Por que os dinossauros foram extintos? Talvez nunca tenhamos uma resposta cheia de certeza, mas um asteroide gigante e diversas erupções de vulcões enormes provavelmente possuem relação com o evento. Porém, existe um outro fator a ser levado em consideração: muito tempo dentro dos ovos.
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Os ovos de dinossauro levavam um tempo surpreendentemente longo para chocar, de acordo com um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academies of Sciences. A pesquisa determinou que dois embriões de dinossauro bem preservados – de um Protocerátopo e de um Hypacrossauro – tinham três e seis meses de idade, respectivamente, quando morreram dentro dos ovos.
E se longos tempos de incubação eram normais entre dinossauros, isso traria um grande risco tanto para bebês como para os adultos na competição pela sobrevivência no deserto pós-apocalíptico que se deu após o impacto do asteroide Chicxulub há 66 milhões de anos.
“Eu fiquei chocado”, disse Gregory Erickson, biólogo da Universidade do Estado da Flórida e líder do estudo, quando perguntado pelo Gizmodo como se sentiu depois ao descobrir que bebês dinossauros passaram até seis meses dentro de seus ovos. “Como biólogo, compreender os períodos de incubação de um animal tem imensas implicações”.
Muitas de nossas suposições sobre a vida dos dinossauros são baseadas nos seus descendentes vivos – os pássaros – e não é diferente quando se trata de desenvolvimento embrionário. Os pássaros se destacam entre os animais ovíparos, já que produzem um pequeno número de grandes ovos com períodos de incubação muito curtos, entre 11 e 85 dias. Esta estratégia promove alta sobrevivência: quanto menos tempo você gasta dentro do ovo, é menos provável que você se torne o almoço de algum outro animal.
Como os pássaros são “dinossauros vivos” e outros atributos da reprodução das aves parecem tem ligação com antepassados do Cretáceo, a maioria dos paleontólogos pensavam que os dinossauros também chocavam os ovos rapidamente. “Supunha-se que você poderia pegar o tamanho de um ovo de dinossauro e colocá-lo em uma linha de regressão para decidir o quão rápido incubariam seus ovos”, conta Erickson. “Esta é uma boa abordagem especulativa, mas não é empírica.”
Para obter os dados sobre o tempo de para se chocar um ovo, Erickson e sua equipe precisavam de uma maneira de envelhecer embriões não nascidos. Uma ideia de como fazer isso chegou a Erickson no início da década de 1990, quando ele estava fazendo sua tese de mestrado na Universidade Estadual de Montana. Lá, ele descobriu que linhas de crescimento diário – as chamadas linhas de “von Ebner” – poderiam ser usadas para determinar a idade dos dentes de dinossauros adultos.
Mais de 20 anos depois, Erickson e seus colegas obtiveram acesso a dois embriões de dinossauros extremamente bem preservados: um de um herbívoro de tamanho de uma ovelha chamado Protocerátopo e outro do enorme Hypacrossauro. Utilizando tomografia computadorizada ele examinaram minuciosamente os pequenos dentes das criaturas, contaram as linhas de von Ebner e descobriram que cada embrião tinha muitos meses de idade quando morreram. Esses resultados indicam os primeiros limites no tempo de incubação dos dinossauros. (Uma vez que nenhum deles havia nascido, os tempos reais de incubação poderiam ser ainda mais longos.)
A descoberta de Erickson não vai apenas contra o que se pensava até agora, mas também implica que os dinossauros estavam em uma grande desvantagem na relação com o ambiente. “Ter um período de incubação lento – de três a seis meses – teria exposto ovos a predação, secas e inundações por muito tempo”, disse Erickson. “Se os pais estivessem tentando protegê-los, você pode imaginar que eles também teriam sido expostos por longos períodos de tempo.”
Nos anos que se seguiram ao impacto do asteróide que criou a cratera de Chicxulub, o mundo estava uma loucura: erupções vulcânicas devastadoras, mudanças climáticas rápidas, colapso ecológico súbito. Somando isso a outros aspectos da biologia dos dinossauros, o risco que se corria com períodos prolongados de incubação teria tornado difícil para que eles competissem com répteis, aves e mamíferos menores e de reprodução mais rápida.
“Com relação à sua história de vida e atributos fisiológicos, os dinossauros estavam basicamente segurando a mão de um morto”, disse Erickson. “Eles eram desperdiçadores profícuos de energia, o que é ruim em um ambiente desprovido de recursos. Alguns de nossos trabalhos mostram que os dinossauros levaram mais de um ano para atingir a maturidade. Você adiciona os tempos de incubação muito lentos e esses atributos são juntos um grande azar”.
O estudo analisou apenas duas espécies e resta saber se os longos tempos de incubação eram uma característica universal da biologia dos dinossauros. Ainda assim, é sórdido pensar que um dos mais infames eventos de extinção na história da Terra pode ter sido causado, pelo menos em parte, pela superproteção.
[PNAS]
Imagem do topo: Um fóssil do Protocerátopo encontrado no Deserto de Gobi. Crédito: AMNH/M. Ellison.