“É necessário ter um olhar crítico para canais de coaches, empreendedores e qualquer site que envolve ensinar como ganhar dinheiro na internet. Vale sempre a pena olhar isso com cuidado, inclusive em relação às barreiras éticas e ilegalidades envolvidas no processo. Afinal, quando a esmola é demais, o santo desconfia”.
“Fazendas de clique”: como escapar da prática que mira desempregados
Apesar do desemprego no Brasil estar no menor patamar desde 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existe uma parcela da população que não tem renda fixa. Essas pessoas se tornam alvos das “fazendas de cliques”, que prometem aos desempregados remuneração fácil, rápida e sem sair de casa, por meio das redes sociais.
As promessas teoricamente incríveis enchem os olhos de qualquer pessoa que precisa de dinheiro para pagar as contas e colocar comida na mesa de casa. Nessa situação, é difícil pensar na possibilidade de estar fazendo um negócio ruim. Contudo, não costuma haver final feliz ao trabalhar em plataformas que “fabricam” popularidade digital para outras pessoas.
As “fazendas de cliques” existem a muitos anos, mas ganharam visibilidade em 2022, quando o ex-BBB Arthur Aguiar fez publicidade para uma dessas plataformas no Instagram. Com nomes diferentes — Ganhar nas Redes, Dizu, E2A, entre outros —, todas elas têm o mesmo objetivo: gerar engajamento para os clientes que buscam aumentar a influência online.
O negócio é bastante forte em países do sudeste asiático. No Vietnã, por exemplo, como noticiado pela CNN, o fotógrafo britânico Jack Latham fotografou um trabalhador das fazendas de cliques. Lá, é comum uma única pessoa ficar rodeada de celulares em uma espécie de galpão, cultivando curtidas, comentários e compartilhamentos em diversos perfis, ao mesmo tempo.
Como funcionam as fazendas de cliques no Brasil
Aqui no Brasil, porém, a estratégia das plataformas é um pouco diferente. Para entender a situação e saber como escapar da prática, o Giz Brasil conversou com Rafael Grohmann, professor de Estudos Críticos de Plataformas e Dados da Universidade de Toronto e coordenador do Laboratório de Pesquisa DigiLabour.
Grohmann explicou que, no Brasil, as fazendas de cliques têm duas características específicas. Além de funcionarem por meio de plataformas digitais nas redes sociais em vez de galpões, os perfis trabalham somente no mercado interno.
É comum, por exemplo, existirem plataformas brasileiras, com clientes e trabalhadores também brasileiros. Segundo o professor, alguns motivos que sustentam esse funcionamento é o fato do Brasil ser um país de escala continental e o alto consumo de mídias sociais em todas as regiões.
Essas características exigem que os brasileiros se tornem alvos fáceis para esse tipo de prática. O problema é que, no final, muitos saem de mãos vazias, acreditando em promessas vazias.
Para escapar da prática, é preciso ter senso crítico
Não existe uma receita pronta para escapar do trabalho em fazendas de cliques. Apesar de parecerem propostas boas, Grohmann destacou que “tudo que envolve ganho e renda fácil é preciso desconfiar”.
Geralmente, as fazendas de cliques atuam em uma zona cinzenta que não tem amparo da Justiça e não reconhecem vínculo com os trabalhadores. Grohmann apontou que muitas pessoas não ganham nada no final do mês, porque não conseguem comprar o trabalho que realizaram.
“Quando começa o trabalho, você cria uma conta fake. O problema é que essa conta fake pode ser bloqueada pelas redes. Com a conta bloqueada, a pessoa não recebe o dinheiro, porque não tem como a plataforma checar”, explicou o professor.
Aliás, de acordo com Grohmann, muitas plataformas se vendem como empresas de marketing digital. Por isso, pode ser difícil perceber que a proposta, na verdade, se trata de uma promessa vazia.
Meta se movimenta para limitar fazendas de cliques
Hoje em dia, as redes sociais buscam limitar a atuação das plataformas de fazendas de cliques. Em agosto de 2022, de acordo com uma reportagem da Folha de S.Paulo, a Meta processou as empresas MGM Marketing Digital e Igoo Networks, alegando um esquema de venda de seguidores, curtidas e visualizações nas redes sociais.
Além das duas ações judiciais, a empresa enviou notificações extrajudiciais a outras 40 empresas que atuavam tanto no Instagram quanto no Facebook.