Facebook x Telegram: como foi o encontro de Zuckerberg com Pavel Durov em 2009
Volta e meia o Telegram vira notícia em todo o mundo, principalmente quando o aplicativo de mensagens recebe uma avalanche de novos usuários –sempre após alguma eventual falha em redes sociais rivais, como o Facebook ou WhatsApp.
Por mais que Telegram e Meta sejam hoje empresas rivais, os seus criadores –o russo Pavel Durov e o americano Mark Zuckerberg, respectivamente –, já tiveram um encontro amistoso, incluindo um jantar na casa do dono do Facebook.
Mark já é conhecido de todos: o jovem programador e controverso empresário que fundou a maior rede social do planeta, com quase 3 bilhões de usuários.
Já Pavel, é o fundador e proprietário do Telegram, que tem meio milhão de usuários ao redor do globo. Além do Telegram, ele criou a Vkontakte –que mais tarde passou a ser conhecida como “VK”–, a maior rede social da Rússia.
Para alguns, os dois empresários são vistos não apenas como rivais, mas também como “almas gêmeas”, inclusive com Durov sendo chamado de o “Zuckerberg da Rússia”.
Quem é Pavel Durov?
Pavel é mestre em ciências pela Universidade Estadual de São Petersburgo e atualmente tem uma fortuna avaliada em mais de 17 bilhões de dólares.
Ele criou o Telegram em 2013, junto com o irmão, Nikolai, e a VK, em 2015.
O russo se autointitula uma pessoa apolítica e chegou a brincar que não apoiava realmente a democracia.
Segundo a revista Forbes, Durov deixou a Rússia e foi para Dubai após se recusar a cooperar com o serviço secreto russo e fornecer dados criptografados dos usuários da VK.
“Assim que uma agência consegue monitorar incontrolavelmente as comunicações privadas, logo esse acesso cai nas mãos de terceiros – subornadores, hackers, agentes de outros países”, disse Pavel Durov.
Desde que deixou a Rússia, ele tem postado na internet (em seu perfil no Instagram, diga-se) algumas fotos em resorts luxuosos na Indonésia, em mares de Bali, além de prédios em Paris, Roma, Florença e Veneza.
Ele também costuma fazer mensagens provocativas ao presidente russo, Vladimir Putin.
O encontro em Palo Alto
A reunião entre Zuckerberg e Durov ocorreu em 2009, quando uma pequena delegação da VK visitou a sede do Facebook em Palo Alto, uma cidade na Califórnia, nos Estados Unidos.
A viagem foi organizada pela empresa de investimentos russo-israelense Yuri Milner, que tinha participações nas duas empresas de tecnologia.
O convite para o jantar partiu do próprio Zuckerberg.
De acordo com relatos, divulgados pela Wired, tanto Pavel quanto Mark concordavam que as redes sociais eram superestruturas sobre a humanidade que permitiam que a informação se espalhasse além do controle centralizador de governos e estados, os quais eles consideravam como “ultrapassados”.
Entretanto, o russo tinha a visão de que o americano já havia cedido às pressões e ao establishment do mercado.
Conversa amistosa
Durante o jantar, por mais que o Facebook tenha uma enorme quantidade de recursos, Zuckerberg estava especialmente interessado em saber como a VK funcionava.
Por exemplo, o dono do Facebook queria aprender como uma equipe de apenas 20 pessoas conseguia fazer a rede social russa carregar tão rápido.
Também houve questionamentos de ambos os lados sobre a expansão dos dois serviços em novos mercados.
Ironicamente, pouco depois, a VK lançou uma versão internacional em vários idiomas, enquanto o Facebook começou a atender ao mercado russo.
Anos depois, a rivalidade entre os dois ficou mais evidente, com Pavel fazendo críticas públicas ao WhatsApp, principalmente pela falta de sincronização entre dispositivos, além das limitações no uso de grupos e envio de arquivos grandes.
“Não importa quantos outros aplicativos de mensagens existem se todos forem ruins. Para mim e para a maioria da minha equipe, o WhatsApp é o pior”, disse Durov.
Mais recentemente, Zuckerberg ficou furioso com a ideia do russo de criar uma plataforma de negociação de criptomoedas a partir do Telegram, na mesma época em que estava sendo lançado o Facebook Pay.
A liberdade do Telegram
Enquanto o Facebook tem sido constantemente criticado por não conseguir reprimir o discurso de ódio, a desinformação e o ambiente tóxico que se formou na rede social, o Telegram faz pouco ou nenhum esforço para moderar o conteúdo –com exceção daqueles ligados à pornografia e incitação à violência.
Diferentemente do rival, o aplicativo russo não possui anúncios e nenhum algoritmo de controle de conteúdo. Por mais que ele seja listado entre as maiores plataformas do mundo, o Telegram tem apenas algumas dezenas de funcionários. Para comparação, o Facebook tem uma equipe com mais de mil colaboradores.
O Telegram tem o lema de ser uma plataforma livre e disponível para todos, independentemente de política ou ideologia.
Essa falta de moderação ligou o sinal de alerta em todo o mundo. Mais recentemente, as autoridades brasileiras estão preocupadas com a potencial disseminação de fake news durante a eleição presidencial de 2022.
Por sua vez, o Telegram ignora os apelos do Brasil, correndo-se o risco de a plataforma ser banida no país.
A queda do Facebook e a ascensão do Telegram
Após 18 anos de crescimento, o Facebook viu recentemente uma queda no número de usuários ativos diários. No geral, a rede continua bem –com 2,91 bilhões de usuários–, mas, o número total de DAUs (usuários ativos diários), caiu para 1,929 bilhão no último trimestre de 2021.
Existe ainda uma tendência de estabilidade no crescimento do Facebook, o que acendeu o sinal de alerta na Meta e nos investidores.
Segundo Zuckerberg, a queda no Facebook se dá pela saída do público mais jovem da plataforma para apps rivais, principalmente o TikTok.
Já o Telegram vem conquistando cerca de 100 milhões de novos usuários a cada ano, ultrapassando a marca de 500 milhões no ano passado.
Em janeiro de 2021, por exemplo, os downloads do Telegram aumentaram depois que o popular aplicativo conservador Parler foi retirado do ar.
Na última grande falha da Meta, em outubro de 2021, que deixou o Facebook, Instagram e WhatsApp fora do ar por mais de seis horas, o Telegram bateu um recorde de 70 milhões de novos usuários em um único dia.
O Telegram projeta que alcançará a marca de 1 bilhão de usuários em 2022.