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Fóssil raro de réptil do Triássico é descoberto na Antártica

Descoberta mostra como a vida selvagem se recuperou após a pior extinção em massa da história do nosso planeta, no fim do período Permiano

Adrienne Stroup/Museu Field de História Natural

Os restos fossilizados de um antigo réptil que remonta a cerca de 250 milhões de anos, no período Triássico, foram descobertos no mais improvável dos lugares: na Antártica. A descoberta do fóssil raro mostra como a vida selvagem se recuperou após a pior extinção em massa da história do nosso planeta — e como a Antártica já abrigou um ecossistema diferente de qualquer outro.

Não é preciso dizer que o trabalho paleontológico na Antártica é muito diferente do que em qualquer outro lugar. Ao contrário de Alberta ou Montana, nos Estados Unidos e no Canadá, respectivamente, por exemplo, que apresentam afloramentos rochosos abundantes, a Antártica está coberta por uma enorme camada de gelo, ocultando grande parte da sua história paleontológica. E não é como se a Antártica não tivesse histórias para contar — tem muita coisa para contar. Foi apenas recentemente, nos últimos 30 milhões a 35 milhões de anos, que o continente congelou. Antes disso, ele era o lar de um clima quente, florestas exuberantes, rios velozes e uma notável abundância de vida.

Para encontrar vestígios fossilizados dessa vida esquecida, seja na Antártica ou em qualquer outro lugar, os cientistas precisam encontrar rochas. A Antártica oferece apenas duas possibilidades: ilhas ao longo de sua costa e os Montes Transantárticos Centrais — uma espinha dorsal de montanhas que cortam uma faixa pelo meio do continente. Os cumes desses montes atravessam as geleiras, criando um arquipélago rochoso — e um lugar para os paleontólogos fazerem algumas prospecções. É aqui, na Formação Fremouw dos Montanhas Transantárticos, que Brandon Peecook, paleontólogo do Museu Field de História Natural e principal autor do estudo, descobriu o raro réptil do período Triássico.

“De pé na montanha, era difícil imaginar o quanto a Antártica deveria ser verdadeiramente estranha naquela época”, disse Peecook ao Gizmodo. “Olhando ao redor, não pude ver nenhum traço de vida macroscópica por quilômetros, em todas as direções.”

Brandon Peecook fazendo prospecção na Antártica. Imagem: Roger Smith

Na verdade, a Antártica pode estar desolada e inóspita hoje, mas nem sempre foi assim. Centenas de milhões de anos atrás, a Formação Fremouw era o lar de uma floresta vibrante cheia de vida, de insetos alados a répteis herbívoros de quatro patas. A descoberta de um réptil do tamanho de uma iguana anteriormente desconhecido, apelidado de Antarctanax shackletoni, está agora aumentando o nosso conhecimento sobre a antiga glória ecológica do continente.

Antarctanax significa “rei da Antártica”, e shackletoni é a ponta do chapéu do explorador britânico Ernest Shackleton. O Antarctanax shackletoni era um arcossauro, que compartilhava um ancestral comum com dinossauros e crocodilos e viveu durante o período Triássico Inferior, há cerca de 250 milhões de anos. Ele é agora um dos primeiros lagartos a aparecer no registro fóssil. Detalhes dessa descoberta foram publicados nesta quinta-feira (31), no periódico Journal of Vertebrate Paleontology.

O fóssil parcial consiste de uma vértebra excelentemente preservada (incluindo pescoço e costas), um crânio parcial, dois pés, algumas costelas e um osso do braço. Ele foi descoberto durante uma expedição à Formação Fremouw durante o verão antártico de 2010-2011. A análise desses ossos fossilizados (particularmente o crânio) e dos fósseis encontrados ao seu lado sugere que ele era um carnívoro de tamanho médio, que comia insetos, anfíbios e protomamíferos antigos. Roger Smith, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, e Christian Sidor, da Universidade de Washington, em Seattle, ajudaram Peecook na análise.

Um lado do fóssil, mostrando vértebras e osso do braço. Imagem: Brandon Peecook, Museu Field de História Natural

O Triássico Inferior é de grande interesse para os paleontólogos porque veio na esteira de um dos piores episódios da história da Terra — a extinção em massa do fim do período Permiano, uma época em que o vulcanismo extremo e prolongado extinguiu quase 90% da vida do nosso planeta. Isso resultou em uma ampla reinicialização ecológica, preparando o terreno para que os sobreviventes assumissem o controle. Entre esses sobreviventes estavam os arcossauros, que se aproveitaram da situação ao máximo.

“Um padrão que vemos se repetir, com distúrbios em massa como a extinção em massa do final do Permiano, é que alguns dos animais que conseguiram sobreviver rapidamente encheram os ecoespaços vazios”, disse Peecook ao Gizmodo. “Os arcossauros são um grande exemplo disso — um grupo de animais que eram capazes de fazer praticamente tudo. Esse clado ficou completamente louco.”

Lado oposto do fóssil, mostrando várias vértebras, costelas e o pé direito. Imagem: Brandon Peecook, Museu Field de História Natural

De fato, os arcossauros, incluindo dinossauros, estiveram entre os maiores beneficiários desse período de recuperação, vivenciando um enorme crescimento e diversidade. Antes da extinção em massa, essas criaturas estavam limitadas às regiões equatoriais, mas, depois, estavam “por toda a parte”, segundo Peecook —incluindo, como agora sabemos, a Antártica. O continente foi o lar do Antarctanax shackletoni cerca de dez milhões de anos antes do aparecimento dos verdadeiros dinossauros. Como um detalhe extra, a Antártica abrigou dinossauros, mas não antes do período Jurássico.

Esta descoberta também está lançando luz sobre os distintos animais da Antártica. Como a Antártica e a África do Sul estavam fisicamente ligadas na época, os paleontólogos trabalharam sob a suposição de que as duas regiões tinham muito em comum em termos de vida selvagem local. E como os fósseis são abundantes na África do Sul, eles usaram esse registro para fazer deduções sobre o tipo de vida que provavelmente existiu na Antártica. Porém, como Peecook explicou, isso está se revelando um erro; a Antártica abrigou uma ecologia diferente de qualquer outra.

“Conhecemos muito bem o registro fóssil da África do Sul, mas na Antártica só descobrimos cerca de 200 espécies”, disse ele. “Entretanto, não encontramos essas espécies em nenhum outro lugar. Os paleontólogos só foram à Antártica algumas vezes, mas, cada vez que vão, encontram novas espécies e novas ocorrências surpreendentes — é realmente empolgante. O argumento inicial de que você poderia conectar esses dois ambientes agora está incorreto. Tem muitas coisas únicas acontecendo no registro antártico.”

O fato de a Antártica apresentar um conjunto único de espécies não é surpreendente. Como hoje, o continente estava a uma grande altitude, com dias prolongados no verão e noites prolongadas no inverno. Animais e plantas tiveram que se adaptar para sobreviver, adotando, assim, novas características físicas e estratégias de sobrevivência.

É espantoso pensar em todos os fósseis desconhecidos e fora de alcance presos sob o gelo antártico. Como disse Peecook, a Antártica guarda o registro paleontológico do que já foi um ambiente verdadeiramente exótico.

[Journal of Vertebrate Paleontology]

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