Mesmo tratadas, águas residuais de Fukushima podem representar risco para oceano

Quase uma década atrás, o terremoto e o tsunami de Tohoku-oki provocaram uma explosão na usina nuclear Fukushima Daiichi, no Japão, causando o acidente nuclear mais grave desde Chernobyl e liberando uma quantidade sem precedentes de contaminação radioativa no oceano. Nos anos seguintes, houve um processo de limpeza demorado, e os níveis de radiação na […]
Uma pessoa passa por tanques de armazenamento de água contaminada na usina nuclear Fukushima Daiichi. Foto: Tomohiro Ohsumi / AFP (Getty Images)

Quase uma década atrás, o terremoto e o tsunami de Tohoku-oki provocaram uma explosão na usina nuclear Fukushima Daiichi, no Japão, causando o acidente nuclear mais grave desde Chernobyl e liberando uma quantidade sem precedentes de contaminação radioativa no oceano.

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Nos anos seguintes, houve um processo de limpeza demorado, e os níveis de radiação na água ao redor da usina caíram para níveis seguros em todos os lugares, exceto nas áreas mais próximas. Mas, como mostra um estudo da Instituição Oceanográfica de Woods Hole (WHOI) publicado na Science na quinta-feira (6), há outro risco crescente: águas residuais contaminadas.

A água de resfriamento radioativo está vazando dos reatores nucleares derretidos e se misturando com as águas subterrâneas de lá. Para impedir que vaze para o oceano, a água é bombeada para mais de 1.000 tanques.

Usando sofisticados processos de limpeza, os trabalhadores foram capazes de remover parte dessa contaminação e desviar o fluxo das águas subterrâneas, reduzindo a quantidade que deve ser coletada diariamente. Mas esses tanques estão se enchendo, e algumas autoridades japonesas sugeriram que a água fosse despejada no oceano para liberar espaço.

A água nos tanques passa por um avançado sistema de tratamento para remover muitos isótopos radioativos. A empresa japonesa TEPCO, que está lidando com os processos de limpeza, afirma que esses processos removem todas as partículas radioativas, exceto o trítio, um isótopo de hidrogênio que é quase impossível de remover, mas é considerado relativamente inofensivo. Ele decai em cerca de 12 anos, o que é mais rápido que outros isótopos, não é facilmente absorvido pela vida marinha e não é tão prejudicial aos tecidos vivos quanto outras formas de radiação.

Mas, de acordo com o novo estudo, esse não é o único contaminante radioativo que resta nos tanques. Ao examinar os próprios dados de 2018 da TEPCO, Ken Buesseler, pesquisador do WHOI, descobriu que outros isótopos permanecem nas águas residuais tratadas, incluindo carbono-14, cobalto-60 e estrôncio-90. Ele descobriu que todas essas partículas demoram muito mais para se decompor do que o trítio, e que peixes e organismos marinhos as absorvem de forma relativamente fácil.

“Isso significa que eles podem ser potencialmente perigosos para os seres humanos e para o meio ambiente por muito mais tempo e de maneiras mais complexas que o trítio”, diz o estudo.

Embora os dados da TEPCO mostrem que há muito menos contaminantes nos tanques de águas residuais que o trítio, Buesseler observa que seus níveis variam amplamente de tanque para tanque, e que “mais de 70% dos tanques precisariam de tratamento secundário para reduzir as concentrações para um nível abaixo do exigido por lei para sua liberação”.

O estudo diz que atualmente não sabemos direito como esses isótopos mais perigosos se comportariam na água. Não podemos supor que eles se comportem da mesma forma que o trítio no oceano, porque eles têm propriedades muito diferentes. E como existem níveis diferentes de cada isótopo em cada tanque diferente, cada um precisará de uma diferente avaliação.

“Para avaliar as consequências das liberações dos tanques, é necessária uma contabilidade completa após quaisquer tratamentos secundários sobre quais isótopos são deixados em cada tanque”, disse o estudo.

Buesseler também pede uma análise de quais outros contaminantes poderiam estar nos tanques, como o plutônio. Embora não tenha sido relatado em grandes quantidades na atmosfera em 2011, pesquisas recentes mostram que pode ter sido disperso quando a explosão ocorreu. O pesquisador teme que também possa estar presente nas águas de resfriamento usadas na planta. Isso aponta para a necessidade de levar em consideração os tanques de águas residuais antes que algo seja feito para despejá-los no oceano.

“O primeiro passo é limpar os contaminantes radioativos adicionais que permanecem nos tanques e fazer planos com base no que resta”, afirmou ele em comunicado. “Qualquer opção que envolva a liberação no oceano precisaria de grupos independentes para acompanhar todos os contaminantes em potencial na água do mar, no fundo do mar e na vida marinha.”

Muitos municípios japoneses vêm pressionando o governo para que ele reconsidere seus planos de despejo oceânico e opte por encontrar uma solução de armazenamento a longo prazo, o que faz sentido, considerando que a exposição a isótopos radioativos pode causar inúmeros problemas de saúde para as pessoas. Também poderia prejudicar a vida marinha, o que poderia ter um impacto devastador nas economias pesqueiras e nos ecossistemas.

“Isso precisa ser feito da maneira correta. A saúde do oceano — e os meios de subsistência de inúmeras pessoas — dependem disso”, disse Buesseler.

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