“Se os humanos fossem seres alienígenas capazes de viver na superfície do Sol”, diz Patrick Antolin, “seríamos recompensados com vistas incríveis de estrelas cadentes. Mas precisaríamos tomar cuidado com nossas cabeças.”
O professor assistente da Universidade de Northumbria, na Inglaterra, imaginou a situação após integrar o grupo internacional de cientistas que flagrou, pela primeira vez, estrelas cadentes no Sol. Ou quase isso. Na verdade, as tais “estrelas cadentes” são aglomerados de plasma quentes e brilhantes que, estima-se, atingem 250 km de largura e despencam na estrela a 100 km por segundo.
A pesquisa da equipe veio a público esta semana no Encontro Nacional de Astronomia, uma conferência anual organizada pela Royal Astronomical Society (ou Sociedade Real Astronômica, em tradução livre), no Reino Unido. O trabalho será publicado em uma edição especial da revista científica Astronomy & Astrophysics.
Como surgem as estrelas cadentes
Quem observou as “estrelas cadentes” na coroa solar, parte mais externa da atmosfera do Sol, foi o Solar Orbiter da ESA (agência espacial europeia). A sonda espacial produziu as primeiras imagens em alta resolução da chuva coronal. Nesse fenômeno, o plasma quente esfria e condensa devido a instabilidades térmicas na parte mais externa da atmosfera do Sol, a coroa.
Esses aglomerados super densos de plasma viajam ao longo de loops magnéticos e eventualmente despencam em direção à superfície da estrela, atraídos pela gravidade. Os cientistas acreditam que essas estrelas cadentes, às vezes, cheguem intactas ao Sol. As observações do Solar Orbiter mostraram que esses impactos produzem um “breve e forte brilho com uma onda ascendente de material e ondas de choque que reaquecem o gás acima delas”, segundo comunicado.
Embora os astrônomos chamem estes aglomerados de “estrelas cadentes”, eles só têm em comum o fato de que são pontos brilhantes caindo em direção ao Sol. As estrelas cadentes da Terra, afinal, são meteoroides de tamanhos variados, rochas alienígenas que entram em nossa atmosfera – e, geralmente, queimam por inteiro.
O Solar Orbiter
Lançado em fevereiro de 2020, o Solar Orbiter já sobrevoou nossa estrela a 42 milhões de quilômetros de distância – menos de um terço da distância entre a Terra e o Sol. A Parker Solar Probe, da NASA, já atingiu distâncias muito menores. Ela esteve a 8,5 milhões de quilômetros e foi a primeira espaçonave a entrar na atmosfera solar, em 2021.
Mas o Solar Orbiter, com seus 10 instrumentos científicos a bordo, supera espaçonaves anteriores à medida que tem sistemas de câmera voltados para a estrela – e produz as imagens mais próximas e de melhor resolução já feitas do Sol.
Além de fazer medições da heliosfera e do vento solar, o objetivo da engenhoca também é observar regiões polares do Sol desconhecidas até então. A missão deve durar até 2027, mas talvez se estenda até o início da década de 2030.