Em fevereiro, os terráqueos se alegraram quando a NASA anunciou a descoberta de sete planetas parecidos com a Terra, aglomerados ao redor de uma estrela anã extremamente fria. O sistema, chamado TRAPPIST-1, é especialmente atraente por ter três planetas na zona habitável, o que quer dizer hipoteticamente que suas superfícies podem suportar água no estado líquido e até mesmo vida. Como resultado, todos os astrônomos, de experientes a amadores, querem um pedaço dessa deliciosa TRAPPIST-1 e encontrar alguns bebês alienígenas. Mas, infelizmente, as nossas esperanças podem já ter sido diminuídas. Talvez só um pouco.
• Caso exista, a vida alienígena no TRAPPIST-1 poderia estar viajando entre os planetas
• Esta é a primeira imagem que temos do sistema solar TRAPPIST-1
Um novo estudo de um time de cientistas do observatório Konkoly, em Budapeste, na Hungria, revelou o que pode ser o calcanhar de Aquiles dos exoplanetas TRAPPIST-1 : explosões solares de sua estrela causando caos nas atmosferas dos planetas. Usando dados da missão K2, da nave Kepler, da NASA, o time observou as curvas de luz do sistema TRAPPIST-1 durante um período de 80 dias. Nessa janela relativamente curta, os pesquisadores notaram 42 eventos de explosões solar, o que pode tornar as atmosferas dos planetas do TRAPPIST-1 instáveis demais para sustentar vida. O estudo desapontador será publicado no Astrophysical Journal.
Para jogar suco de limão nessa ferida, os pesquisadores acham que as tempestades do sistema TRAPPIST-1 “podem ser de 100 a 10.000 vezes mais fortes do que as observadas na Terra. A maior tempestade solar já registrada em nosso planeta, a de 1859, causou perturbações geomagnéticas sem precedentes. Especialistas dizem que um evento similar iria “destruir o mundo moderno”, de acordo com a National Geographic. Grandes explosões solares são perigosas porque elas podem enviar muita energia de radiação (por exemplo raios-x e luz ultravioleta), que pode acabar com a atmosfera de um planeta e danificar as formas de vida vivendo dentro dele.
Então, a não ser que a vida alienígena pareça com este cara ou este cara, o TRAPPIST-1 pode estar arruinado, ou pelo menos as nossas chances de encontrar sinais de vida nesses sete exoplanetas pode ter acabado.
Imagem: NASA/JPL-Caltech
Mas, é claro, nem toda a esperança acabou. Os cientistas alertaram que o sistema de Proxima Centauri, nossa estrela vizinha mais próxima que abriga o recém-descoberto exoplaneta Proxima b, pode também ter questões de habitabilidade por causa da radiação que sua estrela anã M emite em violentas explosões. Porém, de acordo com alguns especialistas, principalmente os astrobiólogos, isso não desconta a possibilidade de vida no Proxima B. O mesmo se aplicaria para TRAPPIST-1.
“Acho que o que esses pesquisadores pensaram foi apenas sobre os sinais de vida atmosféricos, e, então, se a atmosfera não estiver estável, vai ser difícil detectar esses sinais”, Lisa Kaltenegger, diretora do Instituto Carl Sagan, disse ao Gizmodo. “Mas para os outros sinais de vida, como a biofluorescência, não importa tanto o que a atmosfera faz.” Aqui na Terra, certos tipos de animais marinhos, como águas-vivas e corais, usam a biofluorescência para lidar com a intensa radiação solar, ao absorver os raios de alta energia e reemitir energia mais fraca e uma coloração distinta.
Recentemente, Kaltenegger e seu colega e pesquisador associado do Instituto Carl Sagan, Jack T. O’Malley-James, publicaram uma pesquisa no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society sobre como avida biofluorescente pode possivelmente sobreviver nos planetas do TRAPPIST-1 sendo suas atmosferas instáveis ou não por causa das explosões solares.
“Existe muito mais resiliência do que as pessoas imaginam”, O’Malley-James disse ao Gizmodo. “Especialmente com esses tipos de explosões, alterando a atmosfera de uma forma que não vai tornar o planeta completamente inabitável. Pode ser ruim para certos tipos de vida, mas pode ser irrelevante para outros.”
Então, por mais que não seja ideal que astronautas deem uma volta pelas praias dos planetas TRAPPIST-1, algo pode estar lá. Nós só vamos ter que procurar um pouco mais por isso. Eu, por mim, quero acreditar.
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