De acordo com a NASA, o planeta já atingiu o aumento de temperatura de 1.1°C em relação ao período anterior às revoluções industriais. Dessa forma, o tempo para limitar que esse número chegue a 2°C está se esgotando rapidamente.
Com foco em conter o derretimento da camada de gelo da Antártida Ocidental, pesquisadores da Universidade de Berna estudaram a possibilidade de escurecer o sol. A técnica, na verdade, consiste no gerenciamento da radiação solar (SRM, na sigla em inglês).
Esse é um dos métodos discutidos para influenciar artificialmente o clima, que entra sob o guarda-chuva do termo geoengenharia. No entanto, a maioria dos cientistas climáticos tem sido crítica em relação a eles, devido aos altos riscos e às consequências imprevisíveis para as gerações futuras.
Escurecer o sol?
No estudo, publicado na revista Nature Climate Change, os pesquisadores investigaram a possibilidade de aerossóis introduzidos na estratosfera bloquearem a radiação solar da Terra. Para isso entender qual efeito tal medida teria na camada de gelo da Antártida, eles utilizaram simulações de modelos de gelo.
Em um cenário em que as emissões de gases do efeito estufa continuam acontecendo sem controle, o colapso da camada de gelo poderia ser adiado, mas não evitado. Já em um cenário de emissões médias, o SRM implantado até meados do século poderia se revelar uma ferramenta eficaz, podendo até impedir o colapso da camada de gelo.
Os efeitos colaterais da geoengenharia
No entanto, os resultados também evidenciaram que a influência artificial não funciona sem descarbonização. No artigo, os autores do estudo enfatizam que as “simulações mostram que a maneira mais eficaz de evitar o colapso a longo prazo da camada de gelo da Antártida Ocidental é a descarbonização rápida”.
Isso porque, para que a geoengenharia fosse bem sucedida, a intervenção teria que ser mantida sem interrupção por séculos. Ou seja, uma frota inteira de aviões voando a altitudes elevadas teria que espalhar milhões de toneladas de aerossóis na estratosfera continuamente.
Caso a intervenção fosse interrompida, a temperatura da Terra voltaria a subir rapidamente. Dessa forma, a medida poderia levar à desaceleração ou mesmo ao efeito contrário das medidas de proteção climática.
Além destes, outros efeitos colaterais ainda são pouco conhecidos, mas podem incluir uma mudança no regime das monções até alterações na circulação oceânica e atmosférica.
Por isso, pesquisadores alertam para os altos riscos de interferir no sistema climático e violar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O Artigo 2 do documento exige que seja evitada uma interferência perigosa no sistema climático.