As explosões que devastaram Tianjin foram tão impactantes que chegaram a ser registradas como atividade sísmica pela Rede Nacional de Terremotos da China. E os “tremores” vistos pelos geofísicos não dão toda a magnitude dos estouros.
Esta semana, duas explosões ocorreram num depósito de propriedade da Tianjin Dongjiang Port Rui Hai International Logistics Co. e se espalharam pela cidade portuária de Tianjin, destruindo edifícios e carros, deixando uma cenário apocalíptico. A primeira explosão foi enorme, e a segunda ainda maior: o Centro de Redes de Terremoto da China está comparando-a a 21 toneladas de TNT. A 160 quilômetros a noroeste, em Pequim, um sismômetro detectou as explosões como equivalentes a terremotos de magnitude 2,3 e 2,9 na escala Richter.
Sismógrafos em Pequim detectaram a segunda explosão em Tianjin como equivalente a um terremoto de 2,9 graus. Imagem via USGS.
Isto não quer dizer que as explosões causaram terremotos: um sismógrafo simplesmente mede o movimento do chão causado pela propagação de ondas de energia. Nós tipicamente usamos estes equipamentos para medir atividade tectônica, mas eles também registram várias tecnologias humanas, como dinamites, armas de ar comprimido e radares. De acordo com John Bellini, geofísico da USGS, sismômetros captam explosões causadas por seres humanos em pedreiras praticamente o tempo todo.
“Nós registramos dezenas delas [explosões] todos os dias, em pedreiras por todo o mundo”, diz Bellini ao Gizmodo. “Geralmente elas estão em uma região conhecida, e aparecem de forma diferente de um terremoto num sismômetro.”
Parte da razão para que explosões em pedreiras sejam diferentes de terremotos, de acordo com Bellini, é que elas tipicamente não são eventos pontuais. Ao invés disso, mineiros perfuram várias sondas geotécnicas em uma região de alguns milhares de quilômetros quadrados e espalham explosivos em todas elas. Isto ajuda a minimizar o impacto geral da explosão e previne danos à região ao redor.
O que é interessante nas explosões de Tianjin é que elas foram eventos pontuais e, além disso, não ocorreram debaixo da terra. Geralmente, nós não conseguimos detectar explosões de superfície muito bem, porque grande parte da energia se dissipa no ar. O fato de estas explosões aparecerem nos sismógrafos com energia comparável a um pequeno terremoto mostra como elas foram monstruosas.
A fumaça se propaga do local da explosão que reduziu a cinzas um estacionamento repleto de carros novos num galpão na cidade de Tianjin, na China. Imagem via Ng Han Guan/AP
“Imagine onde ocorreu o estouro: bem na superfície”, diz Bellini. “Grande parte da força irá subir, vai para bem longe do chão. Por outro lado, a explosão em uma pedreira, por exemplo, geralmente é enterrada no chão, ou numa mina subterrânea. Nesse caso é necessária uma explosão bem menor para um sismógrafo registrar como um evento de mesma magnitude.”
“Uma explosão subterrânea com esta energia provavelmente iria registrar algo entre 3 e 4 na escala Richter”, continua Bellini. “As maiores explosões em minas que eu vi estão em 4 e pouquinho, e isto ocorre várias vezes ao ano.”
Bombeiros com equipamento de proteção observam a fumaça parcialmente rosa que continua a se propagar depois de uma explosão no município de Tianjin, nordeste da China. Imagem via Ng Han Guan / AP
Em outras palavras, o sinal modesto que os geofísicos detectaram em Tianjin não captura a força total da explosão. De fato, determinar a quantidade total de energia liberada em explosões como esta não é uma coisa muito fácil de se fazer. Primeiro, porque as unidades de medida são ruins: nós deveríamos medir explosões como estas em joules, em vez de toneladas de TNT. Segundo, porque diferentes tipos de explosões geram diferentes tipos de ondas, o que afeta como a energia se propaga e quanto dano o estouro causa.
Até agora, foram confirmadas 50 mortes e mais de 500 hospitalizados. Ao se escavar os escombros dos prédios destruídos, um odor pungente e químico se espalha no ar, enquanto o fogo continua ardendo.
Isso já é o bastante para dizer que foi um acidente terrível.
[CNN | The Guardian | BBC]