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Espécies monogâmicas compartilham similaridades genéticas profundas

Independentemente da sua opinião sobre a monogamia, ela é uma característica encontrada em muitas espécies, desde pássaros canoros até peixes e vários humanos. Porém, surpreendentemente, há muitos exemplos em que membros de uma espécie formam pares para toda a vida, mas os de outra espécie intimamente relacionada àquela, não. Uma equipe internacional de pesquisadores realizou […]

Jeanne Menjoulet/Flickr

Independentemente da sua opinião sobre a monogamia, ela é uma característica encontrada em muitas espécies, desde pássaros canoros até peixes e vários humanos. Porém, surpreendentemente, há muitos exemplos em que membros de uma espécie formam pares para toda a vida, mas os de outra espécie intimamente relacionada àquela, não. Uma equipe internacional de pesquisadores realizou uma análise genética para tentar entender o que as espécies monogâmicas tinham em comum.

Os cientistas relatam ter encontrado genes associados à monogamia compartilhados entre muitas espécies diferentes, de acordo com um novo artigo.

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“Como cientistas, estávamos interessados na monogamia como um bom exemplo de uma característica complexa que evoluiu várias vezes, não só em vertebrados como estudamos, mas também há casos de animais invertebrados com sistemas monogâmicos”, disse Rebecca Young, pesquisadora associada da Universidade do Texas em Austin, em entrevista ao Gizmodo. Young e sua equipe se perguntaram se a característica tinha uma base genética semelhante em diferentes espécies.

Encontrar os genes associados à monogamia exigiu compreender os genes que as células cerebrais estavam usando, por meio da análise de transcritomas. Os transcritomas são meio como genomas, mas, em vez de catalogar a enciclopédia genética ou o DNA, eles se concentram no RNA, o DNA que a célula está realmente usando. Eles compararam os transcritomas do tecido cerebral em machos reprodutivos de duas espécies intimamente relacionadas de camundongos, ratos-do-mato, pássaros, rãs e peixes ciclídeos — em cada categoria animal, eles analisaram uma espécie monogâmica e uma não-monogâmica.

Os pesquisadores identificaram 24 grupos de genes que parecem estar associados à monogamia nas espécies. Esses genes estavam envolvidos em atividades como desenvolvimento neural, aprendizagem, memorização e função cognitiva. Os genes expressos tinham mais em comum do que seria esperado apenas por acaso, de acordo com o artigo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.

Embora os resultados soem provocativos, os pesquisadores foram cuidadosos para não exagerar nas afirmações. Young enfatizou que correlação não é causalidade, então não está claro se os grupos compartilham os genes expressos porque são monogâmicos ou se eles são monogâmicos devido aos genes compartilhados. Os pesquisadores também apontaram que o estudo não leva em conta variação entre membros da mesma espécie.

Embora os autores do estudo tenham relutado em generalizar os resultados para humanos, o autor sênior Hans Hofman, da Universidade do Texas em Austin, disse ao Gizmodo que eles deveriam “nos lembrar que somos uma parte maior da história evolutiva”.

Quanto ao motivo pelo qual a monogamia evoluiu, Young especulou que talvez tivesse a ver com a escassez de companheiros, ou que os mais jovens eram especialmente suscetíveis a predadores a ponto de precisarem da atenção de dois pais.

Outros pesquisadores não envolvidos no estudo ficaram impressionados com o trabalho. “Este grupo de cientistas adotou uma abordagem muito inovadora ao comparar espécies díspares que demonstram monogamia, não fazendo quaisquer suposições sobre se elas evoluíram a monogamia separadamente ou a herdaram”, disse Gene Robinson, editor do artigo e diretor do Instituto Carl R. Woese de Biologia Genômica da Universidade de Illinois, ao Gizmodo. “Eles estavam apenas observando a base molecular subjacente, as raízes genéticas disso, e acharam essas conexões fortes.”

Robinson e Hofman disseram ao Gizmodo que o estudo poderia usar mais espécies. Hofman afirmou que gostaria de fazer o estudo em 200 espécies diferentes, mas isso seria um grande desafio, devido à quantidade de trabalho envolvido.

Ainda assim, esse estudo se junta ao crescente conjunto de publicações que mostram conexões profundas entre animais muito diferentes quando se trata de certos comportamentos.

E, embora possa parecer um resultado chamativo, Young permanece cautelosa, porque a ciência é assim. “Estávamos entusiasmados com a perspectiva do que estávamos vendo, mas é preciso uma quantidade extraordinária de tempo e desconfiança”, disse ela. “Foi necessária uma cuidadosa autocrítica para chegarmos a esse ponto. Isso tira a emoção inicial, mas sou entusiasmada pela biologia todos os dias, não apenas por causa de um resultado específico que sai do computador.”

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