
Empresa oferece seguro para celebridades contra cancelamento nas redes
Para aliviar os perigos da má reputação na internet, a agência de seguros britânica Samphire Risk lançou um seguro contra o “cancelamento” digital. Com o nome de Preempt, a política oferece gerenciamento de crise para celebridades, executivos e empresas.
A pergunta é: essa ideia vai vingar? O Giz Brasil ouviu especialistas brasileiros em marketing e direito digital para repercutir essa novidade. Confira abaixo.
Como funciona o seguro
A fim de minimizar os danos à imagem pública nas redes, uma equipe trabalha para reverter a publicidade negativa nas mídias sociais e tradicionais por 60 dias. Além disso, há ainda um serviço 24 horas para danos de emergência. O seguro também fornece pesquisadores e analistas que sinalizam potenciais riscos antes de qualquer problema. Cobre ainda ameaças digitais como desinformação, deepfakes, extorsão, chantagem e riscos à família, por exemplo.
De acordo com o chefe de relações públicas Mark Borkowski, que projetou a ideia, ela visa proteger pessoas cujas palavras possam ser “distorcidas ou tiradas do contexto”, e não as que descumprem a lei. Os valores são calculados de acordo com a riqueza e o comportamento prévio do cliente.
“Compartilhar ou curtir um tuíte pode fazer o mundo inteiro cair sobre você”, disse ao site Fast Company. “Há muitas pessoas ansiosas. O botão de cancelar é a nova guilhotina [e] um erro é seu epitáfio. É muito fácil tomar uma posição sobre as coisas… sem ter atenção.”
Especialistas opinam sobre seguro do cancelamento
Em uma pesquisa do Datafolha em 2023, 67% dos brasileiros demonstrou concordar total ou parcialmente com a frase “As pessoas falam mais do que deveriam na internet e por isso merecem ser canceladas quando erram”.
Segundo Ângelo Vieira Jr., executivo e professor especialista em marketing, inovação, CX e digital, a cultura do cancelamento é uma “preocupação em massa”. Por isso, serviços que investem nas campanhas do “mercado do medo” podem ser promissoras.
“Um estudo recente mostra que 33% consideram aceitável cancelar pessoas com opiniões divergentes das suas, de acordo com uma pesquisa do Instituto Liberdade Digital. Ou seja, esses possíveis tipos de produtos como seguros que atuam no mercado de segurança e que investem pesado no “mercado do medo”, podem ter na economia digital, um capital ‘promissor’. Enquanto uma parcela significativa tem medo, outra está com os “dedos no ponto para cancelar” do outro lado de uma tela”, argumentou Vieira Jr.
Por outro lado, a advogada e especialista em Direito Digital Marina Lucena, afirma que a mensuração do risco pode ser um problema nesse tipo de iniciativa. Ela questiona: “se a seguradora cobre apenas cancelamentos ‘injustos’, quem define esse critério? Como uma seguradora analisaria e precificaria um risco que depende da volatilidade das redes sociais e da opinião pública?”.
A ideia vai pegar no Brasil?
Marina Lucena acha que, para a ideia ser aplicável no Brasil, poderia funcionar como um serviço de gerenciamento de crise. Isso porque seria um desafio definir contratualmente o que “constitui um cancelamento indenizável”, já que incluir isso em uma apólice exigiria “critérios objetivos para um risco essencialmente subjetivo”.
“Se a cobertura não incluir casos de má conduta comprovada, a proteção pode ser limitada demais para atrair influenciadores de alto risco”, opinou ela. Além disso, o ordenamento jurídico já prevê ações de reparação por danos à imagem, lembra.