“GeekAção” leva cultura a mais de 50 mil jovens carentes no Sana 2024
Ao longo dos 20 anos do Sana 2024 — o maior evento de cultura geek do Norte/Nordeste –, um dos projetos que mais relevantes é o “GeekAção”. A ação possibilita que jovens em situação de vulnerabilidade social tenham acesso à cultura. O Giz Brasil conferiu de perto em Fortaleza (CE) e conta essa história abaixo.
O GeekAção no Sana 2024
Na primeira parte do Sana, ocorrida no final de janeiro, o programa beneficiou cerca de 27 mil jovens. De acordo com Daniel Braga, fundador e diretor do Sana, desde seu início, mais de 1,2 milhão de pessoas já foram beneficiadas. Este número promete crescer ainda mais nos próximos anos.
Para esta edição de julho, Braga espera que mais 27 mil jovens sejam atingidos pelo projeto, totalizando 54 mil beneficiados somente em 2024.
Tudo isso é possível graças a uma parceria entre a FCNB (Fundação Cultural Nipônica Brasileira), Ministério da Cultura, Secretaria do Esporte do Ceará, Secretarias de Cultura, Juventude e Educação de Fortaleza, além das prefeituras de Maracanaú, Maranguape e do sistema Fecomércio.
Inspiração para o GeekAção
A dificuldade de acesso à cultura encorajou fundadores a buscarem parcerias para viabilizar o “GeekAção”. Historicamente, as populações mais carentes sempre tiveram dificuldade de acesso à cultura. O problema é ainda mais grave quando se trata de cidades localizadas fora da região sudeste do país. Além da escassez de opções, outro grave problema são os altos preços das atrações — algo que não acontece somente com os grandes eventos de cultura pop.
Um grande exemplo de programa cultural que está se tornado inacessível para grande parte da população brasileira são os cinemas. Os altos preços de ingressos, somados ao valor elevado de itens como os combos de pipoca e refrigerante, por exemplo, tem afastado cada vez mais o público. Na prática, isso tem contribuído para a crise no segmento, que segue preocupando o setor desde a época das restrições mais duras impostas no início da pandemia, em 2020.
O projeto faz parte da essência do festival que, de acordo Daniel Braga, “não é um evento realizado pela indústria e, sim, pelo povo”. Por este motivo, os organizadores do Sana valorizam tanto a participação popular. Seja frequentando o evento ou até mesmo oferecendo sugestões de atrações geeks que podem fazer sucesso com o público.
Como tudo começou
“No final de 2015, recebemos um e-mail de um professor da rede municipal. Era um professor dizendo que os alunos estavam fazendo um trabalho sobre o Sana e queria trazer esses estudantes ao evento. Eu fiz uma reunião com o ex-prefeito, o Roberto Cláudio, fui na Secretaria de Educação, e falei, olha, eu recebi esse e-mail, mas se eu só der os ingressos eles, provavelmente, não terão como vir. Não é só a questão do ingresso, tem também o deslocamento. E com isso, no início, fizemos um piloto com 600 alunos”.
O “GeekAção” surgiu como uma necessidade de adaptar o Sana à realidade do público cearense mais carente. Assim, começou como um projeto piloto que atingiu menos de mil estudantes da rede pública de ensino. “Um dos alunos pediu para tirar foto comigo e disse com uma verdade muito grande ‘a tia disse que o senhor nos deu os ingressos e esse está sendo o dia mais feliz da minha vida’”, afirmou Braga. Aliás, este foi o ponto de partida do programa que, hoje, é um tremendo sucesso.
A partir daí, o projeto cresceu gradativamente ano a ano. Atualmente, é uma das grandes ações de impacto social que o evento promove. Isso juntamente com o projeto de adoção de pets e a arrecadação de alimentos através do ingresso solidário — que posteriormente são revertidos para as populações mais carentes.
Um modelo a ser seguido
Diferentemente de outros grandes eventos de cultura nerd que temos no Brasil, o Sana conta, por exemplo, com muitos grupos de estudantes em excursões escolares, algo que tem bastante impacto no desenvolvimento destes jovens — que desde cedo têm oportunidade de acesso e consumo de cultura.
O objetivo dos organizadores do evento é seguir impactando mais pessoas através de projetos sociais. Além disso, servir de modelo para outras feiras do segmento que acontecem pelo Brasil inteiro. Daniel Braga também nos contou que em suas viagens pelo país isso já começou a acontecer.
O diretor do Sana afirmou que já começa a ver alguns programas implementados pioneiramente no evento da capital cearense inspirando organizadores de outros eventos brasileiros. “A gente começou a virar referência, isso eu acho muito bacana porque é isso o que nós queremos”.
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*O jornalista Vinicius Marques viaja a Fortaleza a convite da organização do festival