Pesquisadores norte-americanos, ao lado de brasileiros das universidades Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte (PUC-BH) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desvendaram o mistério do canto ultrassônico do beija-flor preto da cauda branca (Florisuga fusca), que vinha sendo alvo de estudos dos cientistas desde os anos 1970.
O beija-flor brasileiro, endêmico da Mata Atlântica, é o único a apresentar uma vocalização aguda acima do limite audível para os humanos. Essa frequência sonora é comum entre os mamíferos, como morcegos e cetáceos (mamíferos marinhos), mas não entre aves.
Enquanto os Florisuga estudados cantavam em uma média de 11,8 quilohertz de frequência, a maioria das aves canta entre 0,5 a 6 kHz, com a média de 2 a 3 kHz. A faixa audível para o ser humano vai de 0,2 a 20 kHz.
Os pesquisadores observaram 40 aves e concluíram que a frequência era única da espécie, o que facilita a comunicação. “Eles cantam em uma faixa que, em geral, outras aves não vão ouvir. E isso pode ser interessante, eles podem ocupar uma faixa em que a comunicação deles não é interrompida”, disse Cláudio Mello, neurocientista líder da pesquisa, à Folha de S. Paulo.
Mello explica que a frequência mais alta viaja em ondas mais curtas, indicando uma comunicação a curta distância. “Estamos analisando agora os dados coletados para obter a resposta de qual a distância em que o canto chega. E também se os filhotes conseguem ouvir os pais.”
O próximo passo dos cientistas é estudar a anatomia interna do Florisuga e descobrir as possíveis adaptações em suas cordas vocais e no ouvido interno. A pesquisa ainda deve passar por testes em outros locais onde vivem pássaros da espécie, para entender se o ensinamento se transmite entre as gerações.