Nós todos sabemos do acordo que fazemos quando entramos no Facebook: temos um lugar onde postar fotos das férias e espiar os amigos, e Mark Zuckerberg pode vender sua paixão por viagens de pesca para vendedores de equipamento de pesca. O que você pode não saber é a profundidade com a qual você é rastreado. Então, vamos jogar alguma luz sobre esse assunto.
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Tudo isso é concedido ao Facebook. Você está usando seus serviços, e, por sua política de privacidade, ele pode fazer o que quiser com os dados que você fornece: a política de privacidade completa do Facebook está aqui. Existem algumas formas de limitar o alcance dos tentáculos sugadores de dados do Facebook (e nós vamos mostrá-las abaixo), mas, por fim, a única forma de conseguir sua privacidade de volta é deletar a sua conta.
Algumas das relações entre as suas ações no Facebook e como a rede usa essas ações para uso financeiro é são imediatamente óbvias: vocÊ curte a página da Coca Cola e começa a ver os anúncios do refrigerante. Mas menos óbvios são os jeitos como o Facebook junta os pontos entre os dados que ele coleta, construindo um retrato de quem você é e no que você poderia se interessar — ele ser 100% preciso não importa realmente, porque ele ainda consegue mirar anúncios a uma taxa maior.
“Tudo o que as pessoas fazem, seja diretamente no Facebook ou em sites que têm o botão ‘Curtir’ do Facebook, revela informação sobre elas ao Facebook.”
“Mesmo que as pessoas estejam cientes dos dados que estão dando para o Facebook sobre eles mesmos, não sabem os tipos de correlações que o Facebook pode fazer baseado nesses dados”, Bruce Schneier, especialista em segurança e membro da sociedade do Berkman Center de Harvard, disse ao Gizmodo. “Isso é normal, nós costumamos focar nos dados coletados porque são mais fáceis de enxergar. Eu acho que o real problema são as correlações, que são muito mais difíceis de ver.”
Veja a análise de 2014 do Facebook sobre quais usuários estão em relacionamentos, mesmo que não seja declarado em seus perfis. A forma como a sua frequência de postagem revela coisas sobre a sua vida é uma das correlações que o Facebook pode usar — e isso foi três anos atrás! Os dados do experimento eram agregados e anonimizados, o Facebook diz, mas isso mostra o alcance do aparato de vigilância da rede social. Se você quiser ter uma ideia de como o Facebook nota o seu comportamento online e transforma ele em um cadastro personalizado de propagandas no site, veja a sua página Preferências de Anúncios.
“Tudo o que as pessoas fazem, seja diretamente no Facebook ou em sites que têm o botão ‘Curtir’ do Facebook, revela informação sobre elas ao Facebook”, acrescenta Schneier. “Esse é um ponto importante: o Facebook rastreia você mesmo quando não está no Facebook, por causa de sua extensiva rede de vigilância em sites que têm link para ele.”
A grande revelação
Imagem: Facebook
Mesmo se você for cuidadoso sobre as propagandas e negócios com os quais você interage no Facebook, o alcance das tecnologias da rede social significa que é muito difícil ficar completamente irrastreável enquanto se movimenta pela internet.
Carregue a página de política de propagandas do Facebook e você consegue aprender sobre algumas das formas como você pode estar se expondo a anunciantes ansiosos — o Facebook sabe quando você compartilha informações, sabe quando você compartilha informações com um negócio, quando entra em um programa de fidelidade ou até mesmo quando acrescenta itens ao seu carrinho de compras que você nunca compra.
Conforme os algoritmos do Facebook ficam mais espertos, seu rastreamento automático também fica. Por exemplo, o reconhecimento facial é um bom truque de inteligência artificial que você pode usar quando você quer achar todas as fotos nas quais você e os seus melhores amigos estão juntos, mas também significa que o Facebook pode agora reconhecer você em fotos sem você ter o esforço de se marcar, algo que trouxe problemas para a plataforma na Europa.
“Conforme as imagens são postadas e você é marcado… o reconhecimento facial vai sendo refinado”, Craig Spiezle, presidente do Online Trust Allowance, disse ao Gizmodo. “Usuários entendem as implicações? Por exemplo, se tem uma foto em grupo de um projeto ou um evento, você pode automaticamente ser reconhecido e marcado.”
“As configurações podem ser complexas e, embora eu ache que o Facebook tente providenciar notificações de mudanças, acredito que o usuário padrão as ignore”, acrescentou Spiezle, dizendo que apesar de essas funções de rastreamento poderem ser desativadas em certos casos, “todas vêm com uma contrapartida na experiência do usuário” na rede. O que significa que, para aproveitar ao máximo o potencial do Facebook, você precisa abrir mão de muito da sua privacidade.
Imagem: Captura de tela
O Facebook não é a única empresa trabalhando com reconhecimento facial e não é a única companhia que teve que responder perguntas sobre como seu escaneamento automático pode ser usado para nos rastrear no mundo físico quando não estamos cientes disso. Existem muito mais exemplos sobre como o Facebook acompanha o perfil de usuários:
Onde você está indo: O grande ponto de big data que o Facebook consegue quando você instala seus aplicativos móveis é saber onde você está a cada segundo do seu dia. Isso dá informação sobre as bandas que você está vendo, os pontos turísticos que você gosta e até mesmo as lojas individuais em que você entra. Se não estiver feliz com isso, você pode tirar essas permissões no Android e no iOS.
Os sites que você visita: Tantos sites e serviços de terceiros usam a tecnologia do Facebook, de botões de ‘Curtir’ a opções de login, que o Facebook tem uma boa ideia do que você está fazendo quando não está de fato dentro do Facebook. Se você quiser limitar como esses dados podem ser coletados e usados, então você precisa dar uma arrumada nas suas configurações do Facebook.
O seu status financeiro: Mesmo que você nunca escreva sobre as suas preocupações (ou alegrias) com dinheiro no Facebook, ele pode ainda assim começar a construir uma boa análise da sua posição financeira para vender para os anunciantes. Como? Ao combinar pontos de dados como as suas compras online e onde você mora, junto com os registros fornecidos pelos seus parceiros de marketing de várias fontes.
Atualizações de status que você quase posta: O Facebook consegue dizer quando você está prestes a escrever algo e depois pensa melhor, como a pesquisa de 2012 mostrou (apesar dos conteúdos das suas constatações autocensuradas não ficarem guardadas). Se você está pensando em fazer um post bêbado ou um comentário ácido, é melhor pensar direito, o Facebook vê a sua indecisão.
Aplicativos que você instala: Não é só com a política de privacidade do Facebook que você precisa se preocupar, mas também com como os aplicativos de terceiros estão usando seus dados — embora aqueles testes de Facebook possam parecer inofensivos, dizer ao mundo que bandas você viu dá outro ponto de dado aos anunciantes. Fique atento às permissões que os aplicativos pedem e remova aqueles de que você não precisa.
Aplicativos que os seus amigos instalam: Más notícias: os aplicativos que os seus amigos tontos instalam podem pegar informações que você compartilha com eles também. Para limitar isso, vá para a sessão Aplicativos das configurações do Facebook e remova todos os aplicativos com os quais você não se sente confortável. Como uma alternativa, deixe de ser amigo dessas pessoas.
Quando você está se sentindo triste: Outro truque dos algoritmos do Facebook é saber quando você está pra baixo. Esse é um dos pontos de dado que o Facebook promete não estar vendendo para os anunciantes, mas é um indício da forma como todos esses sinais de redes sociais podem combinar para tirar algumas conclusões bem reveladoras sobre você.
Os outros aplicativos do Facebook: Mesmo que você mal toque o Facebook, a rede social pode ainda assim vasculhar informações sobre você através dos aplicativos que são deles, como Instagram e WhatsApp. Se você quer fazer isso parar, pode desligar o compartilhamento de dados do WhatsApp, apesar de você ainda estar mais ou menos preso se você for um usuário de Instagram.
Você sabe onde os seus dados estão?
Imagem: Facebook
O Facebook vê tudo que você faz na plataforma, apesar de oferecer algum controle decente sobre quem mais pode ver suas postagens e quem não pode. Às vezes, no entanto, essas linhas não são tão claras quando você acha, e, com um pouco de conhecimento, outras pessoas podem ver mais fundo no seu perfil do que você gostaria.
Michael Bazzell coleta publicamente dados disponíveis publicamente online para seu trabalho como especialista de segurança (ele serviu como conselheiro técnico para o Mr. Robot) e foi capaz de nos mostrar como checar as grandes informações sobre você que você pode estar revelando sem saber. Primeiro, venha aqui, clique no link Facebook na parte esquerda da página e entre com o seu nome de usuário no FB User Name para ver seu número de perfil (uma longa série de dígitos). Entre no Facebook e tente algum dos seguintes endereços para ver o que você (ou os seus amigos) tem feito.
Lugares que onde você entrou:
www.facebook.com/search//places-checked-inEventos onde você vai/tem interesse:
www.facebook.com/search//eventsFotos nas quais você comentou:
www.facebook.com/search//photos-commentedVídeos de Facebook que você curtiu:
www.facebook.com/search//videos-liked
Você pode coletar dados aqui que não são necessariamente disponibilizados através do seu perfil e pode até em alguns casos ser visto por pessoas que não são suas amigas no Facebook, contanto que as postagens sejam públicas (aqui vai o que Mark Zuckerberg tem checado). Se outras pessoas podem descobrir esses tipos de resultados com alguns cliques, imagine o que está acontecendo nas profundezas dos servidores do Facebook.
“Os exemplos acima foram feitos legalmente e dentro das intenções de busca do Facebook”, Bazzell, que não posta nada no Facebook, nos disse. “Não tinha nada mais escuso. Eu só puxei dados tornados públicos”.
“A minha visão é que qualquer coisa postada em uma rede social é dado público, independentemente das configurações de privacidade. Eu não culpo o Facebook, eu culpo todos nós por não investigarmos as companhias que querem nossos dados. O Facebook não cobra nada de seus usuários, ainda assim ganha bilhões de dólares. Os usuários são o produto.”
Cabe a você achar que os serviços do Facebook (ou Google ou Apple ou Amazon) são úteis o bastante para serem trocados pela sua privacidade, mas o que é certo é que estamos em uma nova era do rastreamento de dados, uma que vai além da informação que estamos cientes de estarmos compartilhando.