenças das gerações mais novas. Mais recentemente, em 2017, Twenge publicou um livro de ciência popular apresentando seu argumento central de que adolescentes e jovens adultos em amadurecimento estão especialmente solitários e desconectados, graças, em parte, à crescente abundância das redes sociais e de dispositivos como smartphones.

Seu livro é intitulado iGen: Why Today’s Super-Connected Kids Are Growing Up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy—and Completely Unprepared for Adulthood (em tradução livre, “iGen: Por Que as Crianças Superconectadas de Hoje Estão Crescendo Menos Rebeldes, Mais Tolerantes, Menos Felizes — e Completamente Despreparadas Para a Vida Adulta).

O livro e o trabalho de Twenge têm seus detratores, que argumentam que sua teoria é apoiada por evidências fracas e escolhidas a dedo ou que outros fatores além dos smartphones podem ser os verdadeiros culpados por trás de um aumento legítimo da depressão adolescente. Um novo estudo, publicado no Journal of Abnormal Psychology e escrito por Twenge e outros, parece pronto para refutar pelo menos algumas dessas críticas.

Twenge e sua equipe analisaram dados da Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde dos EUA, um levantamento nacionalmente representativo dos hábitos de vida dos americanos. No total, eles analisaram mais de 600 mil americanos de diferentes faixas etárias que participaram da pesquisa de 2005 a 2017.

Entre esses anos, eles acompanharam a taxa de episódios de transtorno depressivo maior e aflição psicológica grave, medida por como as pessoas responderam a questões como se eles já tinham se sentido “tão tristes ou deprimidos que nada conseguia os animar”. Eles também olharam para as taxas de desfechos relacionados ao suicídio, como a frequência com que as pessoas pensavam sobre suicídio, formavam planos para realizá-lo e, de fato, tentavam cometer suicídio.

Para quase todas as faixas etárias acima de 18 anos, a taxa de aflição severa vivenciada no mês anterior aumentou entre 2008 e 2017 (2008 foi o primeiro ano em que as taxas de aflição em adultos foram monitoradas). Mas esse aumento foi muito mais drástico entre os jovens adultos.

Em 2008, por exemplo, cerca de 5% dos adultos entre 30 e 34 anos tiveram aflição grave, enquanto 6,5% do mesmo grupo disseram o mesmo em 2017 — um salto de 33%. Enquanto isso, pouco mais de 8% das pessoas de 20 e 21 anos de idade tiveram aflição grave em 2008, em comparação com 14,4% em 2017 — um aumento relativo de 78%.

Um padrão parecido se repetiu em episódios de transtorno depressivo maior e desfechos relacionados ao suicídio: adolescentes e jovens adultos tiveram taxas mais altas de depressão em 2017 do que tiveram antes, enquanto a taxa de depressão para a maioria dos grupos etários acima de 30 anos foi menor em 2017 em comparação a 2009 (os idosos foram a exceção).

Pessoas mais jovens tendem a ter mais depressão e outros problemas de humor do que pessoas mais velhas. Mas os resultados sugerem que os jovens de hoje estão lidando com mais depressão e angústia do que os jovens de uma década atrás. E, embora parte dessa melancolia possa ser causada por fatores culturais que afetam a todos até certo ponto, ela atinge os mais jovens com mais força.

O estudo não consegue fornecer nenhuma evidência direta sobre o que está causando essa disparidade, o que é uma crítica comum ao trabalho do Twenge. Mas, de acordo com a autora, ele parece excluir que fatores como a Grande Recessão sejam especialmente relevantes.

“Se causas econômicas fossem as culpadas, não faria muito sentido que a depressão atingisse seu pico em 2017, quando a taxa de desemprego estava em níveis recordes, e fosse menor durante os anos de recessão, quando o desemprego era alto”, ela disse ao Gizmodo. “Além disso, se os fatores econômicos fossem responsáveis, você esperaria que o aumento fosse maior entre os adultos em idade ativa, que são diretamente afetados por mudanças no mercado de trabalho. Em vez disso, são os mais jovens que mostram os maiores aumentos na depressão, incluindo os de 12 a 17 anos, que são poupados dos efeitos diretos da preocupação de sustentar uma família em tempos de pobreza econômica.”

Twenge e seus coautores argumentam que, como esse aumento na depressão começou em 2012, na época em que os smartphones começaram a se tornar um acessório universal, eles e dispositivos similares devem estar desempenhando um grande papel. Eles podem estar tornando ainda mais difícil para adolescentes e jovens dormir — a falta de sono é um fator bem conhecido de saúde mental mais precária — ou limitando a quantidade de interação social face a face que as pessoas têm com seus amigos e familiares. E, embora esses mesmos efeitos também possam estar acontecendo com millennials e gerações mais velhas, os autores dizem que eles seriam mais influentes para pessoas em seus anos de formação.

Independentemente das causas exatas, é sabido que adolescentes deprimidos e suicidas são mais propensos a sofrer como adultos, então essa grande onda de depressão entre os jovens pode causar ondulações anos ou até mesmo décadas depois. E, como não parece haver um fim para o aumento, pelo menos por ora, as coisas podem piorar ainda mais.

Twenge não desconsidera o valor da tecnologia, mesmo em ajudar as pessoas a permanecerem mentalmente saudáveis, mas ela disse que mais trabalho deveria ser feito para entender como esses dispositivos podem estar afetando os jovens e como prevenir melhor esse dano. No futuro imediato, disse ela, todos nós, mas especialmente os adolescentes, provavelmente poderíamos deixar nossos smartphones fora do quarto, desligar nossos aparelhos uma hora antes de dormir e limitar nosso tempo de tela fora do trabalho ou da escola a duas horas por dia ou menos.

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