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Descoberta de novas pegadas de dinossauros sugere que a Escócia era um verdadeiro Jurassic Park

Paleontologistas na ilha de Skye, na Escócia, descobriram cerca de 50 pegadas de dinossauros, sugerindo uma grande diversidade ecológica na época.

Representação artística de dinossauros que viviam na ilha de Skye durante o período jurássico. Imagem: Jon Hoad

Os paleontologistas que trabalham na ilha de Skye, na Escócia, descobriram cerca de 50 pegadas de dinossauros, incluindo marcas de trilhas compatíveis com o estegossauro. A descoberta aponta para a enorme diversidade ecológica da região há cerca de 170 milhões de anos.

O fato de a Escócia ter hospedado uma grande variedade de dinossauros durante o período jurássico pode ser uma surpresa, dado o clima temperado da região hoje.

“A Escócia Jurássica não era nada como a Escócia moderna”, explicou Steve Brusatte, paleontologista da Universidade de Edimburgo e coautor do novo estudo, em um e-mail para o Gizmodo.

Naquela época, a Escócia ainda fazia parte de uma ilha, mas a região era quente e úmida, com um clima subtropical semelhante à Flórida ou à Espanha hoje, disse Brusatte. Os dinossauros caminhavam pelas praias e lagoas, deixando pegadas que foram fossilizadas ao longo do tempo. Hoje, rochas esculpidas por rios antigos estão lentamente revelando esses tesouros fossilizados ocultos, graças aos processos lentos e constantes de erosão.

Em geral, fósseis do Jurássico Médio (164 a 174 milhões de anos atrás) são raros, o que é uma pena, dada a forma como os dinossauros se espalharam e se diversificaram durante esse período crítico. De fato, esse período testemunhou os primeiros pássaros, os primeiros tiranossauros e estegossauros e o surgimento de gigantescos saurópodes, com pescoço e cauda compridos.

Daí a importância da ilha de Skye – localização da nova trilha de pegadas – para os paleontologistas.

Steve Brusatte e o aluno de doutorado Paige dePolo, que liderou a pesquisa, com fósseis de rastros de dinossauros na ilha de Skye, na Escócia. Imagem: Steve Brusatte

A nova pesquisa, liderada por Paige dePolo da Universidade de Edimburgo e publicada hoje no PLOS One, descreve duas novas trilhas de dinossauros contendo cerca de 50 pegadas, expondo um ecossistema diverso do Jurássico Médio como existia há 170 milhões de anos. As trilhas foram encontradas em um local chamado Brothers’ Point, que já havia produzido outras pegadas de dinossauros. Brusatte disse que os novos locais estão abaixo da linha da maré em um promontório de rochas que se estende para o Atlântico, e as ondas batem neles todos os dias, o que dificulta a detecção.

Brusatte, que liderou a equipe de campo e é o supervisor de doutorado de dePolo, disse que um dos locais foi descoberto pelo brasileiro Paulo Pereira, um estudante visitante de doutorado na época.

“Acho que esse projeto é um excelente exemplo de como os estudantes estão fazendo tantas descobertas importantes e realizando um trabalho inovador hoje em dia”, disse Brusatte ao Gizmodo.

As trilhas Deltapodus, que são indicativas de estegossauros. Imagem: Steve Brusatte

Entre as pegadas mais emocionantes descobertas está um morfotipo conhecido como Deltapodus. Os paleontologistas – um grupo cuidadoso que não gosta de tirar conclusões precipitadas – abstêm-se de descrever imediatamente uma pegada ou marca de mão como pertencente a uma espécie específica, e preferem atribuir designações exclusivas, propondo candidatos prováveis ​​em termos de proveniência. No caso de Deltapodus, esse morfotipo está associado a estegossauros  ou dinossauros do tipo estegossauro – bestas de quatro patas com aquelas placas icônicas em forma de diamante nas costas.

Este é o primeiro registro de Deltapodus na ilha de Skye, e agora eles são uma das pegadas mais antigas de Deltapodus no registro fóssil. Os estegossauros, como sugerem essas pegadas, provavelmente eram membros do ecossistema Jurássico Médio da Escócia.

“Parece que os estegossauros estavam começando a diversificar e prosperar cerca de 170 milhões de anos atrás – uma época em que os dinossauros estavam florescendo, mas que é registrada por poucos sítios fósseis em todo o mundo”, disse Brusatte.

Outras pegadas encontradas em Brothers’ Point incluem trilhas “feitas inequivocamente” por terópodes carnívoros de duas pernas, explicou Brusatte, mas outras marcas de três dedos eram mais difíceis de discernir, possivelmente originárias de outros carnívoros ou mesmo de um parente antigo de herbívoros bico de pato, de acordo com a pesquisa. Serão necessárias descobertas futuras para classificações mais precisas.

Essas novas trilhas, junto com outras encontradas anteriormente na ilha de Skye, mostram que a ilha era um “Jurassic Park da vida real”, disse Brusatte, apresentando “grandes, pequenos, carnívoros, herbívoros, com pescoços gigantes, com placas nas costas, vivendo juntos, prosperando”, disse ele.

A ilha de Skye, como atesta a nova pesquisa, está se tornando um dos lugares mais importantes para os paleontologistas que procuram desvendar os mistérios do período jurássico. Eles só precisam se lembrar de trazer seus kilts.

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