O cofre do deserto: Como a Arábia Saudita pretende transformar o mundo do futebol
O futebol é indiscutivelmente o esporte mais popular ao redor do mundo, exercendo uma influência significativa em diferentes culturas e sociedades. Sua popularidade é evidenciada pela quantidade massiva de fãs, atraindo milhões de espectadores tanto em eventos ao vivo quanto por meio das transmissões televisivas.
A indústria do futebol também é robusta e abrange uma ampla gama de setores. Os clubes, muitos dos quais têm seguidores globais apaixonados, geram receitas substanciais por meio de vendas de ingressos, merchandising e acordos de patrocínio com diversas empresas de ramos diferentes, indo desde instituições financeiras até sites de cassino online com apostas esportivas.
Por ser um mercado de tanta relevância, o futebol atrai olhares de grandes empresas e times em países desenvolvidos, como os europeus. Já é comum ver os jogadores brasileiros deixando o país para se aventurar no Velho Continente.
No entanto, essa realidade agora está mudando com a entrada forte da Arábia Saudita na “jogada”. Atualmente, a Saudi Pro League, liga de futebol profissional do país, tem se tornado um atrativo destino lucrativo para renomados jogadores de futebol ao redor do mundo. Inicialmente, contando com a presença do talentoso jogador português Cristiano Ronaldo, a liga viu a chegada de outros nomes de destaque, como Karim Benzema, N’Golo Kanté, Sadio Mané, entre outros, que decidiram migrar para o cenário do futebol saudita.
Até o momento, apenas os quatro clubes locais amplamente reconhecidos (Al-Ahli, Al-Nassr, Al-Hilal e Al-Ittihad) já desembolsaram uma quantia superior a 224,6 milhões de euros, equivalente a mais de R$1,1 bilhão em investimentos.
O que nos ajuda a entender essa ascensão da economia do futebol árabe?
Os petrodólares, ou seja, dólares advindos da comercialização do petróleo, é a primeira coisa que nos vem à cabeça quando relacionamos Arábia Saudita com a economia. Boa parte dos investimentos em futebol vindos do país estão ligados ao setor petrolífero, de fato, mas isso já acontece há bastante tempo, por que só agora os clubes árabes estão demonstrando grande poderio financeiro para fazer grandes contratações?
A razão por trás disso está no fato de que o Fundo de Investimento Público (PIF), estatal da Arábia Saudita supervisionada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, assumiu a presidência dos quatro maiores clubes do país e como resultado, essas equipes têm uma fortuna para gastar nos próximos meses e prováveis anos. O propósito da família real na Arábia Saudita é aumentar a receita da liga profissional até chegar à cifra de US$489 milhões (R$2,3 bilhões) em 2030.
Esse aumento nas receitas são baseados em estimativas feitas pelo governo saudita, que pretende atrair os olhares do mundo para a sua liga através da contratação de grandes jogadores. Com o aumento da competitividade interna da liga muitos atletas podem se sentir tentados a jogar a liga árabe, além de, claro, dispor de um grande salário.
Esses investimentos darão resultado nos próximos anos?
Alguns números mostram que apesar do alto investimento no futebol por parte dos “quatro grandes”, a maior parte dos times ainda continua com uma média muito baixa de público. Na realidade, a liga saudita possui uma média de público menor do que a do Campeonato Paulista.
Nos jogos grandes, no entanto, as arquibancadas tendem a estar cheias na maioria das vezes. O que mostra que, apesar da média geral não ser animadora, os investimentos feitos já demonstram uma mudança discreta.
Quanto às transmissões de TV para outros países, os números são bem mais significativos. O interesse pela Saudi Pro League cresceu muito em países que antes não se importavam muito com o futebol árabe. Para se ter uma ideia disso, jogos que passaram em TV aberta no Brasil chegaram a atingir uma ótima média de audiência, como no caso da Band, que transmitiu o jogo entre Al-Hilal e Al-Fayha, conseguindo alavancar sua audiência em até 88% no estado de São Paulo, graças à partida.
Os investimentos são ainda muito recentes para que se tenha uma amostra grande de resultados. Mohammed bin Salman tem um projeto ambicioso em mente, mas também possui muitos recursos para torná-lo real. Resta esperar para saber se teremos um novo destino de grandes jogadores do futebol mundial, ou se a Europa ainda continuará reinando por mais alguns anos.