Ao estudar o genoma de mais de 5.000 samoanos, pesquisadores da Universidade de Pittsburgh descobriram um único gene que aumenta o risco de obesidade em uma pessoa em até 40%. Este gene – que aparece em um quarto de todos os samoanos – pode ter surgido na população conforme ela colonizou o Pacífico Sul.
• Centenas de genes continuam com vida mesmo alguns dias após a morte
• Ferramenta de edição genética foi aprovada pela primeira vez para uso em humanos
Como descrito na Nature Genetics, essa variante genética chamada CREBRF está associada a um aumento de 1,5% no Índice de Massa Corporal (IMC). Então, para uma pessoa com estatura média e 80 kg, esse gene corresponde a mais 4,5 kg. Como destacam os pesquisadores no estudo, o CREBRF promove um armazenamento mais eficiente de gordura e conta com “um tamanho de efeito muito maior do que qualquer outro variante comum de risco conhecido de IMC.”
Os pesquisadores da Universidade de Pittsburh, liderados por Stephen McGarvey, fizeram a descoberta ao verificar o genoma de milhares de samoanos. Essa população tem uma das maiores taxas de obesidade do mundo, um fato que levou os cientistas a conduzirem uma investigação genética.
Cerca de um quarto de todos os samoanos envolvidos no estudo possuem a variação genética, que foi associada a 30% ou 40% do aumento de chance de uma pessoa ser obesa em comparação com aqueles que não possuem o gene. Ao mesmo tempo, esse gene é virtualmente inexistente em populações europeias e africanas e ocorre em frequências bem baixas em asiáticos do leste.
“Apesar de termos encontrado a variação genética com um mecanismo biológico razoável, esta variação genética é apenas parte dos muitos motivos pelos altos níveis de IMC e obesidade entre samoanos,” destacou McGarvey em um comunicado.
Outros fatores incluem dieta e atividades físicas. De fato, a mudança global para comidas processadas ricas em calorias e estilos de vida mais sedentários contribuíram significativamente para as taxas elevadas de obesidade entre os samoanos. Mas esse novo estudo destaca que a genética também está trabalhando contra eles.
Este gene parece trabalhar ao fazer células armazenarem mais gordura e liberarem menos energia. Como Alice Klein destacou na New Scientist, é como “se as células estivessem tentando conservar a maior quantidade possível de combustível.” E de fato pode haver um bom motivo para que esses genes apareçam em níveis elevados entre samoanos. Tem a ver com a história de colonização das ilhas do Pacífico Sul.
A colonização do Pacífico Sul
Há cerca de 3.500 anos, ancestrais dos samoanos começaram a árdua tarefa de povoar as 24 grandes grupos de ilhas da Polinésia. O processo de colonização – um dos exemplos mais extremos de toda a história da humanidade – demorou possivelmente milhares de anos para ser concluído. “Eles precisaram resistir a grandes viagens entre as ilhas e depois sobreviver nessas ilhas,” disse, Ryan Minister, um dos coautores do estudo, à New Scientist.
Como Darwin destacou muitos anos atrás, a evolução exige escalas de tempo grandes. Mas em alguns casos, quando as condições ambientais são particularmente severas e desgastantes, processos selecionais aceleram ela – um fenômeno evolucional chamado “equilíbrio pontuado” pelo biólogo evolucionário Stephen Jay Gould.
O problema, no entanto, é que os samoanos não precisam mais desse gene. Isso explicaria porque até 80% dos homens e mulheres em Samoa estão acima do peso. “Os samoanos não eram obesos há 200 anos,” diz McGarvey. “O gene não mudou rapidamente – foi o ambiente nutricional que mudou.”
[Nature Genetics via New Scientist]
Imagem: TransPacificProject