Futuro do El Niño: corais podem ser a resposta para prever eventos com antecedência
Como será o futuro do El Niño? 2023 foi o ano mais quente já registrado, com quebras sucessivas de recordes de calor. Além dos efeitos das mudanças climáticas, o planeta estava sob a influência do El Niño nesse período.
Agora, pesquisadores buscam compreender o contrário dessa equação: as mudanças climáticas têm alterado os padrões dos fenômenos El Niño e La Niña?
Alguns pesquisadores veem indícios de “super” El Niños mais fortes e de La Niñas plurianuais nos últimos 80 anos. Contudo, a maioria dos cientistas acreditam que os registros de temperatura são insuficientes para bater o martelo em qualquer tendência.
E o curioso é que seres vivos, como plantas e corais, podem guardar registros sobre o aumento das temperaturas no planeta. Pensando nisso, um novo estudo analisou corais da era glacial à procura de respostas.
Entenda a pesquisa
Em Espiritu Santo, uma das ilhas de Vanuatu, arquipélago no Oceano Pacífico, há a comunidade de Tanovusvus. Ali, os recifes contam com corais antigos, preservados do período mais frio da Terra.
Há cerca de 20 mil anos, auge da última era glacial, o planeta era aproximadamente 6°C mais fria do que hoje. Com a água do planeta presa em mantos de gelo, o nível do mar ficou 120 metros mais baixo.
Os corais de Tanovusvus cresceram do mesmo jeito, captando as oscilações dos eventos El Niño e La Niña como sinais químicos dentro dos seus esqueletos. Depois, quando as camadas de gelo derreteram, eles ficaram submersos.
Para os pesquisadores, analisar esses corais pode revelar a frequência e intensidade dos fenômenos em períodos mais frios. Dessa forma, será possível saber como eles se comportarão no futuro, sob um extremo climático oposto, ou seja, quente.
Plano em prática
De acordo com a revista Science, dois pesquisadores já estão trabalhando nesta missão. Judson Partin, paleoclimatologista da Universidade do Texas, e Abel Kalo, coordenador de divulgação do Departamento de Meteorologia e Riscos Geológicos de Vanuatu, já fizeram perfurações em corais da ilha.
Em 2019, eles encontraram uma seção intacta de coral Porites, a melhor espécie para registro de clima antigo. Depois, também encontraram o coral Diploastrea, outro registrador climático.
Pelos cálculos dos cientistas, as amostras tinham cerca de 16 mil anos, ou seja, eram do momento em que as camadas de gelo começaram a derreter.
Contudo, até agora, os indicadores encontrados mostraram que, durante os períodos frios, os eventos El Niño e La Niña foram apenas ligeiramente mais fracos e menos frequentes do que os atuais.