Espelho místico usado pelo conselheiro da rainha Elizabeth I tem origem asteca

John Dee, conselheiro da rainha Elizabeth I, usava o espelho de obsidiana para 'falar com espíritos'

Uma equipe de pesquisadores confirmou que um espelho de obsidiana – tipo de vidro formado quando a lava expelida de um vulcão resfria rapidamente com crescimento mínimo de cristal – usado por John Dee, conselheiro da rainha Elizabeth I da Inglaterra, para contatar espíritos sobrenaturais em suas práticas ocultas tem origem asteca. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Antiquity.

Dee nasceu em 1527, era um pensador renascentista que se interessava por todos os tipos de coisas, desde matemática, ciência, geometria e astronomia a astrologia, alquimia e ocultismo. Era uma Europa pré-iluminista, época em que os pensadores deram crédito a todos os tipos de ideias que agora parecem um tanto estranhas. 

Referência aos espelhos de obsidiana em pintura. Crédito: Antiquity (2021).

De 1550 a 1570, ele foi o conselheiro científico da rainha, mas seus interesses ansiavam pelo sobrenatural. Na década de 1580 Dee realizava adivinhações para prever o futuro. Suas ferramentas incluíam cristais e vários espelhos, um dos quais era um espelho de mão feito de obsidiana.

Os pesquisadores já desconfiavam que o espelho poderia ter origem asteca, mas não tinham certeza. Não até agora. Na nova pesquisa, eles fornecem informações sobre a cultura renascentista e a relação dos europeus com materiais estrangeiros trazidos durante o período colonial.

Os astecas usavam a obsidiana para fins medicinais e viam sua superfície reflexiva como um escudo contra os maus espíritos. O vidro vulcânico também foi associado à morte, ao submundo e à captura da imagem e da alma de uma pessoa.

Stuart Campbell, arqueólogo da Universidade de Manchester e seus colegas Elizabeth Healey, Yaroslav Kuzmin e Michael Glascock determinaram a composição e a fonte geográfica do artefato por meio de uma análise geoquímica, especificamente fluorescência de raios-X.

O artefato foi bombardeado com raios X, fazendo com que vazasse quantidades mensuráveis ​​de radiação (a fluorescência). Diferentes elementos dentro da obsidiana geraram vários tipos de fluorescência, permitindo à equipe medir sua composição química, o que por sua vez criou uma espécie de impressão digital química do objeto.

Com isso, os pesquisadores descobriram que a impressão digital do espelho de Dee era muito parecida com o perfil da obsidiana mexicana, especificamente a obsidiana de Pachuca, México – uma fonte conhecida de vidro asteca. 

Além do espelho, a equipe estudou mais três objetos no Museu Britânico, dois outros espelhos astecas e uma placa retangular de obsidiana polida.

Frente e verso de objetos analisados. Crédito: Antiquity (2021).

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