Eu sou um pirata

Os caras do The Pirate Bay foram considerados culpados ontem. Eu não acompanhei o caso tão de perto, também não sou um viciado em BitTorrent. Mas se eles são culpados, acho que também sou.

Os caras do The Pirate Bay foram considerados culpados ontem. Eu não acompanhei o caso tão de perto, também não sou um viciado em BitTorrent. Mas se eles são culpados, acho que também sou.

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Eles são culpados, você não pode argumentar o contrário. Eles quebraram as regras criadas pelo Establishment. Só que a tecnologia é baseada em crowdsourcing, e da mesma forma que nós baixamos, nós somos seeders, então somos culpados também. Todos.

Na verdade eu não uso torrent regularmente. E eu dou dinheiro a filmes e música que acho que merecem. Mas não tenho como argumentar que não sou culpado.
 

De todo modo, posso dizer que esse cara é um babaca: 
 

"Falando à BBC, o diretor da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) John Kennedy disse que o veredicto deu uma mensagem clara: "Esses caras não estavam assumindo uma posição por causa de seus princípios, eles fizeram tudo para encher o bolso de dinheiro. Não há nada que dê méritos ao comportamento deles, é repreensível".

 

Nós roubamos, mas acho que o The Pirate Bay defendeu alguns princípios.

Eu dou conta de comprar o que consumo, ao contrário de quando eu era um cara quebrado na faculdade. Mas eu ainda roubo quando não quero passar 45 minutos indo ao cinema e esperando na fila ou pagando 10 dólares para uma pipoca velha. Também roubo quando o filme é ruim e não vale isso ou quando não acho coisas antigas ou obscuras que quero assistir. Eu vivo pelo nosso código de piratas, e vou sempre apoiar os artistas nos quais eu acredito. Por exemplo, não baixei Watchmen ou Wolverine para ver na tela grande porque acredito em sua qualidade e apoio os artistas. Mas Transporter 3 é um lixo que eu decidi que precisava ver uma noite, chapado, sem outro pedaço de entretenimento à vista. Mesma coisa para Punisher Warzone. Acabei vendo só os primeiros 20 minutos de um monte de filmes horríveis, e os apaguei – é só um lance que eu faço. E se eu não pudesse pirateá-los, eu nunca os veria de forma alguma. Mas estou fugindo do ponto.

O ponto crucial é que eu não quero que me falem quando eu devo ver um desses filmes, ou como, e onde. Eu digo isso para muita gente: esse é todo o ponto. Claro, algumas pessoas apenas roubam porque querem ou não conseguem pagar, mas um monte de gente está apenas esperando que o modelo oficial de distribuição seja tão bacana quanto é o BitTorrent.

Veja quão popular o iTunes virou. O sistema triunfou porque forneceu uma grande experiência mainstream, mesmo que o Limewire/Napster/Kazaa fosse de graça e estava bombando. Ou veja o Hulu agora. Eu não preciso ir ao BitTorrent para assistir a um programa de TV – novo ou antigo – se há algo tão maravilhoso e fácil de usar como o Hulu. (E alguns estudos mostram que as pessoas estão de fato migrando dos torrents para o streaming, quando é viável.) Eu apenas não quero que me imponham que eu preciso esperar para ver filmes no meu computador ou celular, de uma maneira tosca, semanas depois. Pra mim, o que importa é a velocidade, e em última instância a conveniência e experiência, acima de tudo. Eu não consigo isso em um megaplex, não importa o tanto de pipoca e jujuba que eles oferecem.

Eu sei que há razões comerciais para manter os filmes aparecendo antes no cinema que no iTunes. Mas ah, Lost está na TV aberta e no ABC.com, de graça, até em alta-definição, mas as pessoas continuam baixando o negócio pra caramba, provavelmente porque os seus países estão uma ou duas temporadas atrasados, ou a conveniência ainda é mais forte do que o que há disponível para elas. Mas o The Pirate Bay está mais próximo da solução que o establishment está. Então eu discotdo da IFPI quando ela diz que o TPB não fazia nada de bom. Eles não faziam nada de bom para os que se saíram vencedores na corte, mas o The Pirate Bay é a última palavra em distribuição de conteúdo, e produtores deveriam aprender como trabalhar no mundo em que vivemos, como esle está agora, em vez de negar a realidade.

Uma hora isso vai se resolver. A internet vai conectar produtores e audiência sem a necessidade de um atravessador. De alguma forma, algum dia.

Por ora, eu me declaro culpado. Então me prenda, porque sou um pirata, também.

 

[PB: Larguei a folga para traduzir hoje esse artigo do nosso chefe supremo, Brian Lam (o editor-chefe do Giz US), porque eu concordo totalmente e acho que abre espaço pra uma discussão bem interessante. Honestamente, acho bobagem dizer que a condenação do TPB é um "atentado à liberdade na internet". Não é nada disso. A lei é essa, mas ela está absolutamente errada e não adaptada aos nossos tempos. Como o Lam, gasto uma grana com DVDs, música, cinema e games, mas baixo MUITA coisa. Sou pirata e posso ser preso a qualquer momento. 

Será que o caminho que os EUA está trilhando, com um iTunes e Amazon MP3 abrangente e rápido, um Hulu e MTV Music que passam tudo em bom streaming e alta definição, é o caminho? O Netflix associado ao Xbox Live é matador – você consegue assitir tudo rápido em HD. Mas estamos longe de tudo isso no Brasil, e o download ilegal faz ainda mais sentido por aqui. É o que me parece. Mas como fazer com que eu, você e o Lam deixem de ser criminosos? Quem deve dar o primeiro passo para não ter de andar na prancha? Atirem nos comentários.

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