Ciência

Estudo contesta temperatura máxima que o corpo consegue sobreviver

Atualmente, temperatura limite não considera nível de atividade de uma pessoa, sua idade e comorbidades para mensurar sobrevivência ao calor
Imagem: Jarosław Kwoczała/ Unsplash/ Reprodução

Até pouco tempo atrás, havia um consenso científico sobre qual a temperatura máxima que uma pessoa consegue sobreviver. Algo como um valor limite que, quando ultrapassado, causa a morte de um indivíduo.

No entanto, um novo estudo publicado na revista Nature Communications descobriu que a metodologia utilizada para chegar ao calor suportado é inadequada. Segundo a pesquisa, a temperatura de sobrevivência é, na verdade, menor do que a estimada anteriormente.

A temperatura do bulbo úmido

O método recomendado para mensurar o calor fatal se chama “temperatura global de bulbo úmido”. Ele não mede apenas o quão quente está, em graus, mas também considera outros fatores. Por exemplo, além da temperatura comum, contabiliza a umidade, a velocidade dos ventos, o ângulo solar e a cobertura de nuvens – e há termômetros específicos que podem medir isso.

Por isso, especialistas consideram que essa metodologia é mais precisa para a compreensão dos riscos do calor. Até agora, a temperatura global de bulbo úmido considerada limite para a sobrevivência humana é de 35°C. O valor considera que uma pessoa está ao ar livre, sem sombra, por cerca de seis horas. Apesar de ser adotada por organizações formais, a temperatura de bulbo úmido não é tão conhecida pela população mundial, tampouco divulgada pela mídia.

De modo geral, a medição atual assume que uma pessoa exposta está inerte, sem exercer qualquer tipo de esforço físico. Além disso, considera que ela está sem roupas e não possui fatores de risco à saúde, como índice de massa corporal acima do adequado ou problemas cardíacos.

Por essa razão, pesquisadores confrontaram a metodologia. “As pessoas podem sobreviver a essas temperaturas, mas não viverão no mundo real”, acrescentou Jennifer Vanos, autora da nova pesquisa. Isso porque Vanos e sua equipe afirmam que o limite de sobrevivência de calor da temperatura global do bulbo úmido não leva em conta as condições do mundo real. 

“Esse número simplifica demais o que acontece fisiologicamente no corpo quando ele é exposto a essa temperatura, e não leva em consideração outras variáveis importantes como idade ou outros fatores de vulnerabilidade”, explica Vanos.

O que diz o novo estudo

Segundo a pesquisadora, sua equipe de cientistas buscou compreender não somente as condições em que as pessoas poderiam sobreviver, mas sim quais eram as condições que permitiam que elas vivessem suas vidas.

Dessa forma, o estudo descobriu que milhões de pessoas podem morrer em temperaturas de bulbo úmido muito inferiores a 35°C. O risco aumenta especialmente para idosos e indivíduos com problemas de saúde.

Além disso, os perigos crescem à medida que a umidade do ar aumenta. Afinal, quando o ambiente está seco, o indivíduo transpira, o que permite que seu corpo resfrie. Mas quando a umidade está mais presente, esse processo é mais difícil.

Por exemplo, um adulto saudável poderia morrer após seis horas de exposição ao calor em uma temperatura de bulbo úmido de 33°C com 50% de umidade. Já uma pessoa idosa e saudável poderia morrer a 32°C (temperatura de bulbo úmido) sob os mesmos níveis de umidade.

Os achados do estudo são relevantes, dada a crescente frequência e intensidade de ondas de calor ao redor do mundo. Por isso, os pesquisadores ressaltam que é importante que agências governamentais e formuladores de políticas compreendam como as altas temperaturas afetam “não apenas a sobrevivência, mas a habitabilidade”.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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