“Eu aboli completamente as chaves da minha vida”, conta microchipado brasileiro

Com cada vez mais serviços usando validação por aproximação, implantar um chip pode deixar de ser uma excentricidade. Conversamos com alguém que já aderiu à tecnologia

O tempo das senhas ficou para trás. As tecnologias de comunicação por proximidade estão cada vez mais comuns, com cartões e crachás com chips que mal precisam encostar no leitor. Em tempos de pandemia, não encostar em nada é um valor e tanto.

Mas algumas pessoas estão levando a expressão “colado ao corpo” ao sentido literal. Os pequenos implantes de chips de radiofrequência NFC nas mãos não são uma novidade, mas o ecossistema de aplicações cresceu e ele está se tornando não mais uma excentricidade, mas um gadget bastante útil.

O implante é pouco maior do que um grão de arroz, é feito de um tipo vidro biocompatível, da mesma graduação dos implantes ósseos e estéticos, o que garante que o corpo não entenda-o como um corpo estranho e rejeite. Dentro da pequena cápsula há um microchip, um capacitor e uma antena.

A tecnologia é passiva, ou seja, o dispositivo não tem capacidade de transmitir nenhum dado, nem possui bateria. Ele apenas responde a inquisições, como a de um leitor de smartphone, fechaduras automáticas e máquinas de cartão de crédito.

Mercado promissor

Segundo Antonio Dianin, CEO da Project, principal distribuidora de implantes de radiofrequência no Brasil, o uso tem crescido cada vez mais acompanhando o uso de tecnologias de leitura por aproximação.

“A gente vê os números crescendo sem parar. Antes da pandemia fazíamos eventos em feiras, os ‘implant party’ e era cada vez mais gente procurando”.

Ele próprio é chipado e automatizou a casa com fechaduras eletrônicas, que abre ao serem tocadas com o chip. Também instalou partida eletrônica no carro, que funciona da mesma maneira. “Eu aboli completamente as chaves da minha vida”.

As fechaduras eletrônicas já são bastante comuns no Brasil e custam a partir de R$ 700. O chip da Project sai por R$ 350 e vem com uma seringa de aplicação, que o fabricante recomenda ser feita por um body piercer.

Apesar de servir para armazenar informações como cartão de visitas, url do portfolio e informações médicas, como comprovante de vacinação, a ação mais querida pelos usuários ainda não está disponível no Brasil: pagar por aproximação.

Dianin explica que as operadoras de cartão de crédito e bancos não reconhecem o dispositivo como seguro, mesmo que ele esteja dentro da pele do usuário e que a proteção contra a clonagem seja tão restrita quanto a do cartão com chip.

“Nós queremos muito fazer uma parceria com algum banco ou operadora. Do nosso lado já está tudo pronto, basta querer e entender que é tão seguro, até mais, do que o cartão físico”, conta.

Na Suécia, um boom de aplicações cotidianas usando tecnologia contactless, como bilhetes de metrô e pagamentos – parecido com o que está em curso no Brasil – levou também a uma onda de implantados.

A empresa de tecnologia Biohax International afirma ter feito mais de 6.000 aplicações desde 2014. A alta adesão se explica pelo fato de a Suécia ser conhecida como um dos países mais progressistas da Europa. Não há tanta paranóia sobre o uso indevido dos dispositivos.

Talvez não seja o caso do Brasil, onde o mito do “chip da besta”, teoria da conspiração criada por extremistas religiosos nos anos 1990, foi resgatado para difamar a campanha de vacinação contra a Covid-19. 

A história dá conta de que o governo, liderado por agentes do anticristo, quer implantar chips de controle mental e localização em toda a população, para isso usam o pretexto de uma vacinação obrigatória.

Não é preciso explicar por que o controle mental ainda não pode ser feito por radiofrequência, nem que ele não cabe numa seringa de vacina, mas a localização também não funciona no chip implantado. 

“Ele não possui nenhum tipo de bateria, não é um dispositivo ativo e só pode ser lido pelo contato muito próximo”, conta Antonio Dianin, da Project. O chip precisa estar a cerca de 3cm do leitor para funcionar. Geralmente é implantado nas costas da mão, no músculo entre o dedão e o indicador.

Também se fala de um futuro distópico onde as empresas poderão exigir que seus funcionários sejam chipados para acessar suas dependências e sistemas, uma espécie de crachá subcutâneo, o que geraria um grande embate legal, com poucas chances de vitória. Ainda.

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