Depressão sazonal: saiba como o inverno do El Niño pode afetar o humor
O inverno deste ano está atípico — e a culpa é do El Niño. O fenômeno climático está afetando fortemente a estação, elevando as temperaturas em todo o planeta e modificando os padrões de chuva.
Com isso, o sul do Brasil está enfrentando um período com grandes volumes de chuva, com a possibilidade de novo ciclone extratropical em breve, e as regiões norte e nordeste estão sob risco de seca.
Segundo um comunicado divulgado esta semana pelo instituto MetSul, este El Niño pode ser o episódio mais agudo dos últimos 25 anos, caracterizando um “Super El Niño”. O relatório diz que o aumento da temperatura da superfície do mar aumento, esperado em 1,1º C, saltou para pouco mais de 1,4º C no Oceano Pacífico.
Nos últimos dias, ocorreu um choque térmico preocupante na região Sul do país, com variações extremas de temperatura em poucos dias. No início da semana passada, fez muito frio em algumas cidades do Rio Grande do Sul, que registraram temperaturas máximas próximas dos 10° C.
Contudo, o calor voltou muito rápido, mesmo no auge do inverno. Na última sexta-feira (21), os termômetros de alguns municípios chegaram a subir para 30°C de máxima, como em Pinhal Grande, na parte central do estado. Em Porto Alegre, capital gaúcha, a máxima foi de 27ºC neste dia, sendo que esta semana já começou com temperaturas mais baixas..
Quando o tempo está nublado, chuvoso ou muito frio, é normal ficarmos tristes, abatidos ou até estressados. Se você se sente assim, isso pode ser resultado da depressão sazonal. Trata-se de uma condição emocional que possui uma conexão direta com o clima. Ela não é uma condição por conta própria, mas é um dos muitos especificadores utilizados para pontuar as variações do transtorno depressivo.
A baixa luminosidade dos dias no inverno, especialmente em momentos nublados, faz com que as pessoas se sintam mais desanimadas e irritadas nesse período do ano. Em países muito gelados, onde os dias são muito curtos na estação, como a Suécia e outros países nórdicos, há uma maior taxa de depressão na população, conforme apontam alguns estudos.
Mas a depressão sazonal, ou transtorno afetivo sazonal (SAD), pode ocorrer também no Brasil, especialmente no inverno. Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Psicologia Médica da King’s College, em Londres (Reino Unido), mostra que em países tropicais, como o Brasil, uma média de 1% da população é afetada pela depressão sazonal, equivalente a quase 2 milhões de pessoas.
Como o clima afeta a saúde mental?
A causa da depressão sazonal não é o clima frio, em si. Por isso, mesmo no inverno do El Niño, mais calor do que o normal em diversas regiões, é preciso ficar atento a esse problema. O principal agravante é a falta de exposição ao sol, seja pelo tempo nublado, seja pelos dias mais curtos durante o inverno.
Tudo isso interfere na produção de serotonina. Conhecido como hormônio do prazer, uma de suas funções é regular o humor. Assim, baixos níveis de serotonina resultam em humor triste prolongado, mudanças nos hábitos alimentares, dificuldade de concentração, irritabilidade, fadiga constante e insônia.
Portanto, a desregulação na produção desse hormônio é um fator de risco para o desenvolvimento da depressão. A ausência de raios solares também aumenta a produção do hormônio do sono, a melatonina.
O excesso de melatonina no organismo causa sonolência diurna, sensação de cansaço, dor de cabeça e alterações de humor. Quando prolongados, esses sintomas podem levar à depressão.
A deficiência da vitamina D no organismo também é um agravante. Atualmente, com o formato de trabalho remoto, boa parte das pessoas fica em casa, ou mesmo dentro de um escritório a maior parte do tempo. Assim, deixamos de tomar a quantidade necessária de sol para estimular a produção de serotonina e dessa vitamina essencial.
Cansaço constante, dor no corpo, queda de cabelo, baixa imunidade e humor triste são alguns dos fatores ligados à falta de vitamina D no corpo.
Outra questão é a redução das atividades físicas e do convívio social, já que a tendência é passarmos mais tempo dentro de casa, quando está frio. Isso contribui ainda mais para alimentar o desânimo e a melancolia.
Sintomas e diagnóstico da depressão sazonal
Os primeiros sinais da depressão sazonal são a mudança “súbita” de humor e a falta de energia e de interesse. A pessoa perde a vontade de fazer até mesmo coisas que gosta; este é um dos sintomas característicos da depressão.
As pessoas vão perdendo a vontade de cuidar de si mesmas, trabalhar, interagir com amigos e familiares e cuidar da própria saúde. Outros sintomas comuns são tristeza prolongada e sem motivo aparente, dificuldade para dormir, falta de energia para realizar atividades do dia a dia, aumento significativo de pensamentos negativos, sensação de inutilidade e alterações nos hábitos alimentares.
Ao perceber estes sintomas e a prolongação da tristeza atípica, busque uma avaliação psicológica. A terapia ou a psicoterapia são as melhores formas de identificar o problema e, assim, receber a indicação do tratamento mais adequado, com a ajuda de profissionais.
Como evitar
Fazer um esforço extra no inverno para se exercitar e marcar encontros com amigos podem ser caminhos para afastar a melancolia. Ao sair mais na rua e ficar menos no escuro, temos mais chances de manter um humor feliz. Tomar sol diariamente e adotar hábitos saudáveis também são boas dicas.
Escolha horários em que os raios solares são menos intensos, para evitar o excesso de exposição e os danos à pele, como no início da manhã ou no final da tarde. Mesmo que por alguns minutos, tomar um pouco de sol todos os dias faz toda a diferença para a saúde mental. Além das atividades físicas, a alimentação equilibrada também é importante.