Ao que parece, a história dos Incas não é tão precisa assim. Uma nova pesquisa que envolveu a datação por radiocarbono sugeriu que Machu Picchu é pelo menos duas décadas mais velha do que os registros históricos indicam.
De acordo com interpretações de documentos do século 16 pelo arqueólogo e antropólogo americano John Rowe, a cidade havia sido construída para o imperador inca Pachacuti, logo após sua ascensão ao poder em 1438 DC. A data serviu de base para todos desde que esse trabalho foi publicado em 1940, e repetido em livro após livro.
No entanto, uma nova datação de ossos e dentes humanos enterrados no local indica que, na verdade, Machu Picchu já estava ocupada por volta de 1420 DC, o que significa que provavelmente foi construída antes disso.
O artigo com as análises foi publicado na revista científica Antiquity.
“Este é o primeiro estudo baseado em evidências científicas que fornece uma estimativa para a fundação de Machu Picchu e a duração de sua ocupação, dando-nos uma imagem mais clara das origens e da história do local”, disse o antropólogo Richard Burger, da Universidade de Yale, ao Sciencealert.
O lugar é um dos sítios arqueológicos mais famosos do mundo, mas a razão de sua existência e como foi que ele surgiu ainda é um pouco incerto.
Com a morte do último monarca Inca no final do século 16, a cidade caiu em abandono, só chamando a atenção de historiadores ocidentais em 1911. A partir daí, cientistas do mundo todo tentam reconstruir a história, mas isso só está sendo possível com a invenção de novas tecnologias.
Assim, os avanços modernos na espectrometria de massa do acelerador (AMS) finalmente nos deram a chance de obter uma data adequada.
No total, os pesquisadores analisaram 26 amostras de ossos e dentes humanos que foram enterrados em vários cemitérios ao redor do local. Juntos, esses restos representam mais de 10% de todos os indivíduos enterrados.
Os ossos mostram poucos sinais de trabalho duro, o que significa que esses indivíduos provavelmente não estavam lá para construir Machu Picchu — mas sim morando.
“Pelo menos dois dos indivíduos estudados foram enterrados em Machu Picchu antes de 1440 DC e, a julgar pelas medianas das medições de radiocarbono, parece que o palácio rural de Machu Picchu estava funcionando por volta de 1420 DC, se não anteriormente”, escrevem os autores.
Se as descobertas forem verificadas, isso pode significar que as estimativas tradicionais para a ascensão de Pachacuti ao poder estão erradas.
Se ele assumiu o trono em 1438 e Machu Picchu realmente foi construído para ele, então o local não poderia ter sido ocupado antes disso, dizem os pesquisadores. Especialmente porque o imperador precisaria primeiro conquistar a região montanhosa antes de construir sua propriedade real.
“Talvez tenha chegado a hora de as evidências de radiocarbono assumirem prioridade nas reconstruções da cronologia dos imperadores e na datação de sítios monumentais incas como Machu Picchu”, sugerem os autores.