Edward Snowden não poderá lucrar com seu livro porque ele não foi revisado pela NSA e pela CIA

O livro Permanent Record conta a história da decisão de Snowden de se tornar um delator e expor como o governo dos EUA estava espionando as pessoas.
Getty Images

Edward Snowden não poderá lucrar com as vendas de seu livro Permanent Record, depois que um juiz federal da Virgínia decidiu nesta semana que ele deveria ter solicitado a aprovação da Agência Central de Inteligência (CIA) e da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. Não está claro se Snowden, que era funcionário da CIA e contratado pela NSA, recorrerá da decisão.

O Permanent Record, lançado em setembro, conta a história da decisão de Snowden de se tornar um delator e expor as maneiras que o governo dos EUA estava espionando os americanos no final dos anos 2000 e início de 2010. Snowden fugiu dos EUA em 2013, depois que várias novas histórias foram escritas com base em documentos que ele havia vazado e agora vive em Moscou, na Rússia.

Snowden não buscou a aprovação das agências de segurança nacional onde assinou acordos de sigilo antes da publicação e, embora o governo não tenha se movido para impedir a publicação do livro, ele quer qualquer dinheiro que Snowden ganhar com sua obra. As editoras norte-americanas de Snowden, MacMillan e Holtzbrinck, também são nomeadas no processo.

“A publicação de Permanent Record de Snowden, sem submissão prévia à revisão pré-publicação, violou o acordo de sigilo da CIA e da NSA e os deveres fiduciários estabelecidos nesses acordos”, escreveu o juiz federal Liam O’Grady em sua decisão de 14 páginas.

Segundo registros do governo, Snowden assinou três acordos de sigilo com a CIA em novembro de 2005, agosto de 2006 e abril de 2009. Ele também assinou três acordos de sigilo da NSA em julho de 2005, maio de 2009 e março de 2013. Todos esses acordos eram inequívocos, segundo o juiz, e exigiam que Snowden submetesse a uma revisão antes da publicação do livro.

Snowden argumentou que seu livro não incluía nenhuma informação que ainda não era pública (graças a ele, é claro), e que ele não queria que a CIA “editasse [sua] vida“. As agências de segurança nacional tendem a ser seletivas quanto a quem é processado por violar acordos de sigilo, de acordo com Snowden.

“Existe uma forte probabilidade de o governo ter submetido Snowden especificamente a esse tratamento discriminatório”, disseram os advogados de Snowden à Associated Press no mês passado. “Um delator que o governo considera traidor estaria buscando permissão das próprias agências que ele denunciou para falar sobre suas opiniões sobre vigilância”.

O governo dos EUA também argumentou durante o caso que Snowden violou seu acordo de sigilo, dando palestras públicas via videolink em uma conferência TED, um evento de segurança na internet e em várias universidades.

“Durante cada um desses eventos, Snowden fez com que fosse exibido e discutido, entre outras coisas, pelo menos um slide que foi marcado como classificado no nível extremamente secreto e outras atividades relacionadas à inteligência da CIA e da NSA”, escreveu o juiz. “Ele nunca enviou nenhum material ou slide à CIA ou à NSA para revisão antes da publicação e nunca recebeu autorização por escrito para fazer suas observações públicas ou publicar seus slides”.

O juiz decidiu que o governo tem direito a quaisquer recursos provenientes dessas conversas públicas, embora não esteja claro como essa decisão poderá ser aplicada.

“É absurdo acreditar que o governo revisaria o livro de Snowden ou qualquer outra coisa que ele submetesse de boa fé. Por esse motivo, Snowden preferiu arriscar seus royalties futuros do que sujeitar suas experiências à censura imprópria do governo”, disse Brett Max Kaufman, advogado sênior do Centro de Democracia da ACLU e membro da equipe jurídica de Snowden ao Gizmodo por e-mail.

“Discordamos da decisão do tribunal e vamos rever nossas opções, mas está mais claro do que nunca que o sistema injusto e opaco de revisão pré-publicação que afeta milhões de ex-funcionários do governo precisa de grandes reformas”.

O Gizmodo publicou a decisão no Internet Archive, onde pode ser lida na íntegra em inglês.

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