Em uma fala no Pentágono, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, delineou o plano oficial para criar a Força Espacial dos EUA, a primeira nova divisão das Forças Armadas do país em mais de 70 anos.
Descrevendo-a como “uma ideia cuja hora é chegada”, Pence falou a militares que a Força Espacial — o primeiro novo braço desde o estabelecimento das Forças Armadas em 1947 — vai restaurar a liderança norte-americana no espaço.
Pence deu alguns detalhes sobre o plano de sua administração e a atuação do novo ramo, que ele espera que seja estabelecida e esteja funcionando até 2020. O Pentágono vai divulgar um relatório autorizado pelo Congresso para descrever os passos necessários à criação do novo braço.
Citando o presidente Trump, o vice disse que adversários transformaram o espaço em um domínio de guerra, “assim como a terra, o ar e o mar”. Isso obrigou os EUA a criarem um novo serviço militar, o sexto da nação, dedicado a proteger seus ativos e suas propriedades no espaço.
“O que já foi pacífico e não contestado agora está lotado e contencioso”, disse Pence. “Outros países agora ameaçam as propriedades espaciais norte-americanas como nunca havia acontecido”, desenvolvendo tecnologias que podem “emperrar, cegar ou desativar satélites de comunicações diretamente do solo”. O vice-presidente fez questão de deixar claro que esses “outros países” são Rússia e China.
Pence descreveu um teste de 2007, por exemplo, em que a China usou um míssil para destruir um satélite desativado, que era usado para prever condições climáticas. O vice descreveu essa demonstração como “altamente provocativa”.
O vice também falou sobre sofisticadas tecnologias em órbita que poderiam ser usadas para desativar satélites americanos, incluindo aquelas que usam raios laser. A China, segundo Pence, está investindo fortemente em mísseis hipersônicos capazes de escapar dos sistemas de detecção dos EUA.
Ele também mencionou a primeira aeronave hipersônica chinesa, que foi aprovada em seus primeiros testes na semana passada. Pence também advertiu que China e Rússia estão integrando ataques contra satélites a suas doutrinas de guerra.
“À medida que suas ações se tornam claras, nossos adversários transformaram o espaço em um domínio de guerra. Os Estados Unidos não vão fugir deste desafio”, disse Pence. “Nós vamos encarar de cabeça erguida. A América sempre vai buscar a paz — mas a paz só vem por meio da força.”
O vice de Trump também disse que o novo braço será igual aos outros cinco. Ele também delineou quatro ações necessárias para “desenvolver as capacidades espaciais” das Forças Armadas americanas.
Uma nova estrutura de comando será criada, o Comando Espacial dos Estados Unidos da América. Ele será liderado por um general de quatro estrelas, de forma a garantir a integração com outras divisões e domínios. Este comando desenvolverá novas táticas e procedimentos específicos para o espaço, entre outras responsabilidades.
A nova Força Espacial também contará com a criação de “um grupo de combatentes de elite especializados em espaço”, disse Pence, que formarão a “espinha dorsal do novo serviço armado”. Esta nova Força de Operações Especiais vai reunir homens e mulheres dos outros braços, segundo o vice-presidente, e criar sua própria comunidade, única e coesa.
Uma nova organização conjunta, a Agência de Desenvolvimento Espacial, terá a tarefa de desenvolver as capacidades de combate para o domínio físico do espaço. “Avanços significativos” nas tecnologias são necessários, disse Pence, e eles precisam ser desenvolvidos “antes que os adversários dos americanos os façam”.
Por fim, a nova Força Espacial vai precisar de um novo Secretário Assistente para Defesa do Espaço, que vai se reportar diretamente ao Secretário de Defesa. O escolhido para o cargo, um civil, precisará manter a responsabilidade e a prestação de contas sobre o novo braço. Ele também vai ajudar na transição de elementos militares para a nova Força Espacial, segundo o vice-presidente.
A nova divisão pode entrar em operação já em 2020, mas para isso “o Congresso deve agir”, segundo Pence. O orçamento federal de 2019, programado para fevereiro, incluirá uma lista de itens necessários ao novo braço armado.
“Chegou a hora de escrever o novo capítulo das nossas Forças Armadas”, declarou Pence. “É a vez de criar a Força Espacial dos Estados Unidos.”
A administração Trump segue em direção de seus planos para criar este novo ramo, apesar das críticas de que isso contribuirá para criar novos encargos e custos burocráticos, além de uma reorganização massiva nos ativos militares norte-americanos. Além disso, a Força Aérea deve ter suas responsabilidades espaciais bastante limitadas.
Apesar de tudo isso, está acontecendo, e, como disse Pence, este é o novo capítulo da história militar.
Imagem do topo: AP