A NET anunciou nesta quinta-feira (28) que identificou e demitiu o funcionário que assediou uma cliente por WhatsApp, além de criar um canal exclusivo para denúncias deste tipo.
Após a divulgação do primeiro relato, outras denúncias contra a NET, outras operadoras e até delegacias e departamentos públicos vieram à tona.
O caso
A jornalista Ana Prado divulgou nesta terça (26), em seu Facebook, imagens de uma conversa entre ela e um funcionário da NET — após ter recusado um pacote promocional da operadora, Ana afirma que o atendente da ligação a adicionou no WhatsApp, se dizendo curioso com a voz da jornalista.
Ana o advertiu sobre a conduta ilegal e que poderia até mesmo processá-lo. O funcionário debochou e disse ter “acesso a todos os dados dos clientes”. A jornalista cobrou explicações da NET no Facebook e no Twitter.
https://twitter.com/NETatende/status/603311045940215809
Em uma nota de esclarecimento divulgada nesta quarta (27), a NET afirma que “tomará todas as medidas cabíveis para apurar, identificar e afastar sumariamente qualquer colaborador ou prestador de serviço que faça uso indevido de informações pessoais, confidenciais e sigilosas de nossos clientes”.
A empresa pede ainda que clientes que tenham passado por situações parecidas registrem um Boletim de Ocorrência para que o fato seja apurado não apenas de forma administrativa (com a demissão do funcionário em questão), mas também na esfera criminal.
Em nota complementar divulgada ontem, a operadora afirma ter demitido o funcionário que assediou Ana e abriu um canal exclusivo para esse tipo de denúncia: clientes podem enviar suas histórias para o conduta.net@net.com.br.
Efeito cascata
A história de Ana serviu de exemplo para que outras iguais, não só da NET, surgissem. O BuzzFeed coletou comentários com histórias parecidas que chegam a beirar o bizzarro.
Katherine Groba relata que foi assediada por SMS por um funcionário do Poupa Tempo de São Paulo. “O cara tinha meu endereço, o endereço do meu trabalho, meus telefones… Fiquei apavorada”, diz em comentário:
Após registrar um boletim de ocorrência sobre o roubo de um celular, Claudia Strozzi começou a receber ligações do policial que fez o registro:
O caso mais assustador, no entanto, é relatado pela BBC Brasil — uma cliente da NET que prefere não se identificar afirmar ter sido atacada por um técnico da operadora.
O ataque aconteceu durante uma visita de reparos. “Ele tentou vir pra cima de mim. Ficava me rodeando pela casa, tentando me agarrar. Empurrei ele e o ameacei, porque tinha facas por perto. Ele saiu, mas ameaçou me ligar e voltar.” A cliente registrou um boletim de ocorrência, mas diz que a NET informou não ser possível identificar o ofensor, uma vez que ele era um funcionário terceirizado.
E o que fazer em casos assim?
A NET criou um canal de contato específico para casos desta natureza. A Vivo também já possui um canal igual, o csirt.br@telefonica.com. O Procon-SP recomenda o registro de um boletim de Ocorrência, e Sandra Weber, advogada especialista em direito digital, diz à BBC que é importante preservar provas do contato feito pelo funcionário para ajudar na perícia policial.
A advogada explica que é de responsabilidade da empresa proteger e preservar as informações dos clientes, orientando os funcionários da forma como elas devem ser usadas. “E eles [funcionários] não podem se valer de uma informação interna para fins não profissionais”, diz. Weber afirma ainda que as operadoras são responsáveis, sim, por ocorrências que envolvem empresas tercerizadas, já que o contrato é sempre firmado entre operadora e cliente. “O cliente pode nem saber que a terceirizada existe”, explica.
Weber diz que o surgimento de inúmeras histórias após a primeira denúncia demonstra a importância de não se manter calado em situações como esta. “Talvez nem a própria empresa tomava conhecimento de que eles ocorriam”, diz ele. [BBC e Buzzfeed]
Foto por Karly Domb Sadof/AP