Família americana tem 1ª menina em 138 anos: como isso é possível?

Na família Clark, dos EUA, nenhuma menina nascia desde 1885. Não se sabe ao certo por que isso acontecia
Família americana tem 1ª menina em 138 anos: como esse caso é possível?

A família Clark, de Michigan, nos EUA, chamou a atenção da internet nas últimas semanas: nasceu a primeira menina em 138 anos de história familiar. Segundo o patriarca Andrew Clark, os descendentes do seu lado da família eram todos do sexo masculino desde 1885. 

Mas, em 17 de março, Audrey veio ao mundo para quebrar a hegemonia masculina. “Foi uma grande surpresa para todos nós”, contou Clark ao programa “Good Morning America”, da emissora ABC

Andrew e Carolyn já eram pais do pequeno Cameron, de 4 anos, quando descobriram que estavam “grávidos” novamente. Eles lembram que se surpreenderam na revelação do sexo biológico. “Nunca pensamos que teríamos uma menina”, disse o pai.

Segundo Andrew, outros tios e primos tiveram filhas mulheres mas sua parte da família só gerou meninos, sendo ele o primeiro pai de menina em mais de um século. A questão é: como isso é possível? 

Família americana tem 1ª menina em 138 anos: como esse caso é possível?

A pequena Audrey Clark, a primeira descendente do sexo feminino da família Clark. Imagem: Carolyn Clark/Reprodução

Coincidência? 

Podem até existir “simpatias” e crenças para “escolher” o sexo do bebê, mas a verdade é que é praticamente impossível controlar esse tipo de coisa. Não existe um gene que predispõe aos Clarks só terem filhos homens nos últimos 100 anos, por exemplo. 

Na grande maioria das vezes, o sexo biológico, determinado no momento da fecundação, vai ter sempre 50% de chance de ser feminino ou masculino. A “escolha” ocorre ao acaso: se o cromossomo X, presente nos óvulos, se juntar a outro cromossomo X do espermatozóide, o bebê será uma menina. Já se o espermatozóide carregar um cromossomo Y, quem virá é um menino. 

Ao todo, a espécie humana tem 46 cromossomos, sendo 23 da mãe e 23 do pai. As mulheres, porém, têm cromossomos homólogos (XX), então só poderão doar um cromossomo sexual X para o filho. Por isso, quem define o sexo é o pai, que pode entregar um cromossosmo X ou Y no espermatozóide. 

É possível influenciar a escolha do sexo do bebê? 

A ciência ainda tenta descobrir que existem fatores que colaborem para o “acaso” envolvido na definição do sexo dos bebês. O que existe é a hipótese de que eventos e circunstâncias pontuais sejam capazes de alterar a proporção populacional a favor de um sexo em detrimento de outro. 

Um estudo da University College London, de 2015, por exemplo, aponta que a idade dos pais e uma combinação de hormônios que acontece no corpo da mãe na hora da concepção pode ter alguma influência, mas ainda não há clareza sobre como isso acontece exatamente. 

Em 2020, pesquisadores da Universidade de Córdoba, na Espanha, questionaram se o treinamento físico de atletas masculinos de elite, como jogadores de futebol, poderia influenciar no sexo de seus filhos. 

No estudo, a equipe de cientistas identificou que os atletas da primeira divisão espanhola tinham mais filhas mulheres. Eles, então, pensaram que isso poderia ser resultado das cargas de exercícios mais intensas.  

A conclusão: estressores – como os treinos de alta intensidade –, podem ter alguma influência no sexo dos filhos, mas este foi apenas o primeiro estudo e é preciso seguir adiante para confirmar a possibilidade. 

Outra pesquisa realizada em 2021 com mães da África subsaariana aponta que, quanto maior o intervalo do primeiro para o segundo filho, menor a chance de nascer um menino. Os achados também sugerem que fetos de meninos tendem a não sobreviver até o final da gestação em casos de privação e alto nível de estresse durante a gravidez. 

O que explica só meninos Clark? 

É possível que tudo não passe de uma grande coincidência: a família Clark só teve a primeira menina agora porque foi assim. 

Mas também é possível que as mulheres Clark não tenham passado por grandes níveis de estresse durante a gravidez, o que fez com que mantivessem seus fetos do sexo masculino sem abortos espontâneos, por exemplo, como mostram os estudos. 

Outra possibilidade é que os homens Clark tenham operado em trabalhos de grande intensidade, o que possibilitou o nascimento de meninas. A verdade é que é difícil dizer. Para ter certeza, seria preciso fazer uma análise a fundo da história da família a longo prazo, e não há informação de que eles tenham feito isso até agora.

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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