Descobrindo a velocidade máxima do Twitter

Quando criança, eu costumava ir a um parque de diversões que tinha uma montanha russa que fazia um trajeto circular enquanto músicas rápidas tocavam em um conjunto gigantesco de caixas de som. Cada vez que o carrinho dava algumas voltas no percurso, o responsável pela operação do brinquedo parava a música apenas pelo tempo que […]

Quando criança, eu costumava ir a um parque de diversões que tinha uma montanha russa que fazia um trajeto circular enquanto músicas rápidas tocavam em um conjunto gigantesco de caixas de som.

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Cada vez que o carrinho dava algumas voltas no percurso, o responsável pela operação do brinquedo parava a música apenas pelo tempo que levava para ele gritar uma pergunta:

“Vocês querem ir mais rápido?”

Não importava as respostas que gritássemos em movimento. O troço ficava mais rápido. Eu conseguia ouvir a voz desse cara na minha cabeça, alta e clara, durante os minutos que se seguiram ao tiro que foi disparado contra a deputada americana Gabrielle Giffords no Arizona.

Por sorte eu estava online quando a notícia saiu. Eu senti uma necessidade urgente por informações. Abri umas seis abas no meu navegador e comecei a apertar F5 como um louco. A maioria das fontes de notícia tinha manchetes sobre o fato do tiro ter ocorrido, mas não muito além disso. Eu rodei uma busca no Twitter para receber informações mais rápido. A maioria dos dados era repetido, mas pelo menos vinham numa velocidade alta.

Em minutos, os tweets passaram de meros relatos do ocorrido para uma análise mais profunda do significado dele. Houve links para o site da Sarah Palin e ataques ao que alguns consideraram ser um aumento no volume de discursos de ódio motivados por política. Segundos depois, estes tweets foram refutados por outros. A cena do crime mal fora isolada, e as notícias já haviam sido eclipsadas pelas análises delas.

Vocês querem ir mais rápido?

Eu queria. Deixei a minha janela de busca do Twitter aberta enquanto voltei para atualizar minhas abas de sites de notícias. Me dê algo novo, internet. Eu preciso, eu preciso. Boom. A NPR divulga que Giffords havia morrido. A notícia varreu o twitterverso e a página do Facebook que eu também já havia aberto. Eu fui para a capa do New York Times. Nada de novo. Ainda havia um box mofado sobre relatos conflitantes sobre o estado de saúde de Gifford. Abaixo do box, eu vi a frase: Atualizado há 4 minutos.

Eu atualizei a página mais algumas vezes, enquanto pensava comigo mesmo: “No que esse povo está perdendo tempo pelos últimos quatro minutos? Cadê as notícias?”

Vocês querem ir mais rápido?

A NPR quis. Mas, ao que parecia, Giffords não estava morta. Ela estava em cirurgia. A falsa notícia da sua morte se espalhou tão rápido que logo chegou aos ouvidos da família dela, que estava na sala de espera do hospital enquanto ela estava sendo operada. Eles tiveram que confirmar com os médicos que ela ainda estava viva.

A notícia se movia tão rápido que havia ultrapassado a realidade.

Assim como as análises e os milhares de tweets enviados por aqueles que achavam que tinham certeza do contexto maior do acontecido antes mesmo que soubessem meia dúzia de detalhes.

Eu pensei em twittar mandando meus pêsames. Eu poderia opinar no debate sobre os discursos de ódio e o papel de Sarah Palin nisso tudo. Ou talvez oferecer um ponto de vista me opondo à velocidade em que muitos de nós parecem atingir um nível de certeza sobre um tópico. Eu tinha que twittar alguma coisa, certo? É isso que a gente faz hoje em dia. Ler, reagir, repetir. Tudo bem que há meia hora eu não fazia ideia de quem era Gabrielle Giffords, mas por que os simples fatos de eu não ter nenhum background sobre o assunto e não saber praticamente nenhum dos detalhes sobre o ocorrido haveria de me impedir de emitir uma opinião e estabelecer um ponto de vista concreto?

Precisei de toda a minha força para não twittar.

Vocês querem ir mais rápido?

Pode apostar que a NPR adoraria não ter ido tão rápido.

Todos nós da NPR já fomos relembrados dos desafios e das responsabilidades profissionais de reportar notícias em rápido desenvolvimento em uma época e em um ambiente em que a informação e a desinformação se movem à velocidade da luz.

Mesmo a NPR não sendo necessariamente uma marca que eu associo a notícias quentíssimas, posso entender como é para um editor sentir a necessidade crescente de publicar material novo AGORA.

Mas e quanto a mim? Quando foi que eu me tornei uma fonte humana de notícias do último segundo, que tem que se manter atualizado com os últimos acontecimentos segundo-a-segundo, sabendo todos os detalhes de uma notícia e incluindo minhas próprias opiniões e análises em tempo real? Como será que milhares dos meus colegas humanos conseguiram servir ao mundo doses de 140 caracteres com análises detalhadas antes mesmo que as autoridades presentes no local do crime tivessem tempo de apresentar um relatório preliminar do que realmente se passou?

Vocês têm certeza de que querem ir mais rápido?

Assim como naquela velha montanha russa que eu frequentava, provavelmente não importa o que você responda. A velocidade está aumentando. A pressão para acompanhar e opinar sobre as coisas em tempo real só vai se tornar mais urgente. O desafio de manter um nível razoável de precisão fatual se tornará cada vez mais difícil. E separar um tempo para juntar informações, pensar, ponderar e refletir sobre elas antes de adicionar a sua opinião à discussão exigirá cada vez mais esforço consciente.

Mas talvez eu esteja já muito atrasado com esta mensagem. Tudo isso já é notícia velha.

Dave Pell é um viciado em internet, early adopter e insider. Seu blog, atualizado regularmente, é o Tweetage Wasteland.

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