O músico Evandro Fióti desabafou nas redes sociais e apontou apropriação e plágio do álbum “AmarElo” no lançamento da música “Magia Amarela” das cantoras Juliette e Duda Beat em uma campanha publicitária.
O produtor e empresário da Laboratório Fantasma, gravadora de Emicida (irmão de Evandro), afirmou que vai acionar o seu departamento jurídico após as comparações da tipografia, conceito e a identidade visual do feat.
“Sabe apropriação e tudo aquilo que a gente discursa sobre ética? Então, esse mercado tem bem pouco. Sem criticar as artistas que inclusive admiro. Mas nosso jurídico vai trabalhar!”, escreveu Evandro Fióti.
Sabre apropriação e tudo aquilo que a gente discursa sobre ética?
Então, esse mercado tem bem pouco.
Sem criticar as artistas que inclusive admiro. Mas nosso juridico vai trabalhar! https://t.co/0j4hYOTTrJ— Evandro (@fiotioficial) October 18, 2023
Em contrapartida, em outra publicação no X (antigo Twitter), Fióti ainda reforçou que a crítica não era contra Juliette e Duda Beat. Porém, contra a falta de “ética do mercado”. Ele também mostrou a semalhança dos trechos da música com “AmarElo” single do álbum homônimo de Emicida.
Estou indignado. Vou explicar esse contexto dessa apropriação, plágio e mais uma vez falta ética nesse mercado vindo em sua maioria (mas não somente), de pessoas brancas. E reafirmo essa critica é coerente e vai no lugar certo, ñ quero hate em cima da Juliette ou Duda.
— Evandro (@fiotioficial) October 18, 2023
Tem que falar mais alguma coisa? Puta que pariu https://t.co/08IrjVaIWW
— Evandro (@fiotioficial) October 18, 2023
Fióti ainda foi ao Instagram. Em live, disse que uma marca procurou a Laboratório Fantasma para uma campanha publicitária. A oferta foi feita antes do lançamento de Juliette e Duda Beat e foi recusada pelo empresário, segundo ele.
“A gente levou 12 anos para ganhar um Grammy e esse trabalho acabou de ser roubado conceitualmente”, declarou Evandro Fióti. O músico contou que ‘Magia Amarela’, de Juliette e Duda Beat, faz parte de uma estratégia de reposicionamento de um MARCA. pic.twitter.com/IfMNRCV1hN
— ARTH (@anthunesarth) October 18, 2023
A gente levou 12 anos para ganhar um Grammy. E o trabalho que a gente levou o Grammy acabou de ser roubado conceitualmente. Eu não vou falar a marca, mas essa parte é mais chocante ainda. Essa música faz parte da estratégia de reposicionamento de uma marca. Ela negociou com a gente, só que não chegamos num acordo tanto por cronograma quanto por prazo como por questões financeiras também. A verba que eles tinham não justificavam a entrega que tínhamos que fazer”.
https://twitter.com/andrezadelgado/status/1714493328702455912
Juliette foi contratada, diz assessoria
A cantora Juliette anunciou “Magia Amarela” nas redes sociais com participação da cantora Duda Beat. Depois, o post no X foi apagado.
Hoje, após a repercussão do caso, a assessoria da artista disse, contudo, que ela foi contratada para ser uma das intérpretes do trabalho de uma campanha publicitária.
“A equipe da cantora está em contato com os contratantes responsáveis pela criação e produção da campanha para mais esclarecimentos”, diz a nota.
— Juliette (@juliette) October 18, 2023
Mais tarde, a artista soltou uma nova nota.
— Juliette (@juliette) October 18, 2023
No entanto, Duda Beat também se posicionou pelas redes sociais. Em um post no Instagram — já excluído — ela confirmou que a marca citada é a Bauducco e, principalmente, afirmou que não houve participação criativa dela na campanha.
A nota diz ainda que a equipe de Duda Beat identificou a semelhança com “AmarElo” de Emicida.
Porém, desde o primeiro contato entre a agência e o escritório da artista, ainda na fase de negociação, o nome de Felipe Vassão (um dos autores e do projeto musical ‘AmarElo’) estava citado no escopo da campanha como autor da faixa comercial (que ainda não existia e nem tinha o nome de ‘Magia Amarela’). A exclusão de Vassão do time de autores do jingle não foi informado pelo cliente/agência ao longo do processo. Dessa forma, ficou entendido que havia consentimento da produção do jingle por parte dos idealizadores pro projeto original AmarElo”.
Felipe Vassão se manifestou pelo Instagram e rebateu o posicionamento inicial da assessoria da cantora, afirmando que não teve nenhum envolvimento na criação da faixa musical.
Momentos depois, Duda Beat se posicionou em um novo comunicado e sem citar o nome de Vassão.
A posição da Bauducco
Procurada pelo Giz Brasil, a empresa Bauducco se manifestou junto com a agência de publicidade GALERIA.ag, afirmando que a campanha foi cancelada após a repercussão do caso.
“Diante de questionamentos sobre o projeto e sobre as cantoras, a Bauducco decidiu cancelar a campanha e seguirá dialogando com os artistas envolvidos, pelos quais manifestam total respeito e admiração. Em novas oportunidades, a marca voltará a celebrar sua cor icônica e sua mensagem de união”, afirmou.
A empresa disse também que a campanha tinha “o objetivo de celebrar o amarelo, icônico e característico de sua identidade visual”.
“A tipografia prevista para os materiais gráficos de divulgação seria a mesma já usada pela marca, tanto nas embalagens como em outras campanhas e postagens das redes sociais. A campanha foi concebida como um projeto amplo e integrado, nascido das fortalezas históricas da marca. Para interpretar a música e protagonizar o videoclipe, foram considerados artistas da música brasileira e internacional. A escolha das cantoras Juliette e Duda Beat refletiu o propósito da campanha: são duas artistas que já tinham uma amizade e formam “uma família” com base em laços de afeto, de profundidade e da arte. É importante ressaltar que a participação das cantoras se restringe à interpretação da música-tema, sem vínculo com a criação da campanha”, informa o comunicado.
‘Noite Amarela’
Na semana passada, Duda Beat e Juliette participaram do evento “Noite Amarela” da empresa Bauducco, como anteriormente divulgado pelo Instagram da marca.
Desse modo, André Kieling, gerente executivo de marca da Bauducco, deu entrevista ao canal Marcas Pelo Mundo e, posteriormente, citou o termo “magia amarela” no reposicionamento da marca.
“É um momento histórico para a marca, um momento muito especial, que se evidencia a partir desta noite, onde apresentamos no evento “Magia Amarela”, nosso novo amarelo e nossa nova identidade visual”, disse.
O evento também foi divulgado pelo LinkedIn.
Debate para conscientização, defende Evandro Fióti
O CEO e co-fundador da Laboratório Fantasma voltou as redes sociais para explicar que está em contato com a agência responsável pela campanha. Fióti ainda disse que o caso recebeu uma escalada e isso serve para conscientizar sobre o racismo dentro da indústria.
“Em nenhum momento eu quis tacar hate nas pessoas envolvidas. Nunca foi meu objetivo. Quero agradecer as manifestações de solidariedade dentro do mercado que eu recebi hoje. A gente não construiu o que construímos à toa. Construímos com reputação, respeito, ética e verdade”, disse ele em uma série de vídeos no Instagram.
Por termos figuras pop envolvidas dentro dessa discussão, ela ganhou uma escala ainda maior que eu acho importante sob o ponto de vista de conscientização, educação e ética dentro de todos esses segmentos que a gente está falando. Isso para mim é o debate mais importante. Conscientização: para que isso não se reproduza mais dentro da nossa sociedade e dentro do nosso mercado. Sei que falhas acontecem, mas nesse caso foi uma reprodução de erros sistematísticos que está muito ligado a todo processo estrutural, racista dentro do nosso país que a gente tem no nosso mercado de publicidade e de trabalho”.
A Laboratório Fantasma se manifestou reafirmando o posicionamento em defesa do trabalho de Emicida e Evandro Fióti em um comunicado divulgado nas redes sociais.
— Laboratório Fantasma (@lab_fantasma) October 19, 2023
Álbum, documentário e concerto de Emicida
“AmarElo”, de Emicida, foi lançado em 2019 e foi premiado no Grammy latino no ano seguinte como Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.
Anteriormente, em 2020, o rapper anunciou o documentário “AmarElo – É Tudo Para Ontem” na Netflix, mostrando bastidores do show histórico no Theatro Municipal de São Paulo e contando a história do Brasil a partir das contribuições da população negra. O documentário foi indicado ao Emmy na categoria “Programação de artes”.
Dessa maneira, o show no Theatro Municipal também foi exibido na plataforma de streaming em junho de 2021. Além disso, o álbum gerou o podcast “AmarElo – O Filme Invisível” e a série do GNT “AmarElo Prisma”, também disponível no YouTube.