Além de penteados ruins, jeans plissado, e 21 Jump Street, os anos 1980 nos trouxeram uma revolução tecnológica impressionante. A Nintendo mudou a sala de estar para sempre com a introdução do NES em 1985. IBM, Apple e o Commodore 64 trouxeram o computador pessoal para as nossas vidas. Até a internet teve algumas tentativas com o NFSNet e o nascimento dos hackers adolescentes.
• Só agora a Sony vai matar de vez as fitas de vídeo Betamax
• Como era realmente a qualidade de vídeo das fitas VHS?
Mas qualquer um que já tenha apoiado uma campanha no Kickstarter sabe que junto com o crescimento extraordinário no setor tecnológico também vem falhas extraordinárias. Alguns dispositivos foram destinados a falhar, seja por seus protótipos serem cheios de promessas sem substância, ou a tecnologia era cara de mais para funcionar comercialmente. Outros gadgets perderam espetacularmente para seus competidores e agora existem só nas notas de rodapé da história e avisos para qualquer um pronto para entrar em uma guerra de formatos. Alguns simplesmente não funcionavam muito bem.
Aqui estão sete dos maiores desastres dos anos 80 que os comentaristas da época ousaram chamar de revolucionário.
Filmadora BetaMovie Record
Todo mundo conhece, ou pelo menos ouviu falar, do Betamax: a alternativa de fita cassete ao VHS que o VHS matou. Mas não podemos chamar o formato Betamax de uma falha completa também. Por mais que tenha sofrido uma morte humilhante no mercado, algumas pessoas continuam a usar fitas Betamax no mundo profissional para gravar imagens de televisão com imagem de definição padrão, já que sua resolução é superior à do VHS. Tão superior que a Sony não parou de produzir fitas Betamax até 2015.
Mas o Betamax BetaMovie Record é outra história. Lançada em 1984 por U$1.596, a BetaMovie era um dos primeiros “camera-recorders”, um dispositivo impressionante que tinha o videocassete embutido na própria câmera, ao invés de ser uma caixa separada que você tinha que usar como uma bolsa.
De acordo com a revista Popular Science de junho de 1984, ele tinha “fidelidade superior” ao VHS, podia gravar três horas de vídeo em uma fita (o VHS só conseguia gravar 30 minutos) e tinha uma bateria que durava uma hora por carga. A revista também ressaltou que também tinha uma “agradável falta de fios pendurados entre o videocassete e a câmera”. Infelizmente também não tinha um visor digital. O que quer dizer que os videografistas que queriam checar o que haviam filmado precisavam levar a máquina de dois quilos e meio até uma TV e plugá-la.
O preço, peso e a falta do visor da câmera foram grandes empecilhos para as chances da BetaMovie conquistar os consumidores de vez, e a Sony silenciosamente encerrou a linha BetaMovie apenas três anos depois em 1987.
Disco Eletrônico de Capacitância
Nos anos 50, alguém teve a brilhante ideia de colocar vídeo em um disco de vinil. Então em 1964, como contado pelo Atlas Obscura, dois engenheiros do RCA, na época uma potência tecnológica, começaram a tentar transformar uma ótima ideia em realidade. Em uma edição de 1980 da New York a RCA chamou o novo formato de seu “Projeto Manhattan”. Levou 17 anos de desenvolvimento, mas finalmente a RCA lançou o disco eletrônico de capacitância em 1981. Foi parte de uma série de videodiscos que pretendiam competir com o mercado de VHS e Betamax. O video que tocava era de uma qualidade relativamente alta, e por ser um disco, não era necessário rebobinar.
Mas os DECs tinham alguns problemas. O controle remoto era enorme, assim como os discos. Os discos vinham em grandes e pesadas caixas de plástico para proteção. O tamanho e peso dos cassetes os tornava difíceis de armazenar. Os discos em si eram super delicados (precisando dos cassetes) e poderiam deixar de tocar se expostos a muita poeira. Eles também tinham a tendência de quebrar depois de tocar repetidas vezes. Como os meus pais aprenderam, isso não era nada bom se você morava em uma casa com duas meninas obcecadas com A Ratinha Valente.
Mas talvez o maior problema fosse o tempo de execução. Você conseguia apenas uma hora de cada lado do disco. Então no meio de um filme você precisava levantar, colocar o cassete, tirar o disco, virar o cassete e reinserir o disco.
O DEC falhou. Em 1984 só meio milhão de tocadores foram vendidos, a RCA foi forçada a anunciar o abandono do formato. O processo de desenvolvimento de quase 20 anos do DEC também foi um golpe para a RCA. Eles injetaram milhões de dólares no desenvolvimento do DEC, milhões que não tiveram como recuperar. Esse desastre contribuiu no fato da GE comprar e desmontar rapidamente a companhia em 1986.
Atari Touch Tablet
No final dos anos 70 e começo dos 80, a Atari era imensa. Por mais que a companhia tivesse feito muito sucesso nos videogames, ela estava cansada de apostar tudo neles. Eles lançaram seus computadores familiares de 8 bits em 1979, e tiveram sucesso o bastante na década seguinte para construir periféricos maneiros para os computadores.
E nenhum periférico era mais maneiro que o CX77 Touch Tablet. Em uma edição de 1984 da InfoWorld a publicação dizia “os usuários podem desenhar figuras e fazer diagramas” com o Touch Tablet. Era a promessa do Wacom dos anos 80, e a solução da Atari para o parecido KoalaPad. Em padrões modernos as capacidades dos dois tablets eram risíveis. Você conseguia só fazer formas básicas, e não era fácil de salvar ou transferir essas formas para que outros pudessem apreciar suas habilidades.
A frente do seu tempo de mais para ser de fato útil, tanto o Atari CX77 Touch Tablet quanto o KoalaPad tiveram mortes silenciosas conforme as vendas diminuiram e a era dos computadores 8 bits acabou. Agora eles foram exilados para as boas memórias dos nerds fãs da era dos 8 bits.
IBM PCJr
“Nunca antes na história dos computadores pessoais (uma história curta) um produto foi tão ansiosamente aguardado por tantas pessoas”, a Compute! Magazine disse nessa matéria sobre o primeiro PC da IBM em 1984. Naquele momento, a IBM era o maior negócio de computação do planeta, mas por mais que fosse o computador que estava em qualquer escritório da Terra, a IBM tinha presença zero na casa das pessoas, onde a Apple, Atari e Commodore reinavam.
A mera noção de um computador pessoal da IBM fez suas ações subirem, e mandou curiosos e mal informados consumidores para as lojas. Então a IBM foi lá e fez um computador “acessível”, o IBM PCJr.
Infelizmente o PCJr lançou quando os preços dos computadores estava muito baixo. O PCJr custava U$ 670 a versão barata com quase nenhum periférico e por U$ 1.270 a versão “boa”. Por mais que sejam preços baixos em 2017, eles eram, em alguns casos, três vezes mais caros do que outros fabricantes de PC. O PCJr também tinha um teclado ruim, e sofria de algum ódio por parte da comunidade de jornalismo tecnológico da época, péssimas relações públicas. Steven Levy, então na Popular Computing, disse “a máquina tem um certo cheiro de morte”.
Todos esses problemas juntos criaram um desastre total, um dos maiores dos computadores pessoais, e em 1985, a IBM havia descontinuado seu pequeno PC bebê.
Kodak Disc 4000
A RCA não foi a única companhia com a brilhante ideia de colocar uma midia que não era música em discos. Em 1982, a Kodak introduziu filmes em disco e uma série de câmeras como a Kodak Disc 4000. Ao invés de rolos de filme, o sistema da Kodak usava filmes em disco que pareciam os discos ViewMaster. Cada filme em disco continha 15 negativos e uma faixa magnética para que as configurações da câmera ficassem gravadas, e por causa do formato curvo do disco ser menos substancial do que o filme bem enrolado em rolo, não havia necessidade de pesadas placas para forçar o filme em uma superfícia lisa quando o filme era revelado.
Melhor ainda, pela natureza dos discos a câmera podia ser muito finas e pequenas, e as lentes não precisavam sair para fora. Isso fez as câmeras de filme de disco ótimas para viagens. Mas os negativos em si eram muito pequenos. Tão pequenos que a qualidade das fotos era ruim. Muito, muito ruim.
“Todas as fotos casuais que as pessoas querem ele tira rapidamente nessa caixa da era espacial” disse a Popular Photography em 1982. Mas a publicação também notou que os consumidores “podem se arrepender” do formato dado o tamanho do negativo e a qualidade das imagens que eles produzem.
Consumidores concordaram e a Kodak rapidamente aprendeu que as pessoas preferem boas fotos a câmeras portáteis. Em 1984 a Kodak Disc 4000 tinha morrido. Em 1988 a Kodak parou de fabricar câmeras de filmes em disco completamente, apesar de continuar a produzir filme para as péssimas fotos até 1999.
Macintosh Portable
Tem uma razão muito boa para o primeiro PC portátil da Apple, o Macintosh Portable, ter sido um grande desastre. Não teve nada a ver com a Apple em si, que tinha grandes sucessos na época com a linha Macintosh. E não tinha nada a ver com a potência da máquina. Em uma edição de 1989 da Computerworld disseram que o Portable era “trabalho de primeira linha” e que o LCD era “fácil de enxergar”.
O problema com o Macintosh Portable era que era uma máquina de sete quilos que começava em U$ 6.500 e precisava que a bateria estivesse carregada para funcionar, mesmo quando plugado na tomada.
Então não era barato nem portátil. Era caro e pesado e consumia muita energia, e por mais que os críticos gostassem muito da máquina, os consumidores não curtiram muito, o que levou à sua descontinuação dois anos depois em 1991.
O Portable foi o primeiro de uma série de péssimas apostas de design da companhia. Por mais que a Apple tenha sobrevivido ao desastre do Macintosh Portable intacta e depois tenha produzido o bem sucedido PowerBook, ela também produziu o Newton, imediatamente após matar o Portable. Como o Portable, o Newton era um dispositivo potente que parecia, de alguma maneira, um pouco a frente do seu tempo. Diferente do Portable, ele ajudaria na quase falência da companhia.
Coleco Adam
Muitos dos computadores Coleco feitos nos anos 80 eram ótimos. Mas o Coleco Adam não estava entre eles. Anunciado como “o conceito mais revolucionário em como projetar e vender um computador pessoal” pela Popular Mechanics em 1984, ele era ostensivamente fantástico. Por ele ter especificações boas e um ótimo preço, ele foi considerado uma alternativa viável ao IBM PCJr. Infelizmente, ele também tinha tecnologia fundamentalmente comprometida que costumavam ignorar nos anos 80.
A coisa criava uma onda eletromagnética sempre que era ligada. Como era nos anos 80 as pessoas não estavam muito preocupadas com proteção eletromagnética, particularmente os fabricantes de mídia gravável. O problema é que a mídia gravável dos anos 80 precisava de imãs, e um imã de geladeira, ou um onda eletromagnética, poderia apagar essa mídia.
Então sempre que o computador era ligado você corria o risco de apagar as mídias nele, ou próximas dele. Isso claramente, não era bom. E é por isso que a Coleco acabou com o Adam em 1985, menos de um ano e meio depois de seu lançamento.
Seiko UC-2000
Nem a Apple, nem o Google nem o Pebble podem dizer que fizeram o primeiro computador de pulso, apesar de qualquer uma dessas companhias poderem humilhar o relógio que tem esse título.
Olhando por cima, as capacidades do Seiko UC-2000 parecem incríveis, até para os padrões de hoje em dia. O cerne do dispositivo estava em um relógio que você podia carregar por aí para mostrar a hora, mas se você plugasse ele num teclado de pulso bem do esquisito ou colocasse ele na imensa doca de desktop, você podia adicionar documentos de texto, fazer cálculos, ou até fazer alguns comandos de BASIC na minúscula tela.
Por mais que fosse barato para os padrões de hoje em dia U$ 230, também era muito feio. Tão feio que a Seiko demorou para levar o UC-2000 para os EUA.
A Popular Science de 1985 fez um review particularmente pesado: “Apesar de ser um brinquedo atraente e esperto, o UC-2000 funciona muito mal como computador, mesmo comparado a modelos portáteis de U$ 100. É extremamente lento, e se você achava que o teclado do PCJr era ruim, a Seiko conseguiu ir além”.
Ilustração: Elena Scotti/Gizmodo