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A fabricação do iPhone provavelmente nunca vai ser feita nos Estados Unidos

Donald Trump já disse várias vezes que quer que a Apple produza produtos nos Estados Unidos. Porém, fica difícil competir com os incentivos chineses.

Não importa o que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disser, pois levar a fabricação do iPhone para os Estados Unidos provavelmente nunca vai acontecer. Nós já tínhamos um monte de razões para acreditar que isso não faz sentido, porém uma nova reportagem do The New York Times destaca um novo fator: grandes incentivos e concessões feitas pelo governo chinês.

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O jornal fala sobre uma fábrica da Foxconn em Zhengzhou, na China. Zhengzhou é conhecida localmente como a “cidade do iPhone” e as instalações, quando está no modo completo, podem fazer 500 mil iPhones por dia. É a maior fábrica de iPhones do mundo e ela é responsável por metade da produção global de smartphones da Apple.

O que chama a atenção no local não é a escala, mas a quantidade de dinheiro que o governo chinês deu para a Foxconn construir a fábrica em um local ideal para produzir os iPhones.

O NYT não conseguiu dizer exatamente quanto dinheiro o governo chinês deu para a fábrica de Zhengzhou, mas o jornal informa o seguinte:

Registros confidenciais do governo obtidos pelo The Times detalham múltiplos encontros durante muitos anos no qual autoridades da cidade de Zhengzhou discutiram o “apoio” deles para a produção do iPhone, chamando os benefícios de “política preferencial”. Os registros oferecem um vislumbre desses benefícios, que incluem ajuda para a Foxconn em muitas áreas, como infraestrutura, mão-de-obra, impostos e exportação.

Estes benefícios do governo, segundo o Times, incluem financiamento da construção de uma fábrica de US$ 600 milhões, um investimento de US$ 1 bilhão em moradias para centenas de milhares de funcionários, descontos em energia elétrica, eliminação de impostos corporativos e de impostos que incidem sobre o produto por cinco anos, e mesmo ajuda no treinamento e recrutamento de funcionários.

E tudo isso sem falar das concessões para logística. A fábrica foi feita propositalmente a alguns quilômetros de um aeroporto, então a Apple consegue mais facilmente enviar seus produtos para outros países. E talvez, mais importante, a fábrica foi feita dentro de uma bonded zone (uma espécie de zona franca).

O Times explica:

Uma bonded zone funciona como um território diplomático, o qual o governo considera como um território estrangeiro. A zona elimina a necessidade para marcas globais de pagar impostos ou taxas em componentes importados. E isso torna desnecessário exportar produtos fisicamente. Nestas zonas, os produtos podem ser importados e exportados virtualmente em alfândegas, sem cruzar nenhuma fronteira. Após isso, eles podem mover facilmente produtos pelo país ou para o resto do mundo.

A Apple disse ao Times que sabe sobre o apoio do governo, mas que não tem conhecimento específico dos subsídios obtidos pela Foxconn. A Foxconn, por sua vez, disse que é grata pelo apoio do governo.

O que esta investigação mostra é quão difícil seria para a Apple tirar a fabricação de seus produtos da China. Donald Trump disse a Tim Cook em novembro que iria criar incentivos para a empresa com o objetivo de convencer a Apple a ter fábricas nos Estados Unidos. Ele ainda disse: “estamos considerando um grande corte em impostos para as empresas.”

Porém, cortes de impostos não vão criar grandes fábricas. E qualquer ajuda oferecida pelo presidente eleito dificilmente vai competir em cabo de igualdade com os subsídios e os incentivos que o governo chinês ofereceu para a Foxconn na cidade do iPhone.

Desconsiderando todas as razões pelas quais o iPhone não seria fabricado nos Estados Unidos — como a falta de trabalhadores capacitados — o fato é que o governo chinês e o fabricante de produtos da Apple tem um trato bem orquestrado. E isso antes mesmo de considerar o custo da mão-de-obra que é menor e o fato de muitos componentes serem feitos também na Ásia.

Além disso, é necessário considerar o que a Apple conseguiria se fizesse o iPhone nos Estados Unidos. É lógico: isso faria alguns compradores muito felizes, no entanto, o iPhone é um produto global. Não faria muito sentido.

Quando o presidente Obama perguntou para Steve Jobs se ele tentaria fazer o iPhone nos Estados Unidos, Jobs foi claro: “esta mão-de-obra não volta mais para cá”. Após alguns anos, parece que a afirmação é absolutamente verdadeira. Portanto, não importa muito o que Trump falar sobre o assunto.

[The New York Times]

Foto do topo por AP

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