‘Gás do riso’ pode ajudar no tratamento de depressão, revela estudo

Normalmente utilizado como anestésico, o gás óxido nitroso (N2O) pode ajudar pacientes com depressão severa
cilíndro de gás
Foto: Coleção do Grupo do Museu da Ciência / CC BY-NC-SA 4.0

Um novo estudo publicado na Science Translational Medicine (STM) indica que uma dose de gás hilariante ou gás do riso —  substância incolor e não inflamável, utilizada como anestésico em procedimentos dentário ou parto —  pode ajudar no tratamento de pessoas com depressão severa.

Foi estudando o óxido nitroso (N2O) há vários anos que Peter Nagele, pesquisador e anestesiologista de traumas da Universidade de Chicago, e seus colegas entenderam que o elemento poderia ser um potencial tratamento para a depressão.

O estudo, relativamente pequeno, recrutou 28 participantes em um design cruzado, que é quando todos os voluntários passam por cada uma das condições do ensaio e suas respostas são comparadas entre si (em oposição a dois ou mais grupos distintos que tomam a droga ou o placebo),

Os voluntários, que tiveram depressão em média por 17,5 anos, receberam três sessões de tratamento: uma em que inalaram uma dose de óxido nitroso de 50%; outra em que inalaram uma dose de 25% e, por último, respiraram oxigênio (o placebo). Posteriormente, os voluntários realizaram pesquisas para avaliar seu nível de depressão. 

Dos voluntários, 24 participaram de pelo menos uma sessão de tratamento e 20 fizeram todos os tratamentos. Como resultado, a equipe descobriu que as pessoas, em média, experimentaram uma melhora maior nos sintomas de depressão quando inalartam o gás do riso em qualquer dose, comparado ao momento que inalaram o placebo (com base na pesquisa primária que completaram) – uma melhora que durou até duas semanas . Eles também descobriram que ambas as doses pareciam proporcionar alívio semelhante, mas que as pessoas eram mais propensas a sentir efeitos colaterais como dores de cabeça, náuseas e vertigens com a dose maior.

“Tudo começou com a observação de que a cetamina, um anestésico diferente com propriedades mecânicas semelhantes ao óxido nitroso (provavelmente via bloqueio do receptor NMDA, um aminoácido que tem funções neurotransmissoras de cognição e memória, por exemplo), foi considerado um antidepressivo rápido que também funcionou em pacientes com depressão resistente ao tratamento”, disse Nagele ao Gizmodo em um e-mail. “Ao conectar esses pontos, formulamos a hipótese de que o óxido nitroso também pode ser um antidepressivo.”

A princípio, a pesquisa inicial sugeriu que inalar o equivalente a uma hora de óxido nitroso, misturado a uma concentração de 50% com oxigênio, poderia ter “efeitos antidepressivos rápidos e marcantes” em pacientes com depressão resistente ao tratamento. Este novo estudo publicado na STM, contudo, é um ensaio controlado de Fase II do tratamento. As fases dos testes, geralmente, são usadas ​​para descobrir a eficácia e a segurança de uma droga em potencial, muitas vezes testando diferentes doses.

As descobertas são baseadas em um tamanho de amostra muito pequeno, então ainda não dá para apostar muitas fichas. Mas em outra pesquisa de Nagale sugeriu que, para algumas pessoas que não responderam a outros tratamentos, o gás do riso pode desencadear uma recuperação profunda. Em pelo menos um caso, publicado no ano passado, um paciente com depressão severa parecia experimentar uma remissão completa após uma única sessão de óxido nitroso a 50% – a remissão durou um mês depois da aplicação. Uma forma de cetamina também se tornou um tratamento para depressão aprovado pela agência regulatória dos Estados Unidos (FDA), aumentando ainda mais as esperanças de que o óxido nitroso possa ser levado a sério como um antidepressivo.

Nagale e sua equipe estão planejando se unir a outros pesquisadores para conduzir estudos maiores em vários locais (uma forma importante de mostrar que uma droga realmente funciona), enquanto tentam estudar exatamente como ela parece estar afetando positivamente o cérebro de pessoas com depressão. Mas é provável que o futuro desse tratamento dependa de financiamento público e não comercial, disse Nagale, apontando para o exemplo da cetamina.

Alguns médicos e pacientes vinham usando cetamina genérica, administrada por via intravenosa (injeção), como um tratamento experimental contra a depressão há anos. Mas a Johnson & Johnson não financiou testes clínicos caros para garantir a aprovação da cetamina como tratamento para depressão; em vez disso, desenvolveu uma forma patenteável sob a forma de spray nasal, chamada escetamina

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Todavia, apesar de ter efeito positivo, esse tipo de comercialização não é possível utilizando o gás do riso, de acordo com Nagale. Para ele, “é improvável que uma empresa farmacêutica tenha interesse, já que o óxido nitroso não tem comprovação e não há nenhum semelhante; pode precisar de financiamento do Instituto Nacional de Saúde (NIH em inglês) e de investigadores acadêmicos assumindo a liderança”, finaliza.

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