Ciência

Gigante caranguejeira-rosa-salmão dispara cerdas contra os inimigos e foi uma das primeiras a serem retratadas no mundo

De coloração preta e rosada, Lasiodora parahybana possui cerdas que provocam coceira intensa nos predadores; seu primeiro registro foi em uma pintura de 1643
Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

Reportagem: Aline Tavares/Instituto Butantan

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Apesar do tamanho assustador de 20 cm, a aranha Lasiodora parahybana, popularmente chamada de caranguejeira-rosa-salmão, impressiona pela beleza de suas cerdas rosadas distribuídas pelo corpo preto. Considerada a maior aranha da Mata Atlântica, ela é nativa da região Nordeste do Brasil.

A espécie foi descrita em 1917, utilizando um indivíduo da Paraíba, pelo zoólogo Cândido Firmino de Mello Leitão, considerado o pai da aracnologia na América do Sul. Mas, curiosamente, o primeiro retrato dessa caranguejeira data de quase 300 anos antes: em 1643, ela já havia sido registrada pelo pintor Albert Eckhout durante a invasão holandesa em Pernambuco.

Reprodução da pintura de Eckhout, 1643, retirada de artigo do pesquisador do Butantan Rogério Bertani

Reprodução da pintura de Eckhout, 1643, retirada de artigo do pesquisador do Butantan Rogério Bertani

Assim como grande parte das caranguejeiras, a L. parahybana tem uma estratégia de defesa que vai além do veneno: ela esfrega seu abdome com as pernas e, dessa forma, lança cerdas urticantes no predador, provocando irritação e coceira muito intensas. Esse poder nem o Homem-Aranha tem!

A caranguejeira-rosa-salmão também possui outro tipo de cerda, as cerdas estridulatórias, que têm uma função semelhante à do guizo da cascavel: ao serem esfregadas, fazem um barulho que serve para afugentar predadores.

Para os humanos, ela não representa perigo. Inclusive, tem um comportamento bastante tranquilo: se locomove lentamente e na maior parte do tempo fica quietinha, na entrada de sua toca, esperando insetos ou pequenos lagartos, sapos e ratos passarem por ali. Seu veneno é capaz de paralisar esses animais, facilitando a alimentação.

Esse veneno é praticamente inofensivo para as pessoas. O problema mesmo são as presas grandes, que podem causar bastante dor em caso de picada. Mas não se preocupe: a caranguejeira só ataca quando se sente ameaçada. O importante é respeitar o espaço do animal e deixá-lo seguir seu ciclo. Afinal, por estar no topo da cadeia alimentar, ele tem um papel muito relevante no equilíbrio do ambiente onde vive.

O cuidado maternal também é presente na espécie. Uma fêmea pode ter cerca de mil ovos e sempre os envolve em um “saco” feito de teia, chamado ooteca, para ficarem bem protegidos. Os filhotes costumam ficar perto da mãe até a primeira muda de pele; depois, começam a se dispersar.

Quando jovens, essas aranhas são mais rosadas e vão escurecendo conforme ficam mais velhas. Assim como outras caranguejeiras, elas podem viver cerca de 30 anos. Das mais de mil espécies dessas grandes aranhas já descritas, cerca de 200 vivem no Brasil.

A L. parahybana habita predominantemente o interior das florestas, e é bem difícil avistá-la no meio urbano. Ela é mais ativa na época de reprodução que coincide com o período chuvoso. Quem quiser conhecê-la e ver toda sua beleza de perto, pode visitar o Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan.

CARANGUEJEIRA-ROSA-SALMÃO

Espécie: Lasiodora parahybana, do gênero Lasiodora e da família Theraphosidae

Onde habita: Mata Atlântica, na região Nordeste do Brasil

Características físicas: mede por volta de 20 centímetros e é preta com cerdas rosadas espalhadas pelo corpo

Alimentação: filhotes se alimentam de insetos; na vida adulta, chegam a comer pequenos lagartos, sapos e ratos

Curiosidades: é muito resistente, podendo viver até 30 anos, e lança cerdas urticantes para se defender de predadores

Esse texto foi produzido com a colaboração do aracnólogo Rogério Bertani, do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan.

 

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