Ex-engenheiros do Google acusam a empresa de agir ilegalmente em demissões

Ex-funcionários do Google participaram de vários protestos contra a empresa; agora, eles acusam a gigante da tecnologia de ser injusto com eles.
Três dos quatro engenheiros demitidos pelo Google. Foto: Google Walkout For Real Change

Uma decisão imprudente e amplamente divulgada colocou o Google na mira de seus próprios trabalhadores – e em breve, o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas dos EUA (NLRB, na sigla em inglês), pode muito bem constatar que a empresa infringiu a lei.

A empresa decidiu demitir quatro de seus engenheiros mais “barulhentos” pouco antes do Dia de Ação de Graças, como parte das contínuas tentativas de impedir a dissidência interna, uma mudança de política que inclui a contratação da famosa empresa IRI, que reprime sindicatos.

Apesar de aproximadamente 25 anos de permanência na empresa, nenhum dos funcionários demitidos recebeu indenização, e o atendimento médico – que, segundo eles, foi estendido até o final do mês – se esgotou desde então.

“O Google não tem sido gentil conosco, e eu acho que a época das demissões foi um pouco intencional”, disse Sophie Waldman, ex-engenheira de software do Google, ao Gizmodo. “Eles estão tentando mandar um recado”.

“Este é o mesmo código de conduta que termina com: ‘E lembre-se, não seja mau. Se você vê algo que não está certo, fale”. Todos nós estávamos falando, e foi por isso que eles nos demitiram”.

Os quatro ex-engenheiros do Google – Waldman, Paul Duke, Laurence Berland e Rebecca Rivers – estão mandando um outro recado. Eles acusam a companhia de práticas trabalhistas injustas e planejam apresentar uma acusação à NLRB nesta semana. É uma das várias opções que eles provavelmente irão seguir.

Waldman e Duke, que foram demitidos sem cerimônia no dia 25 de novembro, juntamente com outros três, afirmam que foram obrigados a se reunir com a equipe de investigação interna do Google em setembro.

O objetivo dessas reuniões era, supostamente, descobrir como a informação vazava para a imprensa sobre a relação da empresa com a Customs and Border Protection, agência estreitamente ligada às atuais políticas de separação, detenção e/ou deportação de migrantes e requerentes de asilo nos EUA.

Os quatro negam que tenham vazado informação interna para veículos de imprensa. No entanto, eles foram demitidos “no mesmo dia, mais ou menos na mesma meia hora, e sem aviso prévio”, de acordo com Waldman.

Berland – que disse que o Google tentou ligar, mas não conseguiu porque estava sem sinal – recebeu um e-mail com o assunto “Informações sobre seu emprego no Google”. A mensagem explicava que ele, assim como seus três colegas, estava sendo demitido por supostas violações da política de segurança de dados, bem como do código de conduta e dos padrões de conduta do Google.

“Se você está se perguntando o que são todas essas políticas e como [eu] as violei, bem, nós também estamos. Não tenho mais acesso a elas”, disse Waldman. “O que fiz foi: fui ao motor de busca interno do Google – fui à intranet e digitei ‘Google Customs and Border Protection’. Cliquei em alguns links. E compartilhei esses links com outros funcionários. Eu disse a eles: ‘tudo isso tem que ficar dentro da empresa.'”

Sob novas políticas ou atualizadas recentemente, de acordo com Rivers, “se você acessar um documento e ele estiver fora do escopo do seu trabalho, ele pode ser declarado retroativamente secreto e você pode ser punido por isso”.

Mesmo a realização de grandes reuniões pode levantar uma bandeira vermelha – algo que ela considera ridículo. “Em Mountain View, há clubes de leitura com mais de 100 pessoas. Se você organizou essa reunião naquele dia, isso agora é contra a política. Essas são todas as coisas que são explicitamente pensadas e vieram em resposta à organização de trabalhadores.”

“Este é o mesmo código de conduta que termina com: ‘E lembre-se, não seja mau. Se você vê algo que não está certo, fale”. Todos nós estávamos falando, e foi por isso que eles nos demitiram”.

O Google não acusou diretamente nenhum desses ex-funcionários de vazar informações, mas aparentemente tentou fazê-lo de uma forma oblíqua. Dias depois de ter sido revelado que Rivers e Berland tinham sido colocados em licença administrativa, o CEO do Google, Sundar Pichai, anunciou que as reuniões semanais normais de todos os funcionários da empresa terminariam.

Uma das razões da proibição, segundo ele, era “um esforço coordenado para compartilhar nossas conversas fora da empresa”. Quando os quatro foram demitidos na semana passada, um memorando interno dos chefes da equipe de investigação se referiu a “um aumento recente de informações compartilhadas fora da empresa”.

A reportagem mais famosa que envolve os quatro funcionários demitidos foi feita pela Bloomberg, na qual as medidas disciplinares aplicadas à Berland e Rivers se tornou conhecida pelo público. A história detalha que um terceiro trabalhador, que não teve seu nome revelado, foi demitido “por vazar nomes e detalhes pessoais dos funcionários para a mídia”.

Os quatro ex-engenheiros acreditam que esse misterioso funcionário foi demitido bem antes da atual repressão. “A empresa tem uma grande comunidade organizadora neste momento, e por isso foi feita a muitas pessoas a pergunta: ‘você sabe quem é essa pessoa que está falando sobre quem foi demitido? E por quê?'”, disse Duke ao Gizmodo. “Nenhum de nós faz ideia.”

O Gizmodo pediu anteriormente ao Google para esclarecer quando essa demissão ocorreu. A empresa se recusou a responder.

“Destituímos quatro indivíduos que estavam envolvidos em violações intencionais e frequentemente repetidas das nossas políticas de segurança de dados, incluindo o acesso sistemático e a divulgação de materiais e trabalho de outros funcionários”, disse uma porta-voz do Google ao Gizmodo. “Ninguém foi demitido por levantar preocupações ou debater as atividades da empresa.”

Waldman, Duke, Berland e Rivers, de acordo com uma declaração escrita no Medium, não partilhavam os mesmos espaços ou chefes. A principal linha de ligação entre os quatro foi o envolvimento em campanhas organizadas pelos trabalhadores no Google – muitas vezes contra iniciativas questionáveis, como a relação acima mencionada com o Customs and Border Protection.

Três dos quatro ex-engenheiros assinaram publicamente uma carta aberta que exigia o fim do apoio do Google a uma agência empenhada em “prender e torturar pessoas vulneráveis”. Além das campanhas anteriores, Berland e Rivers estavam no centro de um protesto de 200 pessoas no próprio campus do Google dias antes de suas demissões.

“Se o objetivo da empresa era assustar as pessoas para que não se organizassem, eles fizeram o contrário”

Se o objetivo dessas demissões e mudanças de política é realmente arrefecer a dissidência dentro da empresa, há todas as razões para acreditar que o tiro vai sair pela culatra.

Em outubro, o enorme escritório satélite da empresa em Zurique, na Suíça, organizou uma reunião em massa com representantes do sindicato dos trabalhadores. Quando a gerência descobriu e tentou impedir a reunião, os funcionários suíços simplesmente compareceram mesmo assim, no local planejado – embora estivessem um pouco mais irritados do que antes.

De acordo com Duke, essas demissões abruptas estão tendo um efeito semelhante, e a organização dos funcionários continua valendo.

“Se o objetivo da empresa era assustar as pessoas para que não se organizassem, eles fizeram o contrário”, disse ele. “Há cada vez mais situações que nos mostra claramente que algo como um sindicato pode ser o que precisamos.”

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