Cada navegador tem uma algo que o diferencia dos outros. O Microsoft Edge tem aquele logotipo. O Chrome consome sua memória. E o Firefox da Mozilla se preocupa com sua privacidade. A ideia de manter uma navegação mais pessoal é algo que a empresa tem enfatizado em todas as atualizações nos últimos anos. Logo, é natural que essa experiência seja um componente-chave da nova versão do browser para Android.
Batizado de Firefox Daylight, o update foi desenvolvido para ser mais limpo e mais personalizável do que as gerações anteriores do Firefox para Android. E engana-se quem pensa que as novidades se limitam a um ou dois novos recursos: trata-se de uma reformulação completa, semelhante ao que aconteceu na estreia do Firefox Quantum, no ano passado. Usuários no continente europeu já podem baixar a atualização, enquanto o pessoal da América do Norte terá acesso no final desta semana, em 27 de agosto.
Primeiro, vamos falar sobre a maior mudança presente no Daylight: ele roda inteiramente no mecanismo da própria Mozilla para Android, o GeckoView. Para isso, a companhia precisou começar do zero (literalmente), e usou como testes o navegador com privacidade total Firefox Focus.
Mesmo trazendo esse diferencial de uma utilização mais segura, o programa era executado no mecanismo da Web Blink, criado pelo Google e que serve como base para o Chrome e Edge.
Como o Google é, bem, o Google, faz todo o sentido uma empresa como a Mozilla, que é tão focada na privacidade, querer evitar qualquer tipo de dependência da tecnologia de back-end do Google, mesmo que muitos usuários de Firefox não deem tanta importância para essa característica.
Claro que começar um projeto do zero tem lá suas vantagens. Como a Mozilla é criadora do Focus e do Daylight, além do mecanismo em que ambos são executados, a empresa agora passa a ter total controle do próprio ciclo de lançamento e futuras atualizações para o novo browser. A partir de agora, se a Mozilla quiser adicionar algum outro recurso, não precisará mais de autorização de terceiros para testá-lo. E por não depender do mecanismo Blink, do Google, o software não é afetado por eventuais problemas de segurança que possam surgir em futuras versões do GeckoView.
Além disso, segundo a Mozilla, usar o GeckoView como base deve deixar o Firefox no Android mais rápido. Os usuários, em especial aqueles que possuem smartphones com telas grandes, agora poderão alternar facilmente entre a barra de endereço e as partes inferior e superior de uma janela, semelhante a um recurso que o Google implementou no Chrome. E como entusiasta do modo escuro, eu gosto que o Daylight oferece aos usuários a possibilidade de alternar manualmente entre temas claros e escuros, ou configurá-los para mudar de forma automática de acordo com o horário do dia.
O Daylight também inclui algumas funções favoritas dos usuários de Firefox para desktop. Entre elas estão as Coleções, que permitem agrupar guias em grupos para organizar melhor as coisas. Tem ainda o recurso Picture-in-Picture (PiP), que minimiza o vídeo em reprodução em uma determinada guia para que você possa continuar assistindo aquele conteúdo ao mesmo tempo em que acessa outros sites.
O Daylight inclui a função “Coleções”para agrupar várias abas dentro de um único grupo. O modo escuro também está presente na atualização. Imagem: Mozilla
Agora que destacamos os pontos positivos do Daylight, chegou a hora de dizer como a nova atualização do Firefox deixou a desejar para mim – e, surpreendentemente, é na questão envolvendo privacidade.
Minhas queixas não são para o Daylight em particular, mas para a tecnologia ETP (Enhanced Tracking Protection), que a Mozilla coloca em todos os seus navegadores móveis. É uma função automática que apaga cookies de terceiros e outros tipos de informações digitais que podem ser usados para práticas muito assustadoras. Por padrão, o Firefox bloqueia dezenas de rastreadores e bits segmentados que podem ser descartado sempre que você visita um site. A promessa da empresa é que esses rastreadores serão apaagados do sistema do Firefox a cada 24 horas.
Eu entendo perfeitamente por que o Firefox prioriza os próprios cookies em vez de utilizar os de terceiros. Contudo, se a Mozilla realmente se preocupa com privacidade da maneira que diz se preocupar, então a empresa precisa adotar medidas que afetem as próprias preferências. Existem milhares de sites cujo trabalho é literalmente “sincronizar” dados de fontes primárias com outras informações digitais que você ou seu navegador podem ter deixado dando sopa em algum lugar da internet. E uma vez que esses rastreadores primários são sincronizados, qualquer pessoa que tenha o mínimo conhecimento no espaço de dados ainda poderá rastrear sua atividade online, mesmo que não haja mais cookies para serem encontrados.
Como o Daylight incorpora a tecnologia ETP, e sabe-se que ela possui uma brecha enorme em suas defesas, a nova atualização do Firefox é aquele que diz ser privado – e parece privado, de fato -, mas no final das contas ainda está longe de ser perfeito. Bom, pelo menos não é o Chrome.