Ontem, dois professores ganharam o prêmio Nobel de física por "experimentos revolucionários relacionados ao material bidimensional grafeno". O prêmio Nobel é o ouro olímpico da ciência. Mas o que é o grafeno, e o que ele tem de tão especial para ter rendido um Nobel (acompanhado do prêmio de um milhão de dólares) a estes dois?
Alguns prêmios Nobel de física são (relativamente) simples de entender. Em 1935, James Chadwick descobriu o nêutron. Algo importantíssimo, claro, mas que você pode entender no início do segundo grau. Mas o prêmio de hoje, dado a Andre Geim e Konstantin Novoselov, é por um material bidimensional. Um quê? Isso não é exatamente coisa de colégio, então deixa eu explicar direitinho.
Simplificando, o grafeno é apenas átomos de carbono — a mesma coisa de que tem no seu lápis — organizados em hexágonos ligados. (Curiosidade: a dupla começou o seu trabalho com o grafeno "descancando" grafite de lápis com fita adesiva.) Isso não parece nada especial, exceto pelo fato de que, como Geim mesmo explica, "tudo no nosso mundo tridimensional tem uma profundidade, uma altura e uma largura. Isso foi o que pensamos, ao menos". O trabalho de Geim e Novoselov expande o nosso entendimento de materiais que não têm nenhuma destas propriedades dimensionais, porque só têm um átomo de grossura. Eles têm uma dimensão a menos.
É difícil de imaginar — mas essa é justamente a mágica. O trabalho da dupla está na fronteira de uma classe de coisas que só agora estamos começando a conceber. O próprio Geim diz que não tem a menor ideia sobre a extensão dos prováveis usos de um material como o grafeno. Mas nós já sabemos que é super legal. Apesar da sua mera bidimensionalidade (ou justamente por causa dela), o grafeno é a substância mais fina e forte do universo conhecido, pode ser esticada como borracha e não é impregnável por líquido ou gás. Ele também conduz eletricidade, o que permite que ele (um dia) faça qualquer um se perguntar como passamos tanto tempo usando cobre e silício para tantas coisas.
E depois? "Os otimistas dizem que estamos entrando na era do carbono. Mesmo os pessimistas concordam com isso, apenas acham que o impacto não será tão grande", diz Geim, que, naturalmente, está empolgado: "eu espero que o grafeno e outros cristais bidimensionais alterem a vida diária da humanindade da mesma forma que os plásticos alteraram". Quanto a isso, teremos que esperar para ver. Mas ainda assim, bom trabalho, caras.