Fotografia, ricos e drama: 5 motivos para o Titanic repercutir até hoje

Por que amamos falar sobre o Titanic e deixamos outros naufrágios de lado? Nesta reportagem, o Giz Brasil traz algumas hipóteses. Confira!
Fotografia, ricos e drama: 5 motivos para o Titanic repercutir até hoje
Imagens: Reprodução

Antes e depois, outros naufrágios mortais não tiveram o mesmo apelo que a tragédia do Titanic. Apesar de ter acontecido há exatos 111 anos, volta e meia voltamos a falar dele. 

O assunto voltou à tona na última semana, depois que cinco bilionários morreram na implosão de um submarino que viajava para explorar os destroços do navio submerso a 3.800 metros de profundidade desde 1912 no oceano Atlântico Norte. 

Mas o apelo não foi “desenterrado” só por causa do submersível. Existem diversos filmes sobre o Titanic além do mais famoso, “Titanic”, imortalizado por James Cameron e vencedor de 11 prêmios Oscar em 1997. 

Em 2020, por exemplo, o documentário “The Six” falou sobre os passageiros chineses a bordo do transatlântico. Essa é só a última entre mais de 50 produções cinematográficas sobre o Titanic – um assunto que parece nunca sair do imaginário popular. 

Além do cinema, o naufrágio também inspirou livros, musicais, videogames e décadas de debate entre especialistas. Ainda hoje, está imortalizado em pelo menos sete museus ao redor do mundo e outras incontáveis exposições itinerantes. 

Mas o que há por trás da figura mitológica que se tornou o Titanic? A seguir, trazemos cinco possíveis motivos para a tragédia ser lembrada até hoje. Confira a seguir. 

Intensa cobertura midiática 

Fotografia, ricos e drama: 5 motivos para o Titanic repercutir até hoje

Capa do jornal “New York American” com a manchete do Titanic está à venda por US$ 12,95, o equivalente a R$ 62, no site Titanic Historical Society. Imagem: Titanic Historical Society/Reprodução

O Titanic afundou em 15 de abril de 1912 no meio da noite, em um lugar remoto do Oceano Atlântico, depois de bater em um iceberg. Isso significa que ninguém filmou ou fotografou o ocorrido – mas isso não impediu a intensa divulgação da história. 

Na verdade, foi possível acompanhar o desenrolar do naufrágio enquanto ele ainda acontecia. Isso porque o navio emitiu sinais de socorro antes de afundar completamente. Mas o mais importante talvez tenha sido a fotografia: jornalistas fotografaram os sobreviventes assim que eles chegaram aos EUA. 

Além disso, como boa parte dos passageiros do Titanic eram pessoas ricas, todas já haviam sido fotografadas antes da tragédia. Isso deu “rosto” para o desastre – algo raro no começo do século 20. 

Das 2.224 pessoas a bordo, pelo menos 700 sobreviveram e testemunharam as últimas cenas de horror daquela madrugada. Isso serviu – e ainda serve – como o principal material de pesquisa sobre o assunto. Na época, a imprensa também usou essas fontes para noticiar o ocorrido até onde alcançavam as ondas de rádio. 

A repercussão foi tamanha que o primeiro filme sobre o ocorrido saiu apenas 29 dias depois do naufrágio. O filme-mudo tem apenas 10 minutos e é uma produção da atriz Dorothy Gibson, uma das sobreviventes da tragédia, à época com 22 anos. Assista:  

Ricos a bordo 

Fotografia, ricos e drama: 5 motivos para o Titanic repercutir até hoje

Isidor e Ida Straus, casal norte-americano que andava na primeira classe do Titanic e morreu no desastre em 15 de abril de 1912. Imagem: Straus Historical Society/Reprodução

Apesar de existirem pessoas de todas as classes no Titanic, entre os passageiros estavam pessoas da alta sociedade convidadas a participar da travessia inaugural do transatlântico.   

Um exemplo é o casal Ida e Isidor Strauss, os fundadores da Macy’s, uma popular rede de lojas de departamento dos EUA. Os dois foram retratados no longa “Titanic” (1997), de James Cameron, como o casal de idosos que se abraça enquanto a água invade sua cabine. 

Outros exemplos incluem John Jacob Astor 4º, o primeiro milionário dos EUA, e o próprio construtor do Titanic, Thomas Andrews.

William Thomas Stead, escritor que ajudou a popularizar a língua esperanto, também está entre as vítimas renomadas. Ele era figurinha carimbada nas rodas da alta sociedade nos EUA e no Reino Unido. 

O jornalista Archibald Butt, que foi conselheiro dos presidentes norte-americanos William Howard Taft e Theodore Roosevelt, morreu na tragédia, assim como Charles Melville, chefe do sistema ferroviário do Canadá e de vários estados dos EUA. 

Ou seja, a presença de pessoas tão ricas e poderosas da época impulsionou ainda mais as notícias. Mas a história das pessoas comuns também ganha importância nesse caso. É o exemplo de Charles Joughin, o padeiro que começou a beber para lidar com a calamidade.

Rafael Avila, um criador de conteúdo sobre Titanic, contou a história no TikTok. Assista: 

@raf_avila

Fun Titanic fact you probably didn’t know. #Titanic #April15 #TitanicSinking #myheartwillgoon

♬ Titanic drunk baker – Titanic Guy Raf Avila

Sem contar, é claro, a quantidade de mortos: 1.500 perderam a vida na tragédia – motivo suficiente para atrair a atenção para o episódio. 

Detalhes sórdidos 

Fotografia, ricos e drama: 5 motivos para o Titanic repercutir até hoje

Sobreviventes do Titanic em bote salva-vidas chegam na costa dos EUA, em 15 de abril de 1912. Imagem: Library of Congress/EUA/Reprodução

Ninguém duvida como os últimos momentos do navio foram aterrorizantes. E o tempo que demorou para afundar é o mais impressionante: foram 2h40 – quase tão longo quanto o filme de 1997, que tem 3h14.

Deu tempo para algumas mulheres e crianças entrarem em botes salva-vidas e assistirem ao fim derradeiro “de camarote”. Enquanto isso, a banda continuou tocando e podiam ouvir o desespero dos que ficavam na embarcação. De fato, traumatizante. 

É claro que esses elementos contribuíram para um século de teorias e dramatização sobre a tragédia. 

“É a história implausível: o maior navio do mundo em sua viagem inaugural, supostamente inafundável e cheio de pessoas ricas e famosas, e então atinge um iceberg e afunda”, disse o historiador Don Lynch, ao Washington Post. “E desce tão lentamente que há todo um drama na representação”. 

Um pouco de história 

Veja no Google Maps o ponto exato onde está naufragado o Titanic

Imagem: WikiCommons/Reprodução

Falar sobre Titanic também é falar sobre História. Isso porque o navio representou o auge do luxo durante a revolução industrial em uma época onde o Reino Unido ainda era a maior potência global. 

A construção do transatlântico envolveu o uso de tecnologias e técnicas avançadas, como o uso do aço e vapor como fonte de energia. Isso possibilitou a produção em massa de navios e contribuíram para o crescimento da indústria marítima. 

Antes de sua viagem inaugural, a embarcação logo se tornou um símbolo de progresso e confiança nas tecnologias da época. Era um dos navios mais avançados e seguros já feitos, o que fez muita gente acreditar que era “inafundável” – o que, já vimos, não se mostrou verdadeiro.

Lembrete aos limites da vida humana 

Submarino desaparecido captou primeiras imagens em 8K do Titanic

Destroços do Titanic no fundo do mar. Imagem: OceanGate/Reprodução

Em 2012, Paul Burns, vice-presidente e curador do Titanic Museum Attraction, no estado norte-americano do Tennessee, comparou a tragédia aos ataques e mortes de 11 de setembro de 2001. 

Isso porque, segundo ele, os dois episódios envolvem um grande grupo de pessoas forçadas a tomar decisões sobre o que deveriam fazer em seus últimos momentos. 

“Esses dois desastres continuarão a ser lembrados não pelo seu horror, mas pelo o que nos ensinam sobre o drama e a dignidade de pessoas reais tomando as decisões finais de suas vidas”, escreveu ele em um texto para a CNN, em 2012. 

Cameron concorda. Segundo ele, “Titanic” (1997) só se tornou a quarta maior bilheteria da história por que fala sobre as limitações compartilhadas por todos nós. “Por isso, [o episódio] assume um grande valor metafórico e mítico na consciência humana”, disse o diretor em entrevista ao Independent, em 2005. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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