Ontem, os desenvolvedores de um app chamado LIVR começaram a telefonar para jornalistas de tecnologia. Eles tinham uma ideia fantástica: uma rede social que só pode ser acessada por bêbados, e usa um bafômetro como acessório para verificar seu nível de bebedeira. Mas ele não existe. O LIVR é uma mentira.
O LIVR entrou em contato conosco ontem pela manhã através de um press release enviado para a nossa caixa de entrada. Era um press release bastante convincente, o suficiente para dizer que o LIVR existia.
LIVR age como um segurança biométrico para uma festa global. Antes de acessar, o usuário deve soprar um bafômetro e demonstrar um nível mínimo de álcool. Todos os usuários na rede devem atingir um nível mínimo de intoxicação para garantir que todo mundo conectado à rede em certo momento esteja em um nível parecido. Conforme os usuários metabolizam o álcool, eles precisam beber mais, e então fazer novamente o teste.
O app inclui recursos como Drunk Dial™, que aleatoriamente conecta duas almas bêbadas, e Verdade ou Desafio, que “conecta usuários para desafiá-los a completar atividades, ganhando pontos LIVR quando eles conseguem”. Parece legítimo.
O release por fim leva a este vídeo (extremamente bem produzido), que lembra qualquer outro vídeo de promoção de apps sociais já feito. Eis os criadores do LIVR Kyle Addison e Avery Platz.
Foram muitos os sites que publicaram a sua existência, incluindo Elite Daily, Pocket Lint, The Next Web, Daily Mail, Daily Dot, Engadget e muitos outros, e todos falaram que ele era autêntico. E certamente muita gente ainda vai falar sobre ele. O problema é que ele é uma mentira.
O bafômetro
Vamos considerar que um app que encorajava pessoas a ficarem bêbadas e tomarem decisões erradas não violasse ao menos um dos termos de serviço da App Store da Apple. Coisas estranhas aconteceriam. O mais bizarro é que o bafômetro do LIVR custaria apenas US$ 5. Isso é impossível.
Bafômetros para iOS existem. Aos montes. Este é real, e este busca financiamento coletivo. O que ambos têm em comum é que eles custam muito mais do que US$ 5. Muito mais mesmo. Isso porque bafômetros que funcionam com smartphones são difíceis e caros de se produzir.
Sim, start-ups vendem hardware com prejuízo o tempo inteiro. Mas cinco mangos é barato demais.
Os fundadores
É compreensível acreditar que o LIVR seja real até o momento. Muitas ideias piores encontraram financiamento, e muita gente já prometeu hardware barato. Mas o LIVR é fake. Pergunte a Kyle Addison e Avery Platz, os supostos fundadores da empresa, que também são pessoas imaginárias.
Uma busca no Google não encontrou nenhum programador chamado Avery Platz (fora do noticiário recente sobre o LIVR). Existem agluns Kyle Addisons por aí, mas o perfil de nenhum deles no LinkedIn se encaixa no suposto criador do LIVR:
E é estranho que nenhum desses nomes da Web 3.0 esteja no Twitter.
Tudo isso faz mas sentido quando você percebe que o programador Avery Platz é, na verdade, o comediante Matt Mayer.
Não sei quem interpreta Kyle Addison, mas acredito que também seja um ator.
Então sim, o LIVR é falso. Um hoax muito bem produzido e totalmente acreditável criado no momento certo. As questões restantes são… por que? e quem?
Os responsáveis
Não está claro ainda quem está por trás do LIVR, mas muito esforço foi feito para fazer com que ele ao menos parecesse legítimo. O vídeo é excelente, o website, Twitter e Instagram também são convincentes. Então quem está por trás disso?
Uma busca pelo domínio livr-app.com mostra que ele foi registrado há menos de um mês, mas seja lá quem fez isso, usou um sistema de anonimato. Entramos em contato com o LIVR, através do Twitter e do endereço de email, e com o ator Mayer para saber mais sobre isso.
De qualquer forma, o LIVR é uma paródia admirável, um bom exemplo de como a cultura de start-ups está cheia de ideias cada vez mais malucas e tem todo o apoio da mídia em geral. Um brinde aos criadores do LIVR!