Eu costumo dizer que não torço por empresa alguma: este não é o papel de jornalista. Mas especialmente nestes dias difíceis, me peguei vendo uma novela e torcendo para a vítima-vilã. Ei, Sony. Força pra você.
A situação é crítica. Uma falha gravíssima na segurança da PlayStation Network comprometeu dados importantes de seus 77 milhões de usuários e causou um “apagão” que só deve acabar na próxima semana. Matemáticos fazem contas de que o prejuízo seria de bilhões de dólares. As ações caem no Japão, onde até ministros cobram explicações. O hacker-estrela Geohot diz que foi a própria Sony que em última instância causou o problema, com sua postura “arrogante”, praticamente desafiando alguém a quebrar seu sistema.
Desde tirar o suporte do PS3 ao Linux, lá atrás, passando pela condução do processo contra os hackers e a demora para comunicar a falha de segurança, a gigante japonesa fez tudo errado.
E isso será punido, automaticamente, no comportamento dos acionistas e de consumidores desconfiados. Tudo normal. O problema é que a internet vira arena para uma “trollagem corporativa”. Tem fanboy de Xbox rindo da desgraça alheia. Gente que nem tem qualquer produto da japonesa organizando um “boicote” à Sony. Ou desejando que a empresa vá à falência. Todo mundo tem direito de falar o que quiser, mas preaguejar assim a Sony é estranho para quem gosta de tecnologia de verdade, e deixa este jornalista aqui, dono de dois Minidiscs, meio triste.
Outro dia, quando lamentei a derrocada das TVs Philips, falava que muitas empresas realmente inovadoras estão tendo momentos difíceis. Esta semana mesmo soubemos que a Panasonic das TVs incríveis demitirá 35 mil funcionários nos próximos dois anos. Apple e Microsoft estão muito bem, obrigado, mas outras empresas com histórico de inovação precisam voltar a entrar nos trilhos, e achar um espaço em um mundo onde parece que as pessoas apenas querem coisas mais brilhantes que custem menos – algo totalmente justo.
Mas eu quero mais empresas se arriscando. Eu quero produtos esquisitos. Tablets com design estranho ou duas telas, TVs LCD-LED com contraste absurdo e design de monolito, jogos efetivamente legais em 3D, um novo padrão de vídeo em alta-definição, um cachorro-robô, um videogame portátil ultra potente na época de iCoisas… Se eu quiser fazer uma lista de produtos “arriscados” que a Sony fez a coisa vai longe. Os japoneses talvez sofram do problema de colocar coisas no mercado sem pensar um pouco mais, mas o que importa para um tecnófilo é que eles estão arriscando. Há um bocado de dinheiro em pesquisa, e dinheiro de sobra para experimentar – ainda que essa sobra venha de preços por vezes salgados demais.
Pensei ainda mais com carinho na Sony depois de ler o ótimo artigo do Paul Miller no This is my Next, com uma lista do que a Sony deveria fazer para reagir. De ressuscitar a marca Walkman a diminuir o atraso entre anúncio e venda de um produto, há várias dicas interessantes que, aliás, já demos por aqui. Eu torço para que neste momento eles estejam justamente, mais do que nunca, pensando em como dar a volta por cima, com produtos incríveis e uma nova filosofia. O baque deve ter sido sentido, e espero que uma empresa melhor surja daí.
Eu torço por você, Sony. Força.