Astrônomos acreditam ter encontrado elo perdido na evolução dos buracos negros

Equipe de pesquisadores japoneses relatou evidências fortes de um novo tipo de buraco negro

Ficção científica não existe para fazer filmes sobre coisas que já sabemos — ela explora a física, a astronomia, a biologia e a química desconhecidas, em que a incerteza real sobre tópicos pode levar a histórias atraentes e críveis. É isso que torna buracos negros um assunto tão popular; a luz não consegue escapar deles. Talvez eles sejam portais através do espaço-tempo, e eles parecem quebrar as regras. Mas quem precisa de ficção quando já existem mistérios incrivelmente estranhos no mundo real?

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Nesta segunda-feira (4), uma equipe de pesquisadores japoneses relatou evidências fortes de um tipo de buraco negro, que preencheria o misterioso vão entre buracos negros com massa em torno da de uma estrela e buracos negros supermassivos no centro do universo. O fato de que não tenhamos visto nenhum desses “buracos negros de massa intermediária” ainda é super esquisito.

“É como andar pelo mundo e ver apenas bebês recém-nascidos e adultos bem velhos”, disse ao Gizmodo Grant Tremblay, astrofísico do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian e que não esteve envolvido nesse novo estudo. “Não estamos vendo nenhum adolescente ou jovens e pessoas de meia-idade”, comparou

Alguns tipos de buracos negros definitivamente existem, ou ao menos nossas observações mostraram evidências fortes o bastante para que cientistas sintam-se confortáveis de concluir que são buracos negros. Alguns têm massa em torno daquela de uma grande estrela, como os observados por detectores de onda gravitacional. Então, temos também os enormes,como o Sagittarius A*, a brilhante fonte de onda de rádio com massa quatro milhões de vezes a do Sol, no centro de nossa galáxia. Mas sem a observação de um buraco negro de massa intermediária, os cientistas não sabem como algo como o Sagittarius A* ficou tão grande.

“Embora muitos candidatos [a buraco negro de massa intermediária] tenham sido propostos, nenhum é aceito como definitivo”, escreveram os pesquisadores em um estudo publicado nesta segunda-feira (4), no periódico Nature Astronomy. Porém, agora eles acreditam ter encontrado um.

“No estudo anterior, sugerimos que um buraco negro de massa intermediária poderia estar se escondendo na peculiar nuvem molecular CO-0.40-0.22, baseados na cinemática de gás observada”, contou o autor do estudo Tomaharu Oka, da Universidade Keio, no Japão, em entrevista ao Gizmodo. “A detecção de uma fonte contínua de rádio semelhante a um ponto, a CO-0.40-0.22*, próxima do centro da CO-0.40-0.22 confirmou nossa sugestão prévia.”

Observações de telescópio da fonte de ponto brilhante CO-0.40-0.22 (Oka et al, arXiv (2017))

Se tudo isso soa confuso, eles basicamente encontraram uma nuvem densa de coisas próxima do centro da Via Láctea chamada CO-0.40-0.22. Eles deram uma olhada mais de perto, usando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), um conjunto de telescópios relativamente novo e super-avançado no Chile. Perto da nuvem de gás, eles encontraram um ponto peculiar, um objeto de cerca de cinco centésimos o brilho do Sagittarius A*, com tamanho menor do que seria possível para o telescópio esclarecer. Esse tipo de ponto pode ser várias coisas, mas esse, em específico, não veio com uma assinatura infravermelha ou outra assinatura de luz que pudesse implicar que fosse um conjunto de estrelas ou uma galáxia brilhando atrás da nuvem.

Descartando as outras opções, os astrônomos concluíram que suas observações eram consistentes com um buraco negro de massa aproximadamente cem vezes a do Sol.

Outros pesquisadores já identificaram fontes parecidas, mas quase todas vêm com ambiguidade suficiente para impossibilitar a alegação de uma descoberta de verdade. Tremblay considerou a análise da equipe japonesa convincente, mas existe um longo caminho pela frente. “Eles não vão dizer que têm um buraco negro de massa intermediária confirmado”, afirmou. Outros astrônomos ainda precisam observar a fonte no espectro de luz de onda de rádio. Eles precisam ver como ela varia no tempo (um buraco negro pode piscar) e como a nuvem de gás em volta se move. “Temos um candidato promissor que é um alvo rico para acompanhamentos futuros, que é como a astronomia funciona”, disse Tremblay.

A equipe japonesa sabe que está apenas começando. “Já detectamos vários candidatos a buracos negros perdidos”, disse Oka. “Alguns deles (atualmente em preparação) parecem muito grandes.”

E qual é a sensação disso tudo? “Estou muito empolgado, me sinto feliz”, concluiu Oka.

[Nature Astronomy]

Imagem do topo: Raio-x: NASA/CXC/PSU/L. Townsley et al; Infravermelho: NASA/JPL-Caltech

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