Um novo relatório da Universidade de Cambridge confirmou o que muita gente já sabia: publicar comentários ou conteúdos babacas, preconceituosos e cheios de discurso de ódio na internet tem sido uma estratégia bastante eficaz para fazer com que outras pessoas acessem esse tipo de postagem, em vez de darem maior importância a outros posts. O estudo foi publicado no Proceedings of the National Academy of Science (PNAS) esta semana com o título “A animosidade de grupos externos impulsiona o engajamento nas redes sociais”.
Os pesquisadores analisaram exatos 2.730.215 milhões de posts no Twitter e Facebook de contas pertencentes a congressistas nos Estados Unidos, além de mensagens de jornalistas de esquerda e direita. Nas duas redes sociais, ficou constatado que postagens de ataque de um partido para o outro, ou vice-versa, geram um compartilhamento 67% superior do que se fosse um post destacando uma manifestação do próprio partido.
Em outras palavras, as pessoas costumam engajar mais conteúdos negativos do que positivos. Inclusive, dos 2,7 milhões de posts analisados, a maioria esmagadora era de usuários publicando sobre temas políticos de fora da própria bolha. Os pesquisadores de Cambridge observam que essas postagens nem precisavam mencionar políticos ou temas mais extremos. Na verdade, para um post se tornar viral, bastava um comentário da esquerda colocando palavras como “fascista”, por exemplo, ao mencionar um tweet ou post no Facebook em referência a alguma notícia.
Embora este seja o primeiro estudo a analisar especificamente os afundamentos nesse tipo de postagem, sabemos há anos que conteúdos de caráter divisivo ou que induzam à raiva é uma das maneiras que mais geram cliques na internet. E as redes sociais também sabem muito bem disso.
Um artigo recente do Wall Street Journal citou uma pesquisa interna do Facebook de 2018 que descobriu que bombardear usuários com um fluxo infinito de conteúdo negativo os fazia passar mais tempo na plataforma. Por outro lado, também reforçou as bolhas de pensamento no serviço, encorajou a polarização política e transformou o site nesse ambiente hostil que conhecemos hoje. De acordo com o WSJ, os principais executivos do Facebook arquivaram a pesquisa, em parte porque qualquer mudança feita nesses sistemas atingiria “usuários e editores conservadores” com mais força do que qualquer outra pessoa.
Além do Facebook, o Twitter vem aumentando sua tendência como uma das plataformas que mais espalham discurso de ódio. Em 2017, a Slate publicou um artigo chamando tweets babacas de “um esporte delicioso”, observando que seguir alguém por causa de um tweet idiota “alimenta ainda mais a cultura agressiva do Twitter”. Um ano depois, o CEO Jack Dorsey anunciava planos para minimizar o número de interações raivosas no site. Se a ideia funcionou? Bem, eu te desafio a navegar por não mas que cinco minutos para tirar a prova por você mesmo (spoiler: piorou muito).