Um fóssil brasileiro encontrado recentemente é a evidência mais antiga do traço evolutivo que permitiu o surgimento dos dinossauros gigantes. Esses animais normalmente são retratados como seres gigantescos – mas nem sempre foi assim.
Os ossos são o elo que faltava entre os primeiros dinossauros, cujo tamanho chegava a no máximo três metros de comprimento, e os mais recentes, que podiam ser maiores que dois ônibus e se popularizaram no imaginário das pessoas.
Com cerca de 225 milhões de anos, o fóssil brasileiro ganhou o nome de Macrocollum itaquii. O bípede foi escavado no município de Agudo (Rio Grande do Sul) e é um sauropodomorfo, ancestral dos gigantes dinossauros quadrúpedes e pescoçudos.
O nome “Macrocollum” significa pescoço longo. Já “itaquii” é uma homenagem a José Jerundino Machado Itaqui, pesquisador gaúcho que foi um dos responsáveis pela criação do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Hoje é o espaço que guarda os fósseis do animal.
Essa é a espécie mais antiga estudada até hoje que possui estruturas conhecidas como “sacos aéreos”. Agora, cientistas apontam que foi essa característica que permitiu compreender melhor o surgimento dos dinossauros gigantes, preenchendo uma lacuna evolutiva.
De dinossauros pequenos para gigantes
Sacos aéreos são os espaços ocos nos ossos, que ainda estão presentes nas aves atuais. Essa estrutura ajudou os dinossauros a obter mais oxigênio, resfriar o corpo e suportar as duras condições de seu tempo. E parece que foi isso que possibilitou que eles se tornassem gigantes.
A descoberta está em um artigo publicado em março na revista Anatomical Record. “Os sacos aéreos tornaram os ossos menos densos, permitindo que os dinossauros pudessem superar 30 metros de comprimento”, explicou Tito Aureliano, pesquisador da Unicamp e o principal autor do estudo.
“O Macrocollum foi o maior de seu tempo, com cerca de três metros de comprimento”, disse. “Poucos milhões de anos antes os maiores dinossauros tinham em torno de um metro. Os sacos aéreos certamente facilitaram esse aumento de tamanho”.
Segundo ele, a espécie encontrada no Rio Grande do Sul foi um dos primeiros dinossauros a pisar na Terra, no período Triássico. Essa adaptação permitiu que crescessem e resistissem ao clima dali para frente, como nos períodos Jurássico e o Cretáceo.
“Os sacos aéreos foram uma vantagem evolutiva sobre outros grupos, como os mamíferos, permitindo aos dinossauros se diversificarem mais rapidamente”, explicou Fresia Ricardi Branco, professora do IG-Unicamp, que também assina o artigo.
Em estudo anterior, o grupo havia mostrado que os fósseis mais antigos não tinham evidências de sacos aéreos. Isso sugere que essa característica evoluiu pelo menos três vezes de forma independente.
Evolução não linear
Até a descoberta dos sacos aéreos no fóssil brasileiro, esses espaços vazios dentro das vértebras eram conhecidos por terem duas formas possíveis: “câmaras” e “camelas”.
As “câmaras” são grandes espaços dentro dos ossos, bastante evidentes quando vistos por microtomografia, tecnologia usada no estudo que permite conhecer o interior dos fósseis sem danificá-los. Já as “camelas” são bem menores, porém, muito mais ramificadas, gerando, na prática, o mesmo efeito das câmaras.
O que os pesquisadores observaram no Macrocollum foi uma estrutura intermediária, nem tão grande nem tão pequena, ainda que ramificada. Esse novo traço de arquitetura óssea moldado por sacos aéreos foi chamado de “protocâmaras”.
“A hipótese mais aceita até então era de que os sacos aéreos começaram como câmaras e evoluíram para camelas. O que estamos propondo, a partir do que vimos nesse espécime, é que, antes de todas, houve esta outra forma”, pontuou Aureliano.