Eu entrei na água, assustado com o que poderia acontecer, e nadei até essa foca leopardo. Minhas pernas estavam tremendo, e eu estava com a boca seca… E imediatamente ela largou o pinguim. Veio na minha direção e abriu a boca… A sua cabeça tinha o dobro do tamanho da cabeça de um urso cinzento [grizzly bear]. Era imensa. Ela colocou toda a minha cabeça e a câmera dentro de sua boca e fez uma exibição da garganta, e aí aconteceu a coisa mais fantástica…
Ela saiu e pegou um pinguim vivo para mim. Veio e começou a dar o pinguim para eu comer. Ela soltava esses pinguins vivos, o pinguim disparava para longe, e ela olhava aborrecida enquanto passava por mim. Fez isso várias e várias vezes.
E aí acho que ela deduziu que eu era um predador inútil em seu oceano que provavelmente estava para morrer de fome. E acho que ela ficou bem apavorada, e começou a me trazer pinguins fracos; depois, pinguins mortos; e aí, me mostrou como comer os pinguins – ela me oferecia pinguins parcialmente consumidos. Começou a pegar os pinguins e empurrá-los à minha câmera – acho que pensou que a câmera era a minha boca, o que é o sonho de todo fotógrafo. Isso ocorreu por quatro dias.
Então eu fui à Antártica para fotografar esse animal potencialmente malvado, e no final vi esse predador, esse grande predador da Antártica, cuidar de mim, me nutrir, me alimentar por quatro dias seguidos. Foi a experiência mais incrível que eu já tive como fotógrafo da “National Geographic”.
Esse relato é de Paul Nicklen, biólogo e fotógrafo da revista “National Geographic”, que há 20 anos registra belas imagens em regiões polares do globo. 160 delas compõem o seu novo livro, “Polar Obsession”.
Gostei tanto dessa história que achei por bem transcrever parte dela aí em cima. Ficou meio capenga porque quis, na medida do possível, manter as palavras do cara, mas acho que dá para o gasto.
Quem quiser ouvir um pouco mais de Nicklen pode conferir esta rápida entrevista no ótimo “All Things Considered”, da National Public Radio norte-americana.
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