Ciência

Desmatamento e garimpo ameaçam a árvore mais alta do Brasil

Com 88,5 metros de altura, a árvore angelim-vermelho mais alta fica na Floresta Estadual do Paru, no estado do Pará
Imagem: Reprodução/Agência Pará

Em 2019, um monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) descobriu a árvore mais alta do Brasil — e também a maior de sua espécie –, um angelim-vermelho com 88,5 metros de altura na Floresta Estadual do Paru, no Pará. O tamanho de um prédio de 30 andares. Vale lembrar que a média das árvores no bioma amazônico é de 45 m.

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Apesar de sua dificuldade no clima tropical, úmido e ventoso, ela vem prosperando há um período que se acredita ser de 400 a 600 anos de idade. No entanto, sua espécie, presente em vários estados brasileiros, enfrenta ameaças devido ao garimpo ilegal e ao desmatamento. As informações são do portal de conservação ambiental Mongabay.

Árvore mais alta no Pará

No Pará, sede da conferência COP30 das Nações Unidas em 2025, o Ideflor-Bio (Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade) pretende criar um parque estadual em parte do território da Floresta do Paru para ajudar a preservar os angelins-vermelhos.

Atualmente, o local tem status de unidade de conservação de uso sustentável. Ou seja, permite atividades de manejo florestal, como extração de madeira e de produtos não madeireiros e o ecoturismo. Porém, a intenção é criar áreas de proteção integral, permitindo apenas atividades de pesquisa científica e educação ambiental com supervisão.

Contudo, Jakeline Pereira, assessora da unidade de conservação da Flora Paru, afirma que isso não é o suficiente. Atualmente, mais de 2 mil garimpeiros estão ativos no local, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas).

Em outubro de 2023, o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, autorizou a Mineração Carará Ltda a explorar ouro na unidade – pedido que está em análise na Semas. Contudo, o proprietário da Mineração Carará, Eduardo Ribeiro Carvalho Pini, foi acusado pelo Ministério Público Federal de ter atividades de mineração ilegal na floresta.

“A exploração de ouro existe há muitas décadas na região e não é uma linha imaginária com os limites do [futuro] parque que impedirá a chegada da mineração”, alega Pereira. “A Reserva Biológica de Maicuru, que tem angelins gigantes e fica próxima à Flota do Paru, é um exemplo. É uma unidade de proteção integral, mas a mineração ilegal nunca foi removida de lá.”

Pereira também afirma que, “desde a criação da floresta, em 2006, o governo do Pará nunca fez uma inspeção [a pé] de campo no local”. “Muitos garimpos ilegais de ouro na Flota Paru trabalham com mineração aluvial, que não abre clareiras [na floresta] e é difícil de detectar sobrevoando.”

“O conselho consultivo [da floresta] pede inspeções de campo, mas eles dizem que as operações contra a mineração ilegal exigem coordenação com outros órgãos governamentais, como o Ibama e a polícia federal”, acrescenta.

Em 2015, uma pesquisa do Ideflor de 2015 revelou que havia necessidade de 300 agentes de fiscalização em campo. No entanto, há 162 funcionários administrativos, sendo três para supervisionar uma área de 7,1 milhões de hectares. “Se a UC não está muito desmatada [96% de sua cobertura vegetal permanece], isso se deve à dificuldade de acesso à região, e não à ação do governo”, finaliza Pereira.

No Amapá

Já no estado do Amapá, apenas um angelim-vermelho está em conservação na Floresta Estadual do Amapá. Enquanto isso, outro, por exemplo, está em um assentamento agroextrativista na cidade de Mazagão.

Christoph Jaster, ex-chefe do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, disse que os primeiros alertas de desmatamento no local começaram em 2022.

Assim como no Pará, a unidade de conservação tem poucos funcionários responsáveis por gerenciar milhões de hectares de terra. Além disso, também não há operações de campo frequentes para visualizar, pessoalmente, a situação das árvores, de difícil acesso. O maior angelim-vermelho do Brasil, por exemplo, fica a 220 km de barco pelo Rio Jari e 10 km a pé.

De acordo com o promotor Marcelo Moreira, do MPAP (Ministério Público do Amapá), a tecnologia não é o suficiente para o monitoramento. “Com as imagens de satélite, o grupo de apoio do MPAP pode ver quando uma área foi desmatada, mas visualizar uma única árvore é um desafio. Certa vez, no inverno, as nuvens cobriram o céu e, quando se dissiparam, a área de desmatamento por mineração havia dobrado”, conta.

Em outubro de 2022, a Prodemac (Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Conflitos Agrários, Habitação e Urbanismo) do MPAP (Ministério Público do estado) entregou uma minuta ao então governador Waldez Góes, propondo que as árvores se tornassem monumentos naturais, com preservação permanente de seus arredores. No entanto, após a mudança de governo em 2023, ele saiu sem implementar o projeto.

Isabela Oliveira

Isabela Oliveira

Jornalista formada pela Unesp. Com passagem pelo site de turismo Mundo Viajar, já escreveu sobre cultura, celebridades, meio ambiente e de tudo um pouco. É entusiasta de moda, música e temas relacionados à mulher.

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