No futuro, tudo será conectado para criar cidades inteligentes e funcionais, mas teremos de deixar nosso sonho juvenil de ver filmes de ficção científica se tornando realidade: não espere um grande cérebro digital no comando de tudo. O enfoque na vida em metrópoles se justifica pelo ritmo de urbanização no planeta.
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Esta é a visão que a empresa francesa Schneider Electric apresentou sobre a integração entre tecnologias – com ajuda da internet das coisas – e qual o caminho que ela vê para essa indústria.
Pesquisas estimam que, até 2050, 2,5 bilhões de pessoas passarão a morar em cidades. É como se surgisse quase uma Hong Kong por mês. Esse processo cria uma necessidade imensa por infraestrutura: o crescimento da demanda por energia elétrica dobrará de ritmo até 2040 e haverá mais de vinte vezes a quantidade de aparelhos conectados até 2020.
Racionalização da energia
A produção de energia precisa aumentar, mas há margem para racionalizar seu uso já hoje. No Encontro de Inovação, organizado pela Schneider no início deste mês em Paris, a empresa disse que 82% do potencial de economia de energia em edifícios não é explorado.
Na indústria, esse índice fica em pouco mais de 50%. A operação urbana não seria melhor: 20% de desperdício no tráfego, 20% na distribuição e energia e 50% na distribuição de água. E isso com números de uma realidade europeia, americana e asiática.
“O mundo da energia está incrivelmente estável desde sua criação, mais de um século atrás”, comenta Jean-Pascal Tricoire, CEO da Schneider. “Nos últimos dez anos, as mudanças permitiram que pensemos o mundo em que vivemos de forma mais digital, descentralizada e descarbonizada. As mudanças são exponenciais.”
Jean-Pascal Tricoire, CEO da Schneider, durante encontro de inovação da empresa em Paris. Crédito: Ubiratan Leal
É aí que os executivos da Schneider falam sobre conectividade e objetos. Tricoire defende que a racionalização do uso se dará quando os aparelhos eletrônicos se integrarem a sistemas que otimizem seu trabalho, tanto no funcionamento quanto no consumo de energia. Esse raciocínio valeria para uma geladeira, e até para a operação dos diversos elementos que formam um sistema de transporte público.
“Em 2020, teremos quase mais equipamentos conectados em um edifício do que pessoas no planeta”, estima Philippe Delorme, vicepresidente executivo para edificações da Schneider. A referência diz respeito a edifícios corporativos, como a nova sede da Societé Générale, um dos maiores bancos da França.
“Tudo foi idealizado para ser mais eficiente, desde o consumo de energia até operação dos sistemas. Temos até um aplicativo desenvolvido apenas para o prédio trocar informações e comandos com os usuários”, comentou Sophie Février, vice-diretora do banco.
Essa mesma lógica se aplica aos sistemas de infraestrutura. Para que um mundo tão digital funcione, a energia elétrica precisa ser fornecida com segurança, precisão e na quantidade certa.
Mundo hiperconectado
A produção tende a ser descentralizada, com fontes diferentes se juntando. No entanto, isso criaria um desafio de regulação, para padronizar a qualidade da energia, e integração, para identificar mudanças na demanda e no comportamento e se adaptar a isso. “A flexibilidade da distribuição será mais importante do que a distribuição em si, porque ela permitirá a racionalização do uso da energia”, argumenta Rodolphe d’Arjuzon, chefe de pesquisas da Verdantix, empresa de consultoria e pesquisa na área de energia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
Tamanha conectividade poderia sugerir que tudo acabaria se concentrando em um local, que reuniria essas informações e distribuiria os comandos para os diferentes aparelhos, equipamentos ou sistemas. Mas isso é só para quem anda lendo muito Eu, Robô, de Isaac Asimov, ou viu Hal se voltar contra os astronautas em 2001 – Uma Odisseia no Espaço.
Questionado pelo Gizmodo Brasil sobre a possibilidade de tanta demanda por conectividade levar ao desenvolvimento de centrais, Jean-Pascal Tricoire foi claro. “Vejo milhões de elementos conectados, mas de forma descentralizada. Tudo conversando, funcionando organicamente. O desenvolvimento tecnológico segue mais por esse caminho. Não consigo ver uma grande cidade Big Brother, com algo ou alguém olhando e controlando tudo.”
O Gizmodo Brasil viajou a Paris a convite da Schneider Electric. Foto por Activedia/Pixabay.