Descoberta interação entre humanos e preguiças gigantes na Era do Gelo no Brasil
Três ossos de preguiça gigante encontrados no abrigo rochoso de Santa Elina, no Mato Grosso, provavelmente foram perfurados e polidos por mãos humanas. Tudo isso para servirem como adornos pessoais – provavelmente pingentes. É o que descobriu um estudo que envolveu pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e outras instituições.
Os pingentes teriam entre 25 e 27 mil anos. Eles são os únicos ornamentos pessoais feitos com osso de preguiça gigante descobertos por arqueólogos até hoje. São também os mais antigos já encontrados nas Américas – e apoiam a hipótese de que humanos já estavam por aqui há 25 mil anos ou mais.
Nosso continente foi o último a ser habitado por humanos modernos, mas quando exatamente isso aconteceu ainda é objeto de discussão. Alguns especialistas não acreditam que a ocupação aconteceu mais de 16 mil anos atrás. Mas existem algumas evidências recentes – como esses pingentes e a descoberta de pegadas humanas de 23 mil anos no México, por exemplo – que apontam para uma ocupação mais antiga.
Os ossos dos possíveis pingentes são osteodermas (placas ósseas embutidas na pele da preguiça) de uma espécie extinta conhecida como Glossotherium phoenesis. Estas preguiças de 600 kg eram relativamente pequenas (por incrível que pareça) e comuns no Brasil. Os cientistas acreditam que elas teriam habitado o local junto aos humanos. O bicho herbívoro não teria por quê atacar humanos; mas não dá para saber se nossos ancestrais se sentiam ameaçados pela preguiça.
Análise dos ossos de preguiça
Para chegar à conclusão, a equipe de pesquisa analisou os osteodermos modificados, outros ossos de preguiça gigante e ossos de seu análogo moderno mais próximo – osteodermos de tatu – para investigar a confecção dos pingentes. Então, os pesquisadores encontraram marcas microscópicas que permitem afirmar: alguém poliu os ossos à mão antes que esles virassem fósseis.
“Podemos saber isso [que os ossos foram perfurados antes de virar fósseis] porque um osso fresco tem propriedades químicas e físicas diferentes de um fóssil”, explicou o paleontólogo Carlos Cisneiros, no Twitter. “Ele é mais mineralizado, mais pesado e quebra de maneira diferente. Quebrar, raspar e perfurar esses ossos produz marcas diferentes.”
Os arqueólogos não dataram os pingentes diretamente para não danificá-los. Então, determinaram que os materiais têm 25 mil anos analisando sedimentos, carvão e outros ossos de preguiça gigante da mesma camada sedimentar em que os pingentes estavam.
O estudo foi publicado nesta quarta-feira (12), na revista científica Proceedings of the Royal Society B.